Estudo reitera haver consenso científico quanto ao aquecimento global
Em 12.000 artigos científicos avaliados, 4000 tomam posição e 97% destes corroboram a tese da culpa humana.
Publicado esta semana na revista Environmental Research Letters, o estudo baseou-se em cerca de 12.000 artigos publicados entre 1991 e 2011 em revistas com arbitragem científica, contendo os termos “aquecimento global” ou “alterações climáticas globais”.
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Publicado esta semana na revista Environmental Research Letters, o estudo baseou-se em cerca de 12.000 artigos publicados entre 1991 e 2011 em revistas com arbitragem científica, contendo os termos “aquecimento global” ou “alterações climáticas globais”.
Dois terços dos artigos (66%) tratam de temas relacionados com o aquecimento global, mas sem tomar qualquer posição sobre as suas causas. Dos restantes – ou seja, dos que tomam posição – 97% corroboram, directa ou indirectamente, a tese de que as actividades humanas são responsáveis por grande parte das alterações climáticas observadas nas últimas décadas.
Um inquérito conduzido em 2009 também chegara a um número semelhante: 97,5% dos climatologistas então ouvidos concordavam que as actividades humanas estavam a mexer com a temperatura média da Terra. Considerando todos os cientistas envolvidos no inquérito – e não só os climatologistas – a taxa caía para 82%.
Em 2010, o mesmo número voltou a aparecer noutro estudo: 97 a 98% dos climatologistas que mais publicam na área das alterações climáticas defendem a tese da influência humana.
O estudo agora publicado – de autoria de investigadores da Austrália, Estados Unidos, Reino Unido e Canadá – chegou mais uma vez aos 97%, por duas vias. Os cerca de 4000 estudos que tomam posição sobre as causas do aquecimento global foram classificados com base em conteúdos que permitissem dizer se defendem, rejeitam ou relevam dúvidas sobre aquela tese. Cada estudo foi classificado por duas pessoas diferentes.
Os próprios autores dos estudos foram também convidados a fazer o mesmo tipo de classificação. Neste caso, obtiveram-se respostas para cerca de 2100 estudos e o resultado foi o mesmo: em 97% dos casos o dedo é apontado às actividades humanas.
“Estes resultados são claramente consistentes com investigações anteriores”, afirma John Cook, do Instituto de Alterações Globais da Universidade de Queensland, na Austrália, num vídeo divulgado na Internet.
Cook está também à frente do site Skeptical Science, destinado a combater os argumentos dos chamados "cépticos” das alterações climáticas, que defendem posições contrárias às teses científicas vigentes sobre o tema.
A resposta dos “cépticos” não se fez esperar. Os populares blogues Watts Up With That? e JunkScience criticaram a ideia do consenso, quando dois terços dos estudos analisados não revelam qualquer opinião, acusando o artigo de praticar uma “matemática nebulosa”.
John Cook e os demais autores respondem antecipadamente no próprio artigo, dizendo que o facto de haver tantos estudos científicos que não mencionam as causas do aquecimento global era expectável e significa que esta dúvida não se coloca. “A ciência fundamental das alterações climáticas antropogénicas deixou de ser controversa entre a comunidade científica, e o debate remanescente sobre o tema foi desviado para outros tópicos”, justificam os autores.
John Cook acrescenta que é preciso aproximar o consenso científico da opinião pública, que nalguns países, especialmente nos Estados Unidos, ainda está muito dividida quanto ao tema. “Quando as pessoas compreenderem correctamente aquilo em que os cientistas estão de acordo, mais provavelmente apoiarão as políticas de mitigação das alterações climáticas”, afirma, no vídeo publicado no site Skeptical Science.
A tese da influência humana sobre o aquecimento global é aceite por praticamente todos os governos e por pelo menos 198 academias científicas, em todo o mundo, segundo uma lista compilada pelo governo do estado norte-americano da Califórnia.