África do Sul: excesso de consumo é um bomba ao retardador

Crescente endividamento das famílias preocupa economistas.

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Neste país onde as desigualdades são das mais gritantes no mundo, vêem-se nos quarteirões mais ricos ou nas auto-estradas entre Durban, Joanesburgo e o Cabo uma proporção impressionante de BMW, Mercedes e mesmo Porshes ou Ferraris.

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Neste país onde as desigualdades são das mais gritantes no mundo, vêem-se nos quarteirões mais ricos ou nas auto-estradas entre Durban, Joanesburgo e o Cabo uma proporção impressionante de BMW, Mercedes e mesmo Porshes ou Ferraris.

Os centros comerciais estão abertos a semana inteira e as estatísticas são claras: o consumo das famílias não pára de crescer sem interrupções desde a recessão de 2009. É certo que a crise mundial se fez sentir no comércio grossista mas, mesmo assim, este cresceu 3,8% em 2012.

Nada disto seria problemático não fossem as estatísticas sobre o endividamento que alertam para uma situação que pode tornar-se muito perigosa. A relação entre a dívida e o rendimento dos sul-africanos já está nos 76%, nota John Loos, economista do First National Bank. E o Banco Central  sublinha que os pedidos de empréstimo aumentaram 12% entre Setembro e Dezembro de 2012.

Celia Mondi, uma enfermeira de 40 anos, representa todo um estrato da população que tem necessidade de pedir empréstimos apenas para fazer face às suas despesas, agravadas por um crescente endividamento. "As minhas economias desapareceram, não tenho escolha a não ser pedir dinheiro emprestado para satisfazer as minhas necessidades básicas", diz esta mãe solteira de dois filhos. "Quase todo o meu salário vai para pagar o meu cartão crédito, os meus empréstimos e os seguros."

As dificuldades por que passam pessoas como Mondi são precisamente as preocupam os economistas. O caso desta representa a nova classe média negra, que se tornou o motor do crescimento da África do Sul desde o fim do regime do Apartheid, em 1994.

É esta população que tem colhido os benefícios da transição para a democracia e que ganhou um nível de vida que era proibido aos negros antes da chegada ao poder de Nelson Mandela. Com hipotecas, crédito para a compra de automóveis e todas as outras formas de empréstimos.

Mas o sistema está no limite. A maioria dos que procuram empréstimos já não os conseguem em condições tão favoráveis como até agora e o crédito mal parado não tem cessado de aumentar: um quinto dos empréstimos já não é pago ao fim de três meses.

Além disso, o custo da energia, combustíveis e alimentos subiu nos últimos meses, apesar da inflação sul-africana permanecer contida em 5,9%. Mas os economistas prevêem que o limite de 6%, o objectivo definido pelo Banco Central, será ultrapassado no terceiro trimestre de 2013.

Particularmente a electricidade, muito barata durante muito tempo, viu o seu preço duplicar em quatro anos e, para os próximos cinco já está previsto um aumento de 8% por ano.

Desde Agosto de 2012 e da crise nas minas, o rand também caiu em relação às moedas de referência. De acordo com John Loos, o aumento das taxas de juros - a taxa situa-se actualmente nos  5% - requer, inevitavelmente, que os sul-africanos reduzam o seu nível de consumo. "A forma mais eficaz de reduzir a dívida das famílias é elevar as taxas de juros", disse o economista num relatório recente.

Mas com um crescimento do PIB de apenas 2,8%, muito abaixo de outros países emergentes, e a taxa de desemprego oficial de 25%, a margem de manobra para limitar o crédito é quase inexistente.