Uma final a menos
Benfica derrota Sporting na Luz por 2-0 e mantém vantagem de quatro pontos sobre o FC Porto quando ficam a faltar quatro jornadas para o final do campeonato.
O favoritismo antecipado não ganha jogos. Nem o optimismo desmiolado. Jorge Jesus e Jesualdo Ferreira, treinadores experientes, cumpriram os seus papéis. Ambos sabiam quem era o candidato maior à vitória, mas só um o vocalizou, Jesualdo, a transferir a pressão para o lado benfiquista. Jesus sacudiu a responsabilidade, mas assumiu confiança. E o técnico “encarnado” tinha razões para isso. O Benfica é uma equipa consolidada, experiente e constante. O Sporting é uma equipa em formação e jovem, com tudo o que de bom e mau isso significa. Irreverente, sim, mas muito inexperiente.
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O favoritismo antecipado não ganha jogos. Nem o optimismo desmiolado. Jorge Jesus e Jesualdo Ferreira, treinadores experientes, cumpriram os seus papéis. Ambos sabiam quem era o candidato maior à vitória, mas só um o vocalizou, Jesualdo, a transferir a pressão para o lado benfiquista. Jesus sacudiu a responsabilidade, mas assumiu confiança. E o técnico “encarnado” tinha razões para isso. O Benfica é uma equipa consolidada, experiente e constante. O Sporting é uma equipa em formação e jovem, com tudo o que de bom e mau isso significa. Irreverente, sim, mas muito inexperiente.
Nenhum dos treinadores fugiu ao seu plano de ataque habitual. Jesus manteve os dois pontas-de-lança e lançou Gaitán, apesar das limitações físicas do argentino. Jesualdo foi apenas forçado a uma alteração, Miguel Lopes no lugar do lesionado Cedric, mantendo Dier a fazer dupla com Rinaudo em zonas mais recuadas do meio-campo e, muitas vezes, com as funções de terceiro central. No papel, o Benfica seria mais ofensivo, o Sporting seria mais de contenção.
O Sporting começou por mostrar a parte boa da sua juventude, a irreverência. Boa colocação no terreno gerava poder de antecipação e isso dava espaço para atacar. Logo aos seis minutos, uma bola ganha no meio-campo permite um contra-ataque perigoso em que Ricky van Wolfswinkel ultrapassa Garay em velocidade, mas o holandês demora muito a armar o remate e acaba por ser desarmado quando já tinha chegado à pequena área.
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Era pelo seu flanco direito que o Sporting criava mais perigo. No seu primeiro derby, Bruma, um jovem que começou a época na equipa B, entrou sem medo e fez o que quis de Melgarejo, sempre bem apoiado por Miguel Lopes. Mas com toda a sua técnica e velocidade, Bruma ainda é um miúdo de 18 anos e foi por isso que, aos 20’, quando tinha dois colegas mais bem posicionados numa jogada de contra-ataque em que o Sporting conseguiu superioridade numérica, fez várias fintas e acabou desarmado.
Os “encarnados” pareciam surpreendidos pela entrada do Sporting, sem conseguirem mostrar o seu habitual domínio ofensivo. Mas o Benfica é uma equipa madura, que faz bem a gestão do tempo e do esforço. E quando desenhou uma jogada ao seu melhor estilo, a bola entrou. Minuto 36’, os defesas “leoninos” param por alguns momentos, Gaitán avança pelo seu flanco, faz o cruzamento, Salvio aparece na pequena área e remata sem quaisquer hipóteses para Rui Patrício.
A experiência falou nitidamente mais alto. Depois do golo, o jovem Sporting desorientou-se e o experiente Benfica assentou, mas o jogo manteve-se eléctrico e vibrante, como um derby deve ser. O intervalo fez bem ao Sporting, que reentrou no jogo com a mesma dinâmica dos primeiros minutos, enquanto o Benfica continuou numa postura de contenção tranquila. Os “leões” tentavam, mas o caminho da baliza já era mais distante e acidentado. Aos 64’, Jesualdo mexe na equipa pela primeira vez, com duas substituições, uma delas por lesão, a de Dier pelo regressado Schaars. A outra era para tentar alguma coisa no ataque, Viola no lugar do desinspirado Capel.
Jesus também se mostrou cauteloso, abdicando de um dos seus pontas-de-lança, Cardozo, para reforçar o meio-campo com Ola John. Foi a decisão certa no momento certo. O Benfica recuperou algum do domínio e, poucos minutos depois, aos 75’, resolveu o jogo com mais uma acção que demonstra um colectivo pleno de confiança nas suas capacidades. A bola passa por Gaitán, Salvio e acaba em Lima, que faz o 2-0 num espectacular remate à meia volta, um golo que terá sido, seguramente, dos mais festejados na Luz esta época.
O Benfica ficava no seu terreno ideal, o de gerir uma vantagem relativamente confortável e só tinha agora de esperar pelas investidas cada vez mais desconexas e menos perigosas dos jovens “leões”, que mostravam muita vontade, mas cada vez menos critério e mais vontade de discutir com o árbitro. Os minutos esgotaram-se, João Capela apitou pela última vez, e o Benfica festejou mais uma prova superada, com um sabor especial, é certo, por ser contra o “velho” rival, mas os três pontos eram mesmo o prémio mais apetecido. Para os “encarnados, um empate era o mesmo que uma derrota. Para o título ainda faltam mais quatro finais, uma delas no Dragão.
FIGURA DO JOGO - SALVIO
Nos seus primeiros tempos na Luz, Salvio foi encarado com enorme desconfiança e levou bastante tempo a mostrar alguma coisa. Temia-se que a sua incompatibilidade com o futebol europeu fosse um problema crónico, depois de não ter explodido no Atlético de Madrid. Mas, a meio da época, o extremo argentino mostrou qualidade e a formação espanhola exigiu o seu regresso. Depois de uma época relativamente discreta no Atlético, o Benfica fez um investimento forte para o recuperar e o esforço financeiro tem dado frutos. Salvio tem sido um dos homens-chave nesta campanha do Benfica que tem tudo para ter um final feliz. Ontem, voltou a ser decisivo, com o golo que desbloqueou o jogo e ao estar envolvido na jogada que deu o passe decisivo para o espectacular remate de Lima. O argentino é daqueles jogadores que não engana: tem velocidade, técnica e muita apetência para o golo. Já está a dar retorno desportivo, pode muito bem dar um belo retorno financeiro a médio prazo se continuar a jogar assim.