Hollande quer "erradicar" os paraísos fiscais da Europa e do mundo

O Governo de Paris vai criar uma "procuradoria financeira" com competência em casos de fraude e corrupção.

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Hollande começou a guerra contra os paraísos fiscais PATRICK KOVARIK/AFP

“Os paraísos fiscais têm de ser erradicados e essa é a condição para preservar o emprego. Não hesitarei em considerar como paraíso fiscal qualquer país que recuse cooperar plenamente com a França", disse Hollande numa conferência de imprensa em Paris, a seguir a uma reunião do Conselho de Ministros.

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“Os paraísos fiscais têm de ser erradicados e essa é a condição para preservar o emprego. Não hesitarei em considerar como paraíso fiscal qualquer país que recuse cooperar plenamente com a França", disse Hollande numa conferência de imprensa em Paris, a seguir a uma reunião do Conselho de Ministros.

"Os bancos franceses – prosseguiu – devem tornar público anualmente a lista de todas as suas filiais no mundo, país por país", e devem "publicar a natureza das suas actividades". Hollande anunciou a criação de uma "procuradoria financeira, com competência nacional, que possa agir em casos de corrupção e fraude fiscal".

A França sofre ainda o abalo da notícia de que o ex-ministro do Orçamento Jérôme Cahuzac teve contas secretas em paraísos fiscais, primeiro na Suíça e depois em Singapura. O ministro, que mentiu ao Parlamento sobre o assunto, acabou por admitir a existência das contas e demitiu-se.

Um abalo agravado pelo trabalho de um grupo internacional de jornalistas de investigação que revelou uma extensa lista de pessoas e instituições com contas em paraísos fiscais. E pela notícia de que bancos franceses estão em paraísos fiscais, com sucursais.

O novo ministro do Orçamento, Bernard Cazeneuve, exigiu no Parlamento no dia 9 de Abril que os jornais que participaram no trabalho e publicaram a lista, entre eles o francês Le Monde, divulgassem as suas fontes para que "a Justiça possa fazer o seu trabalho".

O Le Monde já respondeu considerando que, para o ministro, a "culpa" por este problema é dos meios de comunicação social, o que diz ser inaceitável. Assim como inaceitável é a divulgação de fontes – não revelar fontes é, lê-se neste jornal, "regra fundamental" do jornalismo. "Esse princípio, recordamos, está protegido por lei em França. (...) Enviar à Justiça documentos que fundamentam a nossa investigação significaria expor o caminho percorrido o que conduziria à identificação das nossas fontes."

Hollande tenta quebrar o clima de suspeita que paira sobre políticos e instituições. Anunciou ainda que as regras sobre o património dos responsáveis públicos serão "revistas na íntegra" e que uma autoridade "totalmente independente controlará o património e os eventuais conflitos de interesse dos ministros, parlamentares e outros altos responsáveis políticos".

O Presidente francês defendeu ainda o seu ministro da Economia, Pierre Moscovici, acusado pela oposição socialista de ter gerido mal o caso Cahuzac. "É injusto", disse Hollande. "Foram tomadas decisões imediatas" para evitar o conflito de interesses entre Moscovici e aquele que era seu ministro do Orçamento.