O “transeunte casual” está sempre em todo o lado para defender Assad

Numa compilação reuniam-se 18 aparições nas notícias de televisão do regime deste sírio de meia idade e barba, que seria perfeito no seu papel de simples observador — não fosse aparecer tantas vezes.

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Em Fevereiro, depois de mais um atentado

Há várias compilações com as aparições deste homem nos canais sírios: uma feita já em Junho por activistas reúne 18, incluindo duas em canais internacionais. Aos canais sírios fala frequentemente — em nome do “povo sírio” e contra “os terroristas” —, nos estrangeiros surge em segundo plano, como simples mirone. Há imagens dele em manifestações pró-Assad, incluindo protestos em que empunha cartazes do ditador; dentro de mesquitas, em orações simpáticas para o Presidente; na rua depois de um atentado. A barba é sempre a mesma e a roupa é sempre diferente. Aparece de boné, já apareceu de boina, houve dias em que envergou um uniforme do Exército, outros em que apareceu de óculos escuros, de pólo preto, de T-shirt branca e colete, de blazer e camisola.

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Há várias compilações com as aparições deste homem nos canais sírios: uma feita já em Junho por activistas reúne 18, incluindo duas em canais internacionais. Aos canais sírios fala frequentemente — em nome do “povo sírio” e contra “os terroristas” —, nos estrangeiros surge em segundo plano, como simples mirone. Há imagens dele em manifestações pró-Assad, incluindo protestos em que empunha cartazes do ditador; dentro de mesquitas, em orações simpáticas para o Presidente; na rua depois de um atentado. A barba é sempre a mesma e a roupa é sempre diferente. Aparece de boné, já apareceu de boina, houve dias em que envergou um uniforme do Exército, outros em que apareceu de óculos escuros, de pólo preto, de T-shirt branca e colete, de blazer e camisola.

As primeiras compilações que encontramos são de Maio de 2012. Na altura, os activistas já o descreviam como membro das milícias Shabiha. Em Julho, Sami al-Hamwi, um activista de Hama (@HamaEcho no Twitter), assinalava duas entrevistas dadas por ele no mesmo dia, num comício pró-Assad em Damasco.

Segunda-feira, quando um atentado suicida com um carro armadilhado matou 15 pessoas bem no centro de Damasco, surgiu de fato e gravata. Rime Allaf viu-o numa foto que não sabe quem tirou e que publicou no Facebook e no Twitter, como outros tinham feito antes. “Já não tem piada: o Transeunte Casual parece estar outra vez à espera no local da última explosão em Damasco”, escreveu esta síria, escritora e analista (já integrou a equipa do think tank Chatham House, quando vivia em Londres; hoje vive em Viena).

“Ignorem os talentos do tipo, isto diz-nos é quantos apoiantes o regime tem... uma ‘mão cheia’ que têm de estar em cada sítio”, comentou no Facebook de Allaf Ammar Abd Rabbo, fotógrafo sírio a viver em França. Numa troca de emails, Allaf diz-nos que nem importa assim tanto saber quantos apoiantes tem Assad: “O regime só sobrevive graças à conjugação da força brutal com a aceitação do mundo, independentemente de ter muitos ou poucos apoiantes”.

Este mirone diz-nos algo sobre a paranóia do regime — e a bolha e em que vive também; a tentativa desajeitada de se mostrar em controlo — e parece dizer qualquer coisa sobre conselhos iranianos.

Ocupar o espaço público
Em Março de 2012, o diário britânico The Guardian publicou dezenas de emails enviados e recebidos pelo casal presidencial e pirateados por activistas. Muitos falavam da bolha e da negação, de Asma a fazer compras e de Bashar a enviar-lhe ficheiros do iTunes com canções country. Dois emails eram de Hussein Mortada, jornalista libanês na Síria. “Devemos estar no controlo dos espaços públicos todas as noites”, escreve no primeiro, de Dezembro de 2011, enumerando as principais praças e mesquitas de Damasco. “Nestes espaços devem estar grupos de pessoas das nossas”, diz; “a oposição tende a mover-se na presença dos Observadores, ao fazermos isto evitamos que consigam estes espaços”.

Há um segundo email, do mesmo mês, em que Mortada defende que é tempo de Damasco parar de culpar a Al-Qaeda. “Existe há décadas e não é nada de novo. Tenho recebido contactos do Irão e do Hezbollah [libanês] — sendo eu o chefe de muitos canais libaneses e iranianos — e eles orientaram-me para não mencionar que a Al-Qaeda está por trás das operações, porque isso será um erro evidente, um erro táctico e fútil.”

“Nós, o povo da Síria, culpamos a Frente Nusra e os terroristas wahabitas da Arábia Saudita armados e treinados na Turquia”, disse o transeunte entrevistado pela televisão estatal depois de uma explosão em Fevereiro. A seguir, descreveu “um local civil — uma mesquita, uma escola primária, casas de famílias”, enquanto apontava para as ruínas junto à sede do Partido Baas, no poder.

Rime Allaf desconfia sempre que há um destes atentados em Damasco, e nem é por causa dos “Observadores” de que fala o libanês; é mesmo por causa dos checkpoints. “Todos os ‘actos de terror’ (que o são) em Damasco parecem difíceis de realizar por outros por causa dos checkpoints, que são muitos: penso que o regime quer assustar o resto da população por causa do terreno que o Exército Livre da Síria tem ganho.”