Mulheres rezaram com xaile, pela primeira vez, junto ao Muro das Lamentações

Ultra-ortodoxos presos por contestarem possibilidade das mulheres envergarem indumentária reservada aos homens.

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Há 20 anos que o grupo activista Women of the Wall reivindica o acesso ao chamado Muro das Lamentações, considerado o local mais sagrado para a religião judaica, para orarem. E há duas décadas que frequentemente são presas.

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Há 20 anos que o grupo activista Women of the Wall reivindica o acesso ao chamado Muro das Lamentações, considerado o local mais sagrado para a religião judaica, para orarem. E há duas décadas que frequentemente são presas.

A justificação para a sua prisão deve-se ao facto de não seguirem os costumes ortodoxos. As mulheres reivindicam o uso do xaile, destinado tradicionalmente aos homens, e a leitura dos rolos da Torah, o livro sagrado dos judeus. Estas suas reivindicações ofendem os fiéis ultra-ortodoxos que, sempre que as activistas aparecem para orar, as insultam e as agridem, atingindo-as com projécteis.

Em 2003, o Supremo Tribunal autorizou-as a rezar mas longe do muro, dos homens e respeitando a tradição ortodoxa. Uma decisão que nem sempre foi obedecida e, por isso, as mulheres eram detidas. Mas, no mês passado, uma decisão judicial permitiu-lhes rezar de acordo com os seus ritos e mais perto do muro. A ordem judicial cumpriu-se, pela primeira vez, nesta sexta-feira.
 
As mulheres chegaram com os xailes postos mas sob um forte dispositivo de segurança. Os homens vestidos de negro insultaram-nas, procuraram barrar o caminho às activistas do Women of the Wall e tentaram forçar a passagem para junto delas. Mas, desta vez, a polícia protegeu-as. Os manifestantes ultra-ortodoxos chamaram "nazis" aos polícias e nos confrontos dois agentes acabaram por sofrer ferimentos ligeiros. As autoridades prenderam cinco fiéis ultra-ortodoxos.

Depois de terminadas as orações, a polícia escoltou as mulheres até um autocarro que foi atacado por pedras.

"Fizemos uma oração histórica, apesar de ter sido dolorosa", confessou Shira Pruce, porta-voz do movimento, à AFP. "Estamos extremamente orgulhosas e felizes porque as nossas mulheres puderam rezar em liberdade e em paz", acrescentou, revelando que participaram nesta acção cerca de 400 militantes.

Antes das orações, os rabinos ultra-ortodoxos tinham apelado aos seminaristas para combaterem a acção das activistas e milhares encheram o espaço que estava reservado para elas. Por essa razão, as activistas rezaram na esplanada em frente ao muro e não junto ao muro. 

As activistas exigem um acesso igual ao dos homens e não defendem apenas o seu direito mas o de todos, incluindo os grupos mais liberais e os mais conservadores do judaísmo. Mas os ultra-ortodoxos entendem que as suas exigências são provocações.

O Muro das Lamentações é o local mais sagrado do judaísmo porque se trata do último vestígio do Segundo Templo, destruído pelos romanos em 70 d.C..