Concorreram mais investigadores mas a FCT atribuiu menos bolsas
Candidatos aumentaram às bolsas de investigação da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Há “jovens investigadores” portugueses que são pais de família e estão perto dos 40 anos. A maioria recebe uma bolsa, mas também há quem trabalhe sem ser remunerado ou sem qualquer reconhecimento, alerta a associação que os representa.
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Há “jovens investigadores” portugueses que são pais de família e estão perto dos 40 anos. A maioria recebe uma bolsa, mas também há quem trabalhe sem ser remunerado ou sem qualquer reconhecimento, alerta a associação que os representa.
Apesar da instabilidade, o número de candidatos a bolsas de investigação da FCT não pára de aumentar: este ano concorreram mais 1205 investigadores do que no ano passado a bolsas de doutoramento e pós-doutoramento mas, até ao momento, foram atribuídas menos 303 do que em 2011.
Segundo dados avançados à Lusa, em 2011 a FCT considerou válidas 5285 candidaturas. No entanto, mais de metade das propostas não recebeu apoio financeiro. No total, foram atribuídas 2157 bolsas (1469 para doutoramentos e 688 para pós-doutoramento).
Este ano, a FCT considerou que havia 6490 candidaturas válidas e, até meados de Março, decidiu apoiar 1854 projectos (1186 relativos a doutoramentos e 668 a pós-doutoramentos), números que poderão aumentar, já que ainda está a decorrer o período de recurso, sublinha a assessora da FCT.
Apesar de haver cada vez mais gente a concorrer, a vida destes "jovens bolseiros é muito instável", refere Tiago Lapa, da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC). Para o representante, a expressão “jovem bolseiro” é uma “falácia”: “Há investigadores de todas as idades e há quem tenha bolsas durante anos e anos. Tenho um colega que é bolseiro desde 1996 e não é caso raro”.
Na realidade, a designação abarca "desde recém-licenciados até aos investigadores que já têm família e filhos”, sublinha o representante da ABIC, lembrando que o espírito do legislador que criou o "Estatuto do Bolseiro de Investigação" era que este estado fosse provisório.
No entanto, segundo a ABIC, a única coisa provisória é a situação laboral: “Têm as mesmas obrigações que qualquer trabalhador, mas sem contrato de trabalho. Muitos fazem um trabalho imprescindível para o funcionamento das instituições onde trabalham, mas não há uma certificação”.
Tiago Lapa lembra que estes investigadores acabam por ser vistos como um grupo "que anda a brincar à ciência", já que "o contrato de trabalho é um símbolo de adultês".
Apesar de a vida de um bolseiro ser instável, existem situações ainda mais gravosas, como a dos investigadores que "trabalham sem receber qualquer remuneração nem reconhecimento”. Segundo Tiago Lapa, uns fazem-no na esperança de vir a conseguir financiamento para os seus projectos e outros ficam sem bolsa antes de terminar os trabalhos de investigação. Uns e outros acabam por trabalhar sem receber.
Por outro lado, há instituições onde alguns trabalhos que habitualmente eram feitos por bolseiros estão “agora a ser feitos por alunos”.
A ABIC é a anfitriã dos cerca de 300 participantes esperados para o congresso europeu dos jovens investigadores científicos – Eurodoc, a Federação Europeia dos Doutorandos e Jovens Investigadores, que decorre quinta e sexta-feira e que tem como tema principal “Os Grandes Desafios Societais Europeus: o papel dos jovens investigadores”.
Em 15 anos, houve um aumento de financiamento de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento, que passaram de pouco mais de dez milhões de euros (em 1995) para cerca de 155 milhões em 2011, segundo dados da FCT. No entanto, Tiago Lapa sublinha que "desde 2002 que o valor das bolsas não é actualizado". Segundo a ABIC, as bolsas de doutoramento rondam os 980 euros e as de pós-doutoramento os 1400 euros.
Depois de quase duas décadas em que o número de bolsas atribuídas esteve sempre a crescer, a tendência começa agora a inverter-se, alertou a ABIC.