E o Óscar vai para o Sr. Mascarenhas!
Oscar Mascarenhas defende que "jornalista que vai para assessor não deve voltar". E o jornalista é obrigado a aceitar?
Há ideias um bocado serôdias e há ideais um bocado… serôdios. Numa recente crónica no "Diário de Notícias", Óscar Mascarenhas alinhava o promissor título: “Uma assessoria pode enriquecer a formação mas afeta a reputação”. O antigo dirigente do Sindicato dos Jornalistas defende, entre outras coisas divertidas, que “jornalista que vai para assessor não deve voltar. Nem deveria poder”. Antes disso, explica — centrando-se nos jornalistas que são requisitados para assessores pelos governos — que o problema é do “cheiro que trazem agarrado à roupa e que precisa de bom arejamento para voltar a ser vestida”.
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Há ideias um bocado serôdias e há ideais um bocado… serôdios. Numa recente crónica no "Diário de Notícias", Óscar Mascarenhas alinhava o promissor título: “Uma assessoria pode enriquecer a formação mas afeta a reputação”. O antigo dirigente do Sindicato dos Jornalistas defende, entre outras coisas divertidas, que “jornalista que vai para assessor não deve voltar. Nem deveria poder”. Antes disso, explica — centrando-se nos jornalistas que são requisitados para assessores pelos governos — que o problema é do “cheiro que trazem agarrado à roupa e que precisa de bom arejamento para voltar a ser vestida”.
Vamos por partes: como diz, e bem, o Sr. Mascarenhas, “o Estatuto do Jornalista impõe que, se voltar, e tem direito a fazê-lo […], está proibido, durante seis meses, de exercer funções na área em que trabalhava no seu órgão de informação do qual saiu para a assessoria”. Mas o plumitivo vai mais longe, ao querer dilatar para dois anos (!) o “período de nojo”. Arrisco um passo maior: e porque não uma “comissão de serviço” num ermo na Serra dos Candeeiros? Ou trabalhos forçados num “goulag”?
O jornalista faz, ainda, um outro exercício divertido: coloca os camaradas da casa onde trabalha (dez, mais concretamente) num saco de gatos. Então não é que, na “última sangria governativa”, esses mesmos dez elementos seguiram “com requisição” para serem “yesman”, como o próprio designa os assessores? E onde está a liberdade de escolha? Onde está a lei que confere liberdade de dizer “sim” ou “não” a quem é convidado para trabalhar para um qualquer Governo como assessor? Quem aceita suspender a carteira profissional para traçar um novo caminho, ainda que de forma provisória, passa a ser “inapresentável” ao público? É engano meu, ou um profissional de comunicação que honre esse nome sabe colocar-se no seu devido lugar e não vai fazer jornalismo sobre um assunto com o qual esteve comprometido?
O lugar é comum, mas convém aqui lembrá-lo: os maus profissionais existem em todo o lado. E se há quem esteja hoje “acoitado” no Governo, depois de ontem ter fustigado o seu “querido amigo Alfredo Maia” por este ter “emprestado o seu nome a uma lista partidária (é melhor dizer comunista, para se perceber toda a história)”, o melhor é revelar quem. Para que o anátema de oportunista invertebrado (palavras minhas) não seja espalhado aos sete ventos. E quanto ao terem lugar garantido quando regressarem, isso resulta apenas do que está escrito na lei. Quanto a mensagem é má, não se deve matar o mensageiro…
Digo: uma assessoria não apenas enriquece a formação, como não tem de manchar a reputação. O crescimento profissional de um jornalista pode muito bem ser feito fora da redacção, fora da zona de conforto do local que lhes permite estar naquilo que acham ser o topo da pirâmide, percebendo assim que existem outras formas de ver a realidade, outras formas de ver o mundo.
Já agora: tem mesmo a convicção de que a tarefa de assessoria (política) “se aproxima mais da de capacho de semi-analfabetos ufanados pelo seu êxito no alpinismo partidário do que a de aconselhadores com conhecimento do mundo”? Ou aproveitou o espaço editorial que o "Diário de Notícias" lhe concede para mandar recados, essa tarefa tão nobre de “muitos” jornalistas?