Bandeiras republicanas e cartazes contra o rei nas ruas de Madrid
Dezenas de milhares de pessoas, incluindo muitos jovens, marcharam pela republica um ano depois da foto do safari no Botswana
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O diário Público sublinhou a presença de milhares de jovens na maior marcha, em Madrid: “cidadãos que cresceram como actores políticos num Estado democrático”, a quem nunca “ninguém perguntou se preferiam monarquia ou república”, mas que sempre ouviram que “Juan Carlos fez muito pela democracia” sem o terem visto. Jovens que “se fizeram adultos com os escândalos”.
Dezenas de milhares de pessoas marcharam no centro da capital numa iniciativa da Junta Estatal Republicana, que reúne dezenas de partidos (incluindo a Esquerda Unida) e movimentos. O coordenador da Esquerda Unida, Cayo Lara, defendeu um referendo sobre o Estado. “Não se trata só de mudar o chefe de Estado”, disse. “É preciso avançar na democracia, nos direitos, e tirar da Constituição o artigo 135 que garante o pagamento da dívida e não os direitos sociais dos cidadãos.”
O protagonista da manifestação foi o coronel Amadeo Martínez, o militar e historiador que em Março foi condenado por “injúrias ao rei” por causa de um artigo. Martínez é autor de vários livros sobre a Transição e o 23-F — o golpe de Estado fracassado de 1981, de onde vem grande parte da legitimidade da monarquia; Juan Carlos opôs-se e isso permitiu-lhe estabelecer a sua relevância.
Na edição de domingo, o El País publicou um artigo, O ‘annus horribilis’ começou a 14 de Abril no Botswana, a resumir as polémicas recentes que envolvem a Casa Real. A foto do rei a caçar no Botswana, numa altura em que Espanha estava perto de ter de aceitar um empréstimo externo, levou a um inédito pedido de desculpas do monarca e marca um antes e um depois. “Antes do Botswana era impensável abrir um debate sobre a abdicação e muito menos que fosse um deputado socialista, Pere Navarro, a fazê-lo”, escreve o jornal.
Já este mês, a infanta Cristina foi tornada arguida no caso de corrupção que envolve Iñaki Urdangarin, com a acusação a considerar que tinha de conhecer as actividades do marido. Depois disso, conclui o diário, “tudo parece indicar que para a monarquia espanhola o annus horribilis vai durar mais de 365 dias”.