O Capital
Quando o cinema político era verdadeiramente activista - já lá vão uns 40 anos - Costa-Gavras era um dos mestres aclamados do género, e a dúvida é saber se hoje ele não é como o tio idealista que ainda acredita na solidariedade entre os homens e dá cabo dos almoços de família onde está presente o sobrinho capitalista (lugar comum que aparece, evidentemente, a dada altura em O Capital).
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Quando o cinema político era verdadeiramente activista - já lá vão uns 40 anos - Costa-Gavras era um dos mestres aclamados do género, e a dúvida é saber se hoje ele não é como o tio idealista que ainda acredita na solidariedade entre os homens e dá cabo dos almoços de família onde está presente o sobrinho capitalista (lugar comum que aparece, evidentemente, a dada altura em O Capital).
Paraíso a Oeste, o seu filme anterior, dava a entender que sim, mas O Capital reinstala a dúvida: é um thriller previsível mas bem gerido, que navega de modo algo calculista a onda da indignação mundial com o sistema bancário (pintado como um enorme e impiedoso mecanismo que já parece funcionar em moto contínuo).
Adaptado de um romance satírico de Stéphane Osmont, é a história de um jovem e ambicioso executivo (Gad Elmaleh, tão neutro que quase não existe, a substituir Mathieu Kassovitz) que se vê promovido a presidente de um banco em dificuldades e que percebe que tudo não passa de um jogo cínico onde quem mexe os cordelinhos quer que ele seja um mero peão. Há, é evidente, qualquer coisa de falsamente moralista em encher o olho do espectador com o luxo dos milionários enquanto se denuncia o seu comportamento pouco ético, e não sairemos de O Capital a saber algo que já não soubéssemos; mas mesmo um lugar-comum pode resultar quando apresentado com alguma convicção, e é o caso.