Mário Soares diz que Portugal vive o “momento mais grave” desde o 25 de Abril
Soares diz que as “conquistas de Abril estão quase destruídas”.
“É o mais grave. Nunca houve tanto desemprego, tanta pobreza, tanta miséria e tanto desespero por parte da população. Este Governo tem que cair e espero que caia o mais depressa possível, pois está a matar o país com o neoliberalismo que exige estabilidade e pagamento à troika, súbdita dos mercados que querem ganhar dinheiro e não querem emprestar nada”, afirma Mário Soares numa entrevista à Agência Brasil e publicada hoje na edição on-line do Jornal do Brasil.
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“É o mais grave. Nunca houve tanto desemprego, tanta pobreza, tanta miséria e tanto desespero por parte da população. Este Governo tem que cair e espero que caia o mais depressa possível, pois está a matar o país com o neoliberalismo que exige estabilidade e pagamento à troika, súbdita dos mercados que querem ganhar dinheiro e não querem emprestar nada”, afirma Mário Soares numa entrevista à Agência Brasil e publicada hoje na edição on-line do Jornal do Brasil.
Para o líder histórico do PS não se trata de uma ajuda financeira por parte da troika, “mas sim o contrário” porque obriga Portugal a pagar juros “altíssimos” pelos empréstimos acrescentando que concorda com as posições que foram tomadas pela Argentina pelo Brasil, países confrontados com crises económicas e financeiras.
“Eu sou partidário da tese da Argentina e também do Brasil que quando estavam nessa situação disseram: ‘nós não pagamos’. Não pagaram e ninguém morreu por isso”, afirma Mário Soares.
Questionado sobre o Estado Social e as “conquistas de Abril” Soares respondeu que “estão quase destruídas”.
“O Serviço Nacional de Saúde quase desapareceu, há gente que não vai aos hospitais porque não tem dinheiro para pagar. As universidades, como as de Lisboa, do Porto, de Coimbra, Aveiro e do Minho, que eram reconhecidas pelo nível internacional, hoje não têm dinheiro. Os professores são obrigados a sair e a emigrar. As universidades estão aflitas”, diz o ex-Presidente da República.
Para Mário Soares, a situação actual não é comparável à crise financeira que se viveu em Portugal na década de 1980 quando era primeiro-ministro.
“Não há comparação. Eu era o primeiro-ministro (1983-1985) na primeira vez em que isso ocorreu. Nós tivemos uma dificuldade, veio o Fundo Monetário Internacional, não a ‘troika’, não fizeram nenhum espalhafato. Conseguimos dinheiro emprestado, sem grandes juros, e depois, ao fim do ano, nós pagamos os juros e acabou a história. Agora, estamos há dois anos com a política de austeridade, com a qual os mercados estão a encher-se de dinheiro às custas dos países que estão aflitos. É o que está a ocorrer na Grécia, na Irlanda e em Portugal; depois serão os espanhóis, os italianos e, mais adiante, os franceses”, afirmou Soares.
Na entrevista ao Jornal do Brasil, Soares critica ainda a falta de ideologias no continente europeu, assim como a falta de solidariedade entre os países da União Europeia.
“Os partidos que fundaram a Comunidade Económica Europeia foram de dois tipos: os democratas-cristãos e os socialistas (na Inglaterra e nos países nórdicos, os partidos trabalhistas, e na Alemanha, o Partido Social Democrata). Neste momento, não há nem partidos socialistas nem democratas-cristãos porque foram destruídos. O que há são partidos ultra reaccionários, a favor dos mercados. Os partidos socialistas e trabalhistas estão decapitados e os partidos democratas-cristãos, ainda mais”, acrescenta o fundador do Partido Socialista.