Anúncio de novo programa de Matemática no Ensino Básico indigna docentes

A notícia foi recebida com enorme surpresa. Professores de matemática falam em "enorme vergonha".

Foto
Governo revelou um novo programa de Matemática no 1º ciclo Foto: PÚBLICO

A presidente da Associação Nacional de professores de Matemática (ANPM), Lurdes Figueiral, acusou esta terça-feira o Ministro da Educação e Ciência (MEC), Nuno Crato, de estar a fazer “retroceder 40 anos o ensino em geral e, em particular, o da Matemática”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A presidente da Associação Nacional de professores de Matemática (ANPM), Lurdes Figueiral, acusou esta terça-feira o Ministro da Educação e Ciência (MEC), Nuno Crato, de estar a fazer “retroceder 40 anos o ensino em geral e, em particular, o da Matemática”.

“O que se está a passar é uma vergonha”, disse, reagindo assim à notícia de que o MEC acabara de revogar, por despacho, o programa da disciplina para o ensino básico, substituindo-o por outro, que entra em discussão pública na próxima semana (altura em que será apresentado) e em vigor, nas escolas, em Setembro.

Sublinhando que estava a reagir “a quente” e “a título individual”, já que não reunira a direcção, Lurdes Figueiral recordou que o programa de Matemática homologado em 2007 “e aplicado progressivamente desde então só este ano foi generalizado a todos os alunos do 9º ano e tem dado bons resultados”. “Não há nada que justifique esta alteração, a não ser uma espécie de cruzada de um ministro que não é sequer matemático, mas sim economista, e que também parece não perceber de educação”, acusou.

Segundo o MEC, o novo programa vai “complementar as metas curriculares” cuja aplicação, este ano, lê-se no despacho, “teve resultados muito positivos nas escolas e nas turmas”. Tanto a actual como a ex-presidente da APM e especialista em Educação Matemática, Elsa Barbosa, desmentem que assim seja. “Não sei por onde andam as equipas do ministro: nas escolas onde vamos, as metas ou não estão a ser aplicadas ou estão a causar uma enorme confusão e estupefacção, por representarem o retrocesso ao ensino dos anos 70”, disse Elsa Barbosa.

“O antigo programa continuará a servir como documento de apoio nos anos para os quais as metas não são ainda obrigatórias”, esclareceu o Ministério da Educação referindo-se ao programa que está hoje em vigor nas escolas.

A notícia foi recebida com enorme surpresa por estas professoras e também, presume-se, pelo resto da comunidade educativa. Em Dezembro de 2011, por ocasião da apresentação da revisão da estrutura curricular, Nuno Crato afirmou que a revisão dos programas não seria para já, e disse, mesmo, não haver "nada pior do que mexer em tudo ao mesmo tempo". Voltou a dizer o mesmo em Janeiro deste ano.

No documento enviado pelo gabinete de imprensa do MEC, as considerações sobre o programa de Matemática são seguidas da afirmação de que que o grupo coordenador das metas curriculares "está actualmente a avaliar outros programas, que poderão também ser reformulados na sequência da elaboração das metas de cada disciplina.