José Mateus: “Pensei que me tinha enganado no curso”
Berlim, num tempo em que o contexto arquitectónico português era conservador, ampliou radicalmente a minha percepção
No primeiro ano do curso de arquitectura, na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, ao tempo no Convento de São Francisco, aquilo de que mais gostava era do contacto diário com o Chiado, a Baixa, a zona histórica densa e cheia de vida. Mas, lembro-me bem da enorme decepção que tive com o curso. Sem entrar em detalhes a realidade é que passado o primeiro ano com alguma dificuldade, num contexto pouco motivador e aborrecido, pensei que me tinha enganado no curso.
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No primeiro ano do curso de arquitectura, na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, ao tempo no Convento de São Francisco, aquilo de que mais gostava era do contacto diário com o Chiado, a Baixa, a zona histórica densa e cheia de vida. Mas, lembro-me bem da enorme decepção que tive com o curso. Sem entrar em detalhes a realidade é que passado o primeiro ano com alguma dificuldade, num contexto pouco motivador e aborrecido, pensei que me tinha enganado no curso.
Se no 2.º ano o cenário começou a melhorar, isso deve-se essencialmente ao facto de ter começado a trabalhar no atelier dos arquitectos António Pecegueiro e José Coimbra Neves na Rua de Sol ao Rato. Logo nos primeiros tempos de atelier tive acesso aos trabalhos mais distintos, desde ir à obra fazer um levantamento, fazer cópias ou colaborar no desenvolvimento de um projecto em curso. Era um atelier pequeno, muito bem organizado, onde discutíamos as coisas com entusiasmo. E, quando comecei a ir à obra, fiquei irremediavelmente fascinado pela beleza de uma construção em curso, com toda a dinâmica e mobilização de gente em torno de uma ideia. Foi ali que comecei a descobrir a realidade da profissão, e que, dado que trabalhava e estudava ao mesmo tempo, recuperei a confiança e adquiri uma destreza que contribuiu para uns anos seguintes muito bem sucedidos ao nível académico. Em abono da verdade, tenho que reconhecer que ali fui recuperado para a profissão.
Sobre a ideia de estágio, não posso deixar de referir uma curta experiência, anos mais tarde, no atelier do arquitecto Daniel Libeskind em Berlim. Se no Rato conheci a profissão e aprendi a amá-la, Berlim, num tempo em que o contexto arquitectónico português era profundamente conservador, ampliou radicalmente a minha percepção sobre as possibilidades contidas num projecto de arquitectura. Ali percebi que tinha, até então, uma ideia de arquitectura muito fechada. Foi uma espécie de revelação. Nessa passagem por Berlim, eu e o meu irmão decidimos fundar o atelier ARX Portugal, cuja actividade não parou mais até aos dias de hoje.