Portas é um vírus da política
Infelizmente muitos portugueses têm memória curta. Por isso é que elegeram para presidente da República duas vezes consecutivas um tal de Aníbal
Como muitos pais também os meus me levaram ao circo quando era miúdo. Lembro-me que vibrava com os animais, em particular os leões e os tigres. Devo dizer que nunca achei muita piada aos palhaços. Aliás, nunca me faziam rir para espanto dos meus progenitores. Já andar no carro que seguia à frente das caravanas políticas era uma alegria. Adorava segurar a bandeira e ouvir a voz do meu avô nos altifalantes sob o tejadilho da Renault 4 L bem branquinha que o meu pai conduzia.
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Como muitos pais também os meus me levaram ao circo quando era miúdo. Lembro-me que vibrava com os animais, em particular os leões e os tigres. Devo dizer que nunca achei muita piada aos palhaços. Aliás, nunca me faziam rir para espanto dos meus progenitores. Já andar no carro que seguia à frente das caravanas políticas era uma alegria. Adorava segurar a bandeira e ouvir a voz do meu avô nos altifalantes sob o tejadilho da Renault 4 L bem branquinha que o meu pai conduzia.
E faziam-me sorrir mais os debates entre políticos na televisão do que os tais de foliões no circo. Para mim eles sim eram os verdadeiros palhaços com aquele esbracejar de braços e as altercações vocais. Aquela gente divirtia-me. Claro que na altura era inocente. Via as coisas de outra forma. Mas a verdade é que os anos foram passando e a ideia de associar a Assembleia da República ao Circo manteve-se. Não só porque é um espectáculo cómico como também tem semelhanças físicas, como a forma assim para o oval da estrutura onde o público fica numa espécie de galeria e os actores dão espectáculo lá em baixo, ao centro. E o conteúdo é um tanto semelhante. Ou seja, gesticulam em demasia e dizem muito pouco.
Não deveria ser assim e lamento chegar ao ponto de fazer este tipo de analogias. Isto porque considero a Assembleia da República uma coisa séria. Infelizmente parece que muitos dos que por lá andam não vêm a coisa da mesma forma. Parecem andar por interesse, carreirismo e “clubismo”. O que interessa é a defesa do seu partido e o resto passa assim um pouco para o secundário. Mas têm diferenças. Quando ouço os meus amigos de ambos os “clubes” percebo isso. E divido-os em três grupos.
Os à direita estão lá claramente para defender os interesses daquilo a que se pode chamar de “elite”. Gente de bem que insiste em querer manter viva essa coisa antiga que é a aristocracia. Ao centro estão os que buscam poder e influência. O vulgo “tacho”. São os mais instáveis e que mudam de opinião consoante o que lhes convém. Depois temos os de esquerda. Simpatizo com eles porque os acho os mais queridos. Cultos politicamente e crentes numa causa. Mas são como os britânicos que teimam em andar no lado contrário da estrada. Ainda não perceberam – ou não querem – que o mundo mudou e há que se fazer uma adaptação à realidade.
No entanto, e em todos eles (da direita à esquerda), existe mesmo quem queira fazer algo de diferente e lute para mudar a situação do país. Mas esses acabam, quase sempre, abafados. Uma pena.
Àparte a divagação e indo directo ao assunto e às notícias que me chamaram a atenção ao longo da semana devo dizer que todas elas andam em torno de um personagem muito conhecido dos portugueses. Falo do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas.
Este senhor faz-me sempre pensar, inevitavelmente, naqueles e-mails irritantes sobre produtos para crescimento do pénis ou crescimento capilar ou o que quer que seja que cancelamos constantemente mas que insistem em vir parar à nossa caixa de e-mail e à pasta do “lixo”. Queremos ver-nos livres deles mas nunca conseguimos. E, pelo menos para mim, é isso mesmo que ele é: um vírus da política. Ninguém gosta verdadeiramente do indivíduo, mas o homem anda sempre por lá e não nos larga. Acaba mesmo por ter sempre um lugar de destaque independentemente da porcaria que faça e mentira que diga.
Como tal não foi de estranhar a sua postura relativamente à Taxa Social Única dos pensionistas. Diz uma coisa num discurso pomposo e faz outra quando há que tomar uma posição séria. É o senhor do tal de “nim”. E como português com um pouco de bom senso e um número aceitável de neurónios isto incomoda-me. A mim e aos muitos pensionistas que, verdadeiramente, o vão sentir mensalmente.
E incomoda-me ainda mais porque sei que, dentro em breve, ele lá estará outra vez como um dos actores principais. É uma questão de tempo, como sempre. Infelizmente muitos portugueses têm memória curta. Por isso é que elegeram para presidente da República duas vezes consecutivas um tal de Aníbal. E por isso é que irão eleger outros que tantos no futuro. O que é uma pena e mesmo caso para dizer: “somos assim tão burros?”.