Quarenta mortos em dois atentados na Turquia junto à fronteira com a Síria

O ministro dos Negócios Estrangeiros Ahmet Davutoglu garantiu que “aqueles que por qualquer razão pretendem trazer o caos externo para dentro do nosso país não ficarão sem resposta”.

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As bombas explodiram no coração da pequena cidade LALE KOKLU/AFP

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Os ataques, que não foram reivindicados, ocorreram ao início da tarde. Dois carros armadilhados explodiram num curto intervalo 15 minutos: o primeiro junto a um edifício que alberga serviços municipais, e o segundo em frente do posto do correio. “Os dois prédios colapsaram, e ao lado os outros edifícios, os vidros das janelas, os automóveis na rua, foi tudo destruído, ficou tudo a arder. O cenário era horroroso”, relatou à CNN Abu Marwan, um residente na pequena cidade do sul do país.

“Vi muitos mortos e muitos feridos”, acrescentou, dizendo que entre as vítimas do atentado havia vários cidadãos sírios (uma informação que também foi avançada pelo Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado em Londres). Segundo Marwan, os refugiados sírios corriam o risco de acções violentas de retaliação por parte da população turca. “As pessoas estão muito zangadas, já havia gente com paus na mão atrás dos sírios”, informou.

A Turquia já recebeu cerca de 190 mil sírios que escaparam da violência de mais de dois anos de guerra civil. Na província de Hathay, onde se situa a pequena cidade de Reyhanli, no Sul do país foram montados vários campos de refugiados, que terão acolhido entre 20 mil e 25 mil pessoas.

A imprensa internacional dizia que Reyhanli está identificada como um dos principais pontos da rota de tráfico de armas e movimentações de dinheiro para dentro e fora da Síria, que é utilizada tanto pelas forças do regime como pelos grupos da oposição – a crescente população de refugiados impede que se distingam uns dos outros.

O vice-primeiro-ministro notou que, mesmo fora do país, os refugiados sírios continuam a ser um “alvo do regime” e considerou que as explosões em Reyhanli “não foram uma coincidência”: “Pensamos que os serviços secretos e as organizações armadas [da Síria] são os suspeitos do costume no planeamento e execução deste tipo de ataques.”

O Ministério do Interior fez saber que será realizada uma apurada investigação e que só mediante as suas conclusões serão equacionadas as medidas a tomar pelo Governo de Ancara. O caos da Síria já tinha levado a um reforço de tropas nas bases militares mais próximas da fronteira e à requisição do apoio logístico da NATO, que instalou dispositivos antimíssil perto da Síria. A partir de Berlim, o ministro dos Negócios Estrangeiros Ahmet Davutoglu garantiu que “aqueles que por qualquer razão pretendem trazer o caos externo para dentro do nosso país não ficarão sem resposta”.

O atentado na Turquia pode diminuir a boa vontade internacional na discussão de uma solução pacífica para a crise da Síria. O processo diplomático foi reatado na semana passada em Moscovo, com os EUA e a Rússia a acertarem a realização de uma conferência internacional. Mas, uma fonte do Kremlin admitiu que os dois países ainda não tinham concordado sobre a lista de participantes na reunião, e lançou dúvidas sobre a celeridade do evento, que já não deverá acontecer este mês.