Morreu Luiz Andrade, o comandante do Zip-Zip

Antigo director de programas da RTP e realizador de programas que marcaram a televisão em Portugal morreu em Lisboa aos 77 anos.

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Luiz Andrade em 2002, quando ainda estava na RTP David Clifford/Arquivo

A RTP era a sua “família” e, mesmo depois de se ter “reformado” da estação continuava a ser “da família”. Não apenas por os seus três filhos terem feito carreira no canal público – Serenella, locutora e apresentadora, Hugo, responsável pelo canal de cabo RTP Memória, promovido a actual director de programas, e Ricardo, também profissional da estação.

É que, como com poucos outros, a história da televisão em Portugal é indissociável dos 44 anos que Luiz Andrade passou na RTP, de 1963 a 2007. “A minha mulher costuma dizer que eu me casei com a RTP e não com ela”, disse quando abandonou a direcção de programas em 2005. Num comentário feito à Antena 1, Margarida Mercês de Mello, que conviveu com Andrade quando se iniciou na estação na década de 1970 como locutora de continuidade, lamentava que não existisse nenhum registo das recordações do antigo realizador e director de programas, que esteve ligado a algumas das emissões mais memoráveis do canal.

É o caso do lendário Zip-Zip de Carlos Cruz, José Fialho Gouveia e Raul Solnado, verdadeiro símbolo televisivo da Primavera Marcelista, que se tornou num fenómeno sem paralelo no Portugal de 1969 e cuja primeira emissão foi para o ar sem ensaio prévio. Ou ainda do concurso A Visita da Cornélia, apresentado por Solnado e criado pelo actor e por Fialho Gouveia, que fez parar o país em 1977.

Andrade dirigiu igualmente os Jogos sem Fronteiras, uma dúzia de edições do Festival RTP da Canção, programas como o Sabadabadu (com Ivone Silva e Camilo de Oliveira) e muitos especiais musicais, para os quais os seus estudos provaram ter especial importância. O realizador começou por ser cantor de ópera, profissão que exerceu um pouco por todo o mundo durante oito anos, antes de decidir abandonar o canto. Pouco depois do regresso definitivo a Lisboa, em 1963, foi convidado para se juntar à RTP, convite que aceitou com a exigência de ir “ver como se fazia lá fora”, visitando no processo várias televisões europeias.

Ao longo de quase meio século, Andrade exerceu igualmente uma série de cargos administrativos dos quais o mais importante terá sido a responsabilidade pela programação ao longo de vários períodos a partir de 1983, o último dos quais entre 2002 e 2005. Num texto colocado na rede social Facebook, Nuno Santos, que foi adjunto de Andrade durante esse período e lhe sucedeu como director de programas em 2005, lamenta o desaparecimento de um “príncipe da televisão”, um “(quase) pioneiro” a quem a RTP devia muito.

Com a morte de Luíz Andrade perdeu-se "um romântico", afirmou à Lusa o apresentador de televisão Júlio Isidro, sublinhando que partiu "a pessoa que mais amava a RTP na história destes 56 anos de televisão em Portugal". Isto porque o realizador tinha "um profundo amor pela sua casa, a casa em que nunca deixou de participar mesmo nestes anos em que já estava teoricamente afastado", recordou.

A colaboração de Luíz Andrade com a RTP terminou com a coordenação das comemorações do 50º aniversário da RTP em 2007, sendo agraciado em 2008 com a Ordem de Mérito atribuída pelo Presidente da República. Em entrevista há ano e meio à revista Nova Gente, manifestava-se contra a eventual privatização da estação, entendendo que o serviço público devia “servir as pessoas, educar e promover a cultura” e que devia passar ao lado da guerra das audiências.

Em comunicado, o Conselho de Administração da RTP lembra que Andrade era "dos profissionais mais respeitados da televisão portuguesa" e que "a ele se devem muitos dos bons momentos de televisão a que gerações de portugueses assistiram e que ainda recordam". Recordando que o antigo director de programas era "dotado de um trato exemplar" e que era "muito querido de todos os colegas e de quantos com ele trabalharam", a administração da RTP sublinha: "Hoje Portugal e a RTP ficam mais pobres."

O corpo de Luíz Andrade vai estar em câmara ardente na Igreja de São João de Deus, na Praça de Londres, em Lisboa, a partir das 11h30. O funeral está marcado para segunda-feira: a missa é às 9h30 e o corpo segue depois para o cemitério do Alto de São João, às 10h30.




 
 

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A RTP era a sua “família” e, mesmo depois de se ter “reformado” da estação continuava a ser “da família”. Não apenas por os seus três filhos terem feito carreira no canal público – Serenella, locutora e apresentadora, Hugo, responsável pelo canal de cabo RTP Memória, promovido a actual director de programas, e Ricardo, também profissional da estação.

É que, como com poucos outros, a história da televisão em Portugal é indissociável dos 44 anos que Luiz Andrade passou na RTP, de 1963 a 2007. “A minha mulher costuma dizer que eu me casei com a RTP e não com ela”, disse quando abandonou a direcção de programas em 2005. Num comentário feito à Antena 1, Margarida Mercês de Mello, que conviveu com Andrade quando se iniciou na estação na década de 1970 como locutora de continuidade, lamentava que não existisse nenhum registo das recordações do antigo realizador e director de programas, que esteve ligado a algumas das emissões mais memoráveis do canal.

É o caso do lendário Zip-Zip de Carlos Cruz, José Fialho Gouveia e Raul Solnado, verdadeiro símbolo televisivo da Primavera Marcelista, que se tornou num fenómeno sem paralelo no Portugal de 1969 e cuja primeira emissão foi para o ar sem ensaio prévio. Ou ainda do concurso A Visita da Cornélia, apresentado por Solnado e criado pelo actor e por Fialho Gouveia, que fez parar o país em 1977.

Andrade dirigiu igualmente os Jogos sem Fronteiras, uma dúzia de edições do Festival RTP da Canção, programas como o Sabadabadu (com Ivone Silva e Camilo de Oliveira) e muitos especiais musicais, para os quais os seus estudos provaram ter especial importância. O realizador começou por ser cantor de ópera, profissão que exerceu um pouco por todo o mundo durante oito anos, antes de decidir abandonar o canto. Pouco depois do regresso definitivo a Lisboa, em 1963, foi convidado para se juntar à RTP, convite que aceitou com a exigência de ir “ver como se fazia lá fora”, visitando no processo várias televisões europeias.

Ao longo de quase meio século, Andrade exerceu igualmente uma série de cargos administrativos dos quais o mais importante terá sido a responsabilidade pela programação ao longo de vários períodos a partir de 1983, o último dos quais entre 2002 e 2005. Num texto colocado na rede social Facebook, Nuno Santos, que foi adjunto de Andrade durante esse período e lhe sucedeu como director de programas em 2005, lamenta o desaparecimento de um “príncipe da televisão”, um “(quase) pioneiro” a quem a RTP devia muito.

Com a morte de Luíz Andrade perdeu-se "um romântico", afirmou à Lusa o apresentador de televisão Júlio Isidro, sublinhando que partiu "a pessoa que mais amava a RTP na história destes 56 anos de televisão em Portugal". Isto porque o realizador tinha "um profundo amor pela sua casa, a casa em que nunca deixou de participar mesmo nestes anos em que já estava teoricamente afastado", recordou.

A colaboração de Luíz Andrade com a RTP terminou com a coordenação das comemorações do 50º aniversário da RTP em 2007, sendo agraciado em 2008 com a Ordem de Mérito atribuída pelo Presidente da República. Em entrevista há ano e meio à revista Nova Gente, manifestava-se contra a eventual privatização da estação, entendendo que o serviço público devia “servir as pessoas, educar e promover a cultura” e que devia passar ao lado da guerra das audiências.

Em comunicado, o Conselho de Administração da RTP lembra que Andrade era "dos profissionais mais respeitados da televisão portuguesa" e que "a ele se devem muitos dos bons momentos de televisão a que gerações de portugueses assistiram e que ainda recordam". Recordando que o antigo director de programas era "dotado de um trato exemplar" e que era "muito querido de todos os colegas e de quantos com ele trabalharam", a administração da RTP sublinha: "Hoje Portugal e a RTP ficam mais pobres."

O corpo de Luíz Andrade vai estar em câmara ardente na Igreja de São João de Deus, na Praça de Londres, em Lisboa, a partir das 11h30. O funeral está marcado para segunda-feira: a missa é às 9h30 e o corpo segue depois para o cemitério do Alto de São João, às 10h30.