Salário no Bangladesh vai aumentar após derrocada que matou mais de 1100

Valor mensal actual é de cerca de 29 euros e trabalhadores tentam subir para 78 euros.

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A última sobrevivente foi resgatada 17 dias depois e está a recuperar no hospital Andrew Biraj/Reuters

O executivo do Bangladesh vai reunir uma comissão de representantes das fábricas, líderes sindicais e elementos governamentais, para decidir as novas condições laborais dos trabalhadores. Uma promessa que tinha sido feita pela primeira-ministra do país, poucos dias após a tragédia.

Segundo o porta-voz do ministério do sector têxtil do país, Tarek Zahirul, citado pelas agências noticiosas internacionais, “a comissão terá três meses para deliberar sobre estas condições, mas o aumento do salário mínimo entrará em vigor com efeito retroactivo desde 1 de Maio”.

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O executivo do Bangladesh vai reunir uma comissão de representantes das fábricas, líderes sindicais e elementos governamentais, para decidir as novas condições laborais dos trabalhadores. Uma promessa que tinha sido feita pela primeira-ministra do país, poucos dias após a tragédia.

Segundo o porta-voz do ministério do sector têxtil do país, Tarek Zahirul, citado pelas agências noticiosas internacionais, “a comissão terá três meses para deliberar sobre estas condições, mas o aumento do salário mínimo entrará em vigor com efeito retroactivo desde 1 de Maio”.

Salário mensal de 29 euros
Os trabalhadores da indústria têxtil do Bangladesh têm o salário mais baixo do mundo, com 38 dólares mensais (cerca de 29 euros). O último aumento de salário no sector foi em 2010, quando passou para 21 dólares mensais (16 euros). Uma fonte do ministério de Têxteis adiantou que os trabalhadores pedem 102 dólares mensais (78 euros), escreve a Lusa.

De acordo com o últimos balanço, cerca de 2500 pessoas terão ficado feridas e 2437 terão sido resgatadas durante a primeira semana de operações de salvamento. Os mortos ultrapassam os 1100. O problema é que na realidade ninguém sabe quantas pessoas estavam nas fábricas no momento da derrocada, pelo que não é de excluir que até à total remoção dos escombros o número de mortos continue a subir.

Reshma, o milagre nos escombros
A última boa notícia tinha chegado na passada sexta-feira quando muito depois de terem sido dadas como terminadas as buscas de sobreviventes foi encontrada uma mulher com vida. Dezassete dias depois do acidente, Reshma, de 19 anos, foi resgatada sem grandes ferimentos e está a recuperar num hospital militar. Já nesta segunda-feira o exército do Bangladesh anunciou que até terça-feira dará por terminadas as buscas nos escombros do prédio de nove andares, sendo que a partir do momento em que for utilizada maquinaria pesada será muito difícil recuperar mais corpos.

Ao mesmo tempo, alguns países como o Canadá e marcas como a Primark disponibilizaram-se para criar medidas de apoio aos trabalhadores e familiares das vítimas do Rana Plaza, que funcionava na zona de Daca. A empresa irlandesa de roupa low-cost Primark anunciou nesta segunda-feira que está a criar novas medidas de apoio aos trabalhadores. Segundo o comunicado, citado pela Lusa, a marca irlandesa vai criar um “programa de reabilitação médica e profissional, gerido por Organizações Não Governamentais (ONG) locais e internacionais”. Este programa, sobre o qual a Primark vai dar mais pormenores nas próximas semanas, surge no âmbito das medidas de ajuda criadas aquando da derrocada.

A empresa tem vindo a contactar com os sindicatos e as associações de comércio e estabeleceu um acordo para o pagamento de indemnizações, “baseado nas normas internacionais de seguros e de direito laboral”, refere o mesmo comunicado. A ajuda às vítimas também tem sido realizada através da distribuição de alimentos, que está a ser feita a 750 residências por semana, valor que a empresa pretende aumentar para 1000.

Além da Primark, algumas companhias internacionais confirmaram que tinham fábricas a funcionar no edifício que ruiu, como as espanholas "El Corte Inglés" e Mango, a canadiana "Joe Fresh" e a francesa "Bon Marché".

Fábricas encerradas e mais vigilância
Este acidente voltou a chamar a atenção para as más condições laborais e de segurança dos trabalhadores de empresas têxteis no Bangladesh, que abastecem multinacionais ocidentais. Na quarta-feira, duas semanas exactas depois da derrocada, as autoridades anunciaram o encerramento, numa primeira fase, de 18 fábricas têxteis por razões de segurança. O Governo do Bangladesh decidiu, ainda, criar uma nova comissão para coordenar inspecções a perto de 4500 fábricas têxteis com o objectivo de detectar eventuais falhas de construção nas estruturas.

O Bangladesh é o país do mundo com os custos de produção mais baixos na indústria têxtil, o que leva empresas de todo o mundo, incluindo a China, a mudar parte da produção para aquele país, de acordo com a organização não-governamental de defesa dos direitos dos trabalhadores têxteis Clean Clothes Campaign (Campanha Roupas Limpas). O sector é fundamental para a economia do país, uma vez que representa 78% das exportações e dá trabalho a quatro milhões de pessoas.