Esqueleto de elefante oferecido ao rei de França pelo rei de Portugal atacado à motosserra
Os restos do “protagonista” de uma história que liga Portugal aos primórdios da história natural foram vandalizados, à noite, no museu…
Segundo noticiou a AFP, o insólito ataque, do qual não se conhece oficialmente o motivo (embora se especule que terá sido para roubar o marfim), foi perpetrado por um jovem, que para isso conseguira não apenas galgar as altas e pontiagudas grades que rodeiam o Jardim das Plantas, onde está albergado o museu, como também partir o vidro bastante grosso de uma das janelas do edifício de paleontologia.
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Segundo noticiou a AFP, o insólito ataque, do qual não se conhece oficialmente o motivo (embora se especule que terá sido para roubar o marfim), foi perpetrado por um jovem, que para isso conseguira não apenas galgar as altas e pontiagudas grades que rodeiam o Jardim das Plantas, onde está albergado o museu, como também partir o vidro bastante grosso de uma das janelas do edifício de paleontologia.
Porém, o assaltante não conseguiu acabar o trabalho: os seguranças e a polícia, alertados pelo sistema de alarme, acorreram para o local em poucos minutos, obrigando-o a largar a motosserra ainda em funcionamento, para se escapulir por onde tinha entrado. Fugiu por uma das ruas que ladeiam aquele grande jardim, situado no 5.º bairro da capital francesa, acabando por ser apanhado – e mais tarde hospitalizado para ser submetido a uma cirurgia num pé, que tinha magoado ao saltar para a rua.
Presente de Portugal
Para além do fait-divers, o esqueleto em causa não é um esqueleto qualquer, mas uma peça histórica. E que liga Portugal aos primórdios da história natural enquanto ciência.
Em 1668, D. Pedro II, então regente de Portugal, ofereceu ao rei de França, Luís XIV, uma fêmea de elefante. E o esqueleto agora vandalizado é o daquele animal, que morreu em 1681 e faz hoje parte da colecção de mamíferos fósseis do museu francês. Ora, décadas mais tarde, esse esqueleto serviria como primeira base do estudo anatómico comparativo dos elefantes actuais com fósseis de mastodonte, que na altura tinham sido descobertos nos Estados Unidos. Diga-se já agora que os mastodontes, que são diferentes dos mamutes e não são elefantes, se extinguiram na Europa há entre um e dois milhões de anos, mas sobreviveram no Novo Mundo até há cerca de 13 mil anos.
Seja como for, foi o estudo deste “presente real” que levou um grande naturalista francês, o conde de Buffon, a introduzir em 1778 o conceito absolutamente novo de espécie extinta, ou "perdida" – e um outro grande naturalista, Georges Cuvier, a trabalhar, em 1795, sobre "as espécies de elefantes actuais e extintas" (ver Oitenta gavetas com mastodontes à espera de revelar os seus segredos).
O esqueleto não foi danificado. E, segundo os responsáveis do museu, o restauro da presa seccionada (um pedaço de dente com quase três quilos) não deverá apresentar dificuldades. E nem sequer pertencia originalmente ao eminente paquiderme.