Experiência espacial que procura matéria escura anuncia primeiros resultados
A primeira análise dos raios cósmicos pelo detector AMS é compatível com a teoria que prevê a existência de matéria escura, mas ainda não permite excluir teorias concorrentes.
Os resultados deverão ser publicados na próxima sexta-feira na revista Physical Review Letters. Mas foram apresentados nesta quarta-feira por Samuel Ting, do MIT, responsável máximo pela experiência AMS – que envolve cientistas de 16 países, entre os quais Portugal –, durante uma conferência no Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), em Genebra.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os resultados deverão ser publicados na próxima sexta-feira na revista Physical Review Letters. Mas foram apresentados nesta quarta-feira por Samuel Ting, do MIT, responsável máximo pela experiência AMS – que envolve cientistas de 16 países, entre os quais Portugal –, durante uma conferência no Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), em Genebra.
A experiencia AMS – acrónimo em inglês de Espectrómetro Magnético Alfa – é um detector de partículas instalado a bordo da Estação Espacial Internacional e destinado a analisar os raios cósmicos antes de eles interagirem com a atmosfera terrestre.
Os raios cósmicos viajam por todo o Universo – e há já uns 20 anos que um excesso de antimatéria foi observado neste fluxo de partículas de alta energia. Mas, até agora, ninguém conseguiu explicar a origem do excesso.
Uma das possíveis explicações, explica o CERN em comunicado, prevista pela chamada teoria da supersimetria, é que esses positrões em excesso seriam produzidos pela colisão e subsequente aniquilação de pares de partículas de matéria escura. Só que, como a matéria escura – que se pensa estar por todo o lado, representando uma grande parte da massa total do Universo – não irradia luz, não é observável pelos telescópios. Foi portanto preciso construir um dispositivo capaz de a detectar: o AMS.
“As colisões de raios cósmicos produzem positrões e as colisões de matéria escura produzem ainda mais positrões”, explicou Ting durante a sua apresentação. “E esse excesso pode ser medido de forma muito precisa pelo AMS.” Basicamente, salientou, a AMS é “a primeira experiência capaz de sondar em pormenor a natureza do excesso [de antimatéria]”.
Várias características dos resultados obtidos até aqui abonam a favor de o excesso ser efectivamente devido à presença de matéria escura. Porém, ainda não permitem excluir uma teoria concorrente, segundo a qual esses positrões em excesso proviriam de pulsares próximos, distribuídos pela nossa galáxia (os pulsares são estrelas de neutrões que giram sobre si próprias e emitem feixes de radiação electromagnética).
Mas como os dados agora analisados correspondem a menos de 10% do conjunto de dados que deverão ser recolhidos pela AMS até 2028 (data prevista para o fim da experiência), Ting acredita que “rapidamente, vamos conseguir perceber a origem do excesso”. Porém, este cientista veterano – que recebeu o Prémio Nobel da Física em 1976 pela descoberta de uma partícula subatómica – recusa-se a especular: “Temos uma ideia do que está a acontecer, mas ainda é cedo para falar disso. A experiência AMS foi lançada há 18 anos e acho que ninguém, nos próximos 20 anos, nos vai fazer concorrência. Portanto, é melhor esperar e fazer as coisas lentamente.”