Kenneth Rogoff defende perdão parcial das dívidas soberanas da periferia europeia

Aquele que é conhecido como o “pai das políticas de austeridade” responde à polémica do erro do excel.

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O economista de Harvard, visto como o “pai das políticas de austeridade”, seguidas por vários governos em todo o mundo, escreve num artigo publicado no New York Times que “em alguns casos” está de acordo com “propostas mais radicais, incluindo a reestruturação da dívida (um termo polido para incumprimento parcial), tanto de dívidas soberanas como privadas".

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O economista de Harvard, visto como o “pai das políticas de austeridade”, seguidas por vários governos em todo o mundo, escreve num artigo publicado no New York Times que “em alguns casos” está de acordo com “propostas mais radicais, incluindo a reestruturação da dívida (um termo polido para incumprimento parcial), tanto de dívidas soberanas como privadas".

Num artigo que assina com Carmen Reinhart, e em que os dois autores respondem à polémica do erro de cálculo detectado num dos artigos académicos que mais consistentemente sustentou as políticas de austeridade decididas por vários governos em todo o mundo, o ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional defende que reestruturações como essas ajudaram a resolver o problema da escalada das dívidas soberanas durante a Primeira Guerra e a Grande Depressão”.

“Defendemos desde há muito tempo o perdão parcial das dívidas soberanas, assim como da dívida sénior da banca, de países da periferia da Europa (Grécia, Portugal, Irlanda; Espanha) para libertar o crescimento”, afirmam.

É também dado adquirido para Rogoff e Reinhart que “é difícil o corte da despesa em paralelo com a subida de impostos em economias de fraco crescimento e com grande desemprego”, sublinham.

“A austeridade raramente funciona sem reformas estruturais – por exemplo, mudanças nos impostos, regulação e reformas do mercado de trabalho – que, se mal desenhadas, podem atingir de forma desproporcionada os mais desfavorecidos e a classe média”, acrescentam os economistas.

“Concordamos que o crescimento num contexto de dívida pública elevada é um objectivo esquivo. Sabemos que é difícil o corte da despesa pública em paralelo com a subida de impostos em economias de fraco crescimento e com grande desemprego”, dizem ainda os “pais da austeridade”, para sublinharem que “sempre aconselharam” que se evitasse a “retirada demasiado rápida dos estímulos orçamentais [à economia], uma posição idêntica à da maioria dos economistas mais reputados”.

Em resumo, dizem os economistas, “muitos países estão confrontados com dívidas soberanas muito altas, de acordo com os standards históricos”, especialmente quando entram em jogo os serviços nacionais de saúde ou reformas e sustentabilidade dos sistemas da segurança social. “A solução destes fardos com a dívida normalmente envolve a transferência, muitas vezes dolorosa, de aforradores para credores. Não vivemos tempos diferentes e esta última polémica académica não deve desviar a nossa atenção desse facto”, concluem.

Rogoff e Reinhart assinaram em 2010 um trabalho académico que sustentou as políticas de austeridade decididas em vários países, ao estabelecer uma relação com efeito negativo entre endividamento público e crescimento económico.

Esse trabalho foi posto em causa depois de terem sido encontrados erros nos cálculos feitos em Excel pelos dois economistas. Um trabalho académico desenvolvido pelo estudante de doutoramento Thomas Herndon e pelos seus professores Michael Ash e Robert Pollin, da Universidade de Massachusetts, aponta falhas a Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff em "Crescimento em tempos de dívida" (2010), denunciando um erro na conclusão de que um elevado nível de dívida condena uma economia a um crescimento lento.

Reinhart e Rogoff afirmavam que os países com um rácio de dívida pública acima dos 90% do Produto Interno Bruto (PIB) assistem a uma contracção média das suas economias de cerca de 0,1% por ano.