Hugo Joel fotografou as sequelas da Guerra do Vietname
Ensaio de jovem fotógrafo português mostra crianças cujos pais estiveram expostos ao Agente Laranja, um herbicida altamente tóxico utilizado pelos Estados Unidos durante a guerra
Não se recomenda o documentário fotográfico de Hugo Joel a pessoas sensíveis. As imagens foram captadas num hospital vietnamita, em 2011. Mostram crianças com defeitos congénitos, crianças cujos pais estiveram expostos ao Agente Laranja, um herbicida altamente tóxico utilizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietname.
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Não se recomenda o documentário fotográfico de Hugo Joel a pessoas sensíveis. As imagens foram captadas num hospital vietnamita, em 2011. Mostram crianças com defeitos congénitos, crianças cujos pais estiveram expostos ao Agente Laranja, um herbicida altamente tóxico utilizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietname.
Formado em Fotografia pelo London College of Communication, Hugo, de 30 anos, pensava fazer mestrado quando foi aconselhado por um professor a investir esse dinheiro numa viagem onde pudesse fotografar. E assim fez, durante três meses e meio.
Chegado ao Vietname, Hugo Joel começou a trabalhar numa revista de moda. Esta oportunidade acabou por não só lhe prolongar a estada naquele país do sudeste asiático, como também por lhe dar acesso às versões dos nativos sobre a tragédia do Agente Laranja. Passadas várias décadas, a população continua a sofrer os efeitos terríveis do herbicida. As vítimas acumulam-se geração após geração.
"Um cenário horrendo"
Hugo pegou na fiel companheira, uma Nikon D700, e rumou a um dos vários hospitais de forma a travar contacto com vítimas do Agente Laranja. E fotografou-as. “É um cenário horrendo”, explica Hugo em entrevista telefónica ao P3.
A câmara fotográfica é, de facto, uma arma contra a indiferença. Mas o intuito do jovem “nunca foi chocar”, frisa, mas “deixar uma marca e de, alguma forma, ajudar aquelas pessoas”. E a ideia, pouco tempo depois, surtiu efeito. Já foi criado um site onde se podem fazer donativos.
Hugo não ficou com nenhum contacto daquelas crianças porque “nenhuma falava inglês”. E outras não conseguiam mesmo falar: ou porque apresentavam definiências cognitivas ou porque eram bebés ou, simplesmente, porque estavam a morrer e a pouca energia que lhes restava não era suficiente para dialogarem com um desconhecido.
O exército norte-americano espalhou sobre o Vietname milhões de litros de herbicidas de 1962 a 1971. O Agente Laranja era um deles. O objectivo era dizimar a vegetação local para poder atirar contra os soldados que ali se escondiam. A utilização negligente dos compostos químicos provocou consequências terríveis na saúde da população local e dos próprios soldados norte-americanos, tendo sido o cancro a doença mais comum entre aqueles que estiveram expostos.