Os retornados e os franciscanos
O ex-primeiro ministro vai comentar o quê? As políticas do atual Governo? Ou vai defender-se dos erros do passado? A ver vamos
Olho para a nossa história e, em particular, para a atualidade e começo a achar que continuamos a ser um país de retornados. Gente que vai e volta. Mas que vai numa espécie de fuga deixando a pátria encalhada e sob fogo cruzado – crises, clara má gestão e outras tantas coisas mais – e, depois, regressa para se instalar confortavelmente numa cadeira de luxo.
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Olho para a nossa história e, em particular, para a atualidade e começo a achar que continuamos a ser um país de retornados. Gente que vai e volta. Mas que vai numa espécie de fuga deixando a pátria encalhada e sob fogo cruzado – crises, clara má gestão e outras tantas coisas mais – e, depois, regressa para se instalar confortavelmente numa cadeira de luxo.
Fazem-me lembrar aquelas pessoas que insistem em fazer parte do nosso círculo de amigos mesmo que não sejam desejados. Que insistem em aparecer mesmo quando lhes é dado a entender de forma direta que não os queremos por perto. Os tradicionais melgas ou, neste caso, os agarrados ao “tacho”. A verdade é que contra tudo e todos estão sempre lá.
Já era algo a que assistia em Portugal e que, pelas notícias que me chegam, continuarei a ver à distância. E exemplos não faltam. Temos o do senhor presidente da República, corrido da política com uma derrota estrondosa na sua primeira candidatura a Belém, mas que lá acabaria por assentar arrais no tão desejado Palácio dos carreiristas políticos. Os próximos candidatos ao lugar deverão ser, arrisco, o Durão Barroso e o José Sócrates. Um fugiu lá para os lados de Bruxelas e o outro para Paris. Ambos deixaram o País em “tanga” ou, como costumo dizer, com uma mão à frente e outra atrás. Afinal, somos um país de brandos costumes e o pudor impera. Há que tapar todos os buracos…
Mas foquemos o texto nas notícias assim mais para o emblemático da semana. E aquela que mais me surpreendeu (e a muito boa gente) foi a notícia que o ex-primeiro ministro será comentador da RTP. Tudo bem que o senhor – como todos – tem direito a expressar a sua opinião e a administração da RTP é livre de contratar quem bem entende. No entanto não deixa de ser hilariante. Confesso que soltei uma valente gargalhada seguida de uns adjetivos menos próprios quando soube desta novidade. Mas vai comentar o quê? As políticas do atual Governo? Ou vai defender-se dos erros do passado? A ver vamos. Uma coisa é certa: não receberá qualquer retribuição financeira direta, dizem. Pois. Gostava de saber, como muitos portugueses, quais serão as indiretas.
Outra notícia que me chamou a atenção foi uma internacional mas que devia ter repercussões pelos nossos lados. Falo do facto de a Igreja Ortodoxa de Chipre ter colocado todo o seu espólio à disposição para tentar salvar a economia do país. Ora numa altura em que a outra Igreja, a Católica Apostólica Romana, acaba de eleger um novo Papa - um tal de Francisco - que defende que a sua Igreja deve ser pobre e para os pobres não seria de esperar a mesma atitude para com os países que a abraçam como religião? Afinal eles existem para o povo e, teoricamente, até são mesmo do povo. Uma ajuda financeira via “garantia” ou “fiado” vinha mesmo a calhar, pelo menos por terras lusas. Afinal não devemos seguir os bons exemplos? Mas, e com todo o respeito, cheira-me que virá no mesmo dia em que os porcos voarem.
E assim vai o nosso País feito de gente que foge e volta em grande e outros que pregam a solidariedade mas só quando o dinheiro é dos outros. Portugueses à maneira antiga. Mas o mais preocupante é que as coisas não mudam. Porque será?
Esta crónica é escrita ao abrigo do novo Acordo Ortográfico