Ulrich diz que resolução de problemas não passa por investimento estrangeiro

Banqueiros dizem que ainda não há grande procura de crédito por parte das empresas.

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Só este ano o banco liderado por Fernando Ulrich pagou 920 milhões de euros Foto: Ricardo Brito

"Existe um défice de influência das empresas. As nossas autoridades falam muito nos benefícios do investimento estrangeiro", que trazem a tecnologia, o conhecimento, o know-how, etc, “mas não dá, não acredito nisso", disse Ulrich. "Somos nós, os que cá estamos, que temos de dar o tiro de partida”. E voltando-se para os empresários presentes na sala, pediu que assumissem uma voz e a força que têm "pois sem isso o país não vai a lado nenhum".

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"Existe um défice de influência das empresas. As nossas autoridades falam muito nos benefícios do investimento estrangeiro", que trazem a tecnologia, o conhecimento, o know-how, etc, “mas não dá, não acredito nisso", disse Ulrich. "Somos nós, os que cá estamos, que temos de dar o tiro de partida”. E voltando-se para os empresários presentes na sala, pediu que assumissem uma voz e a força que têm "pois sem isso o país não vai a lado nenhum".

Apesar de dizer que se caminhou muito em termos de ajustamentos financeiros no país, assegura que os problemas de fundo permanecem. "Quem tem a chave para os resolver são as empresas. Chegou a altura de começarem a ter uma voz mais forte e decisiva no futuro do país pois quando se fala nos cortes todos são afectados, mas quando se fala de investimento, são menos os portugueses que podem intervir."

O banqueiro considerou que tem de se evitar que aconteça no país o que se passou em Chipre. "Os consumidores têm de escolher bem os bancos e os bancos têm de assegurar que têm capital suficiente e rentabilidades com alta qualidade dos activos" No entanto, diz que há condições para assegurar que o caso cipriota não se repetirá em Portugal devido "à qualidade dos activos".

“As PME que se recapitalizarem deveriam ter um incentivo por parte do Estado que poderia passar, por exemplo, por uma redução do IRC”, sugeriu, por seu lado, Nuno Amado, CEO do BCP, lembrando que as PME melhor capitalizadas beneficiam de melhores condições de financiamento.

“A desalavancagem da economia portuguesa e logo da banca vai continuar ainda que de forma gradual”, considera o responsável do BCP. “Não podemos cometer os mesmos erros do passado mas apostava que, se as condições políticas nacionais não se alterarem e se não se registarem percalços em termos europeus, no final do ano a situação do financiamento da economia tenderá a normalizar-se”, acrescentou.

Nuno Amado defendeu ainda que seja dada a possibilidade às empresas de poderem reduzir os salários de forma temporária durante um período em que tenham de reduzir custos, de forma a preservar algum emprego.

 “Sou dos que defende que a forma como programa de intervenção e de ajustamento foi desenhado e implementado para a economia portuguesa numa das suas componentes, que é a desalavancagem da economia, do Estado, das empresas e das famílias” foi errado, defendeu, por sua vez, João Costa Pinto, vice-presidente da CIP

Costa Pinto notou que o “ritmo e a intensidade com que foi desenhado veio criar dificuldades aos dois outros eixos do programa – a consolidação das finanças públicas e as reformas estruturais e de competitividade da economia portuguesa”.

Para o ex-presidente da Caixa de Crédito Agrícola, “a desalavancagem da economia portuguesa já se concretizou em grande parte” só que, neste momento, ainda não existe procura de crédito “mas estão criadas as condições para que, de forma gradual, esta situação se altere”.

“O que os empresários me dizem é que não investem, não por falta de crédito ou porque os juros estão altos, mas porque não existe mercado. É isto, pelo menos, o que me dizem”, afirmou José Matos, CEO da Caixa Geral de Depósitos.

Matos explicou ainda que “embora a evolução do crédito esteja a cair, verifica-se uma evolução diferenciada no segmento das empresas, com o crédito às exportadoras a aumentar”. Esta é uma “boa notícia”.

Matos garantiu ainda que a CGD não financia sem “uma avaliação do risco” muito estrita.

O presidente do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado, voltou a mostrar-se contra a elevada carga fiscal para as empresas em Portugal e diz que é necessário dar uma perspectiva diferente aos investidores neste domínio.

"É bom perguntar-nos porque é que os irlandeses durante a fase de negociação com a troika se bateram tanto por manter o nível do imposto sobre as empresas tão baixo. (...) Temos hoje o IRC 50% acima da média europeia, isso não é, de modo algum, um factor de atractividade", afirmou o presidente do BES, citado pela Lusa.

“Hoje todos nós, quer os que estiveram deste lado da mesa, que os que estiveram a assistir chegaram a um consenso: Não é possível adiar o imperativo do crescimento”, defendeu António Saraiva, presidente da CIP, dirigindo-se ao ministro das Finanças, presente na sala. Antes de concluir a sua intervenção, o responsável deixou um aviso: “É preciso que o poder político” entenda esta mensagem.

Notícia actualizada às 18h07. Acrescenta outras declarações feitas durante a conferência e altera título