Consórcio de empresas e universidades apresenta tecnologia de pagamentos móveis
O MobiPag foi desenvolvido em Portugal ao longo de dois anos anos e meio e destina-se a transacções de valor reduzido.
O sistema, chamado MobiPag, implica a instalação de uma aplicação nos telemóveis do vendedor e do comprador, através da qual a transacção é processada, e destina-se sobretudo a compras de valor reduzido, que os responsáveis definem como tendo um limite a rondar os 20 euros.
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O sistema, chamado MobiPag, implica a instalação de uma aplicação nos telemóveis do vendedor e do comprador, através da qual a transacção é processada, e destina-se sobretudo a compras de valor reduzido, que os responsáveis definem como tendo um limite a rondar os 20 euros.
A tecnologia permite aos vendedores disponibilizarem aos clientes um sistema electrónico de pagamentos com menos custos do que os terminais para cartões bancários, explica ao PÚBLICO Carlos Ribeiro, professor no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, uma das instituições envolvidas. Em vez de comprarem um terminal para a leitura de cartões, os comerciantes precisam apenas de instalar a aplicação no telemóvel. Para além disto, a plataforma disponibilizará alguns serviços adicionais, como a gestão de stocks e a possibilidade de sistemas de atribuição de pontos aos clientes em função das compras que fazem.
Para usar o MobiPag, porém, é necessário um equipamento com sistema operativo Android e que integre a tecnologia de comunicação a curta distância normalmente designada pela sigla inglesa NFC (Near Field Communication). São requisitos que afunilam o número de potenciais utilizadores. “Estamos a usar tecnologia de última geração, que ainda não é ubíqua”, admite Carlos Ribeiro.
Do lado do consumidor é preciso instalar no cartão SIM do telemóvel uma espécie de cartão bancário virtual, que fica associado a uma conta, na qual são feitos os débitos quando é efectuado um pagamento. Este cartão tem um pin, que pode ser usado como uma medida adicional de segurança para autorizar transacções (o processo de criação deste cartão virtual envolve o banco e o operador de comunicações de que o utilizador é cliente).
O projecto foi levado a cabo por um consórcio de que fazem parte as empresas tecnológicas Cardmobili, Creativesystems, Multicert e Wintouch, e a Portugal Telecom Inovação (o braço de investigação da PT). Do lado académico, juntam-se ao consórcio a Universidade do Minho, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e o Instituto Superior Técnico. Estiveram ainda envolvidos no processo a SIBS (empresa que gere a rede Multibanco), os CTT, os bancos Millennium BCP, BES, BPI e Caixa Geral de Depósitos, a MasterCard Europa e a Visa Europa e ainda os operadores Vodafone, TMN e Optimus. O MobiPag envolveu um investimento de aproximadamente 2,1 milhões de euros e foi financiado pelo QREN.
Os pagamentos através de telemóveis são comuns em muitos países em vias de desenvolvimento, onde frequentemente surgem como a única alternativa possível para transacções electrónicas, dada a inexistência de infraestruturas bancárias. Entre os países industrializados, o Japão é conhecido pelo grau de adopção relativamente elevado de pagamentos por telemóvel, nomeadamente nos transportes públicos. Na Europa, a tecnologia tem sido objecto da atenção da indústria de telecomunciações e, em Portugal, a TMN lançou no ano passado um projecto-piloto com um sistema deste género, tendo na altura dito que pretendia lançar uma solução de pagamentos móveis até ao final de 2012.
O MobiPag está agora numa fase final de desenvolvimento, embora sejam necessários testes mais alargados, nos quais “100 ou 200 pessoas” possam usar a plataforma livremente, diz Carlos Ribeiro. Os testes já feitos envolveram “20 a 30 pessoas” – estudantes, funcionários e professores da Universidade do Minho – e transacções como a compra de bilhetes de autocarro e senhas de refeição.
Sem avançar pormenores, Carlos Ribeiro explica que o modelo de negócio para o MobiPag passa pela cobrança de uma taxa de valor reduzido aos vendedores, solução habitual neste tipo de plataformas. Porém, a plataforma ainda não está pronta para chegar ao mercado, nota Carlos Ribeiro. Para além de algumas afinações no produto, é sobretudo “necessário quem faça o papel de uma SIBS”, explica, referindo-se à necessidade de uma entidade que centralize a gestão do sistema, tal como acontece com a rede de caixas automáticas.