O comentador de Paris

António José Seguro terá a penosa tarefa de se assumir enquanto político, já que nos últimos momentos funcionou apenas com base no comentário e sem consequências diretas para as políticas governativas

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Rafael Marchante/Reuters

O ambiente ficou de “cortar à faca” nos últimos dias, o momento não é para menos — José Sócrates regressa à vida ativa publicamente em grande, a comentar na RTP. Esta notícia surtiu duplo efeito; uns apoiam e outros criticam, estes últimos rejeitam auscultar o ex-Primeiro Ministro.

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O ambiente ficou de “cortar à faca” nos últimos dias, o momento não é para menos — José Sócrates regressa à vida ativa publicamente em grande, a comentar na RTP. Esta notícia surtiu duplo efeito; uns apoiam e outros criticam, estes últimos rejeitam auscultar o ex-Primeiro Ministro.

Contudo o grau de confusão e excitação enlouqueceu a atmosfera social, e agora resta perceber os efeitos desta situação. No exato momento em que o PS apresenta uma petição de censura ao governo e o bloco de toda a esquerda se junta, embora de forma artificial.

É notório o efeito de braço de ferro que Seguro terá de fazer com o primeiro-ministro, necessariamente com tudo isto o secretário-geral do PS terá de mostrar o que vale perante o país e os socialistas, antes que Sócrates chegue e manifeste maior fôlego para fazer frente ao governo.

Em suma António José Seguro terá a penosa tarefa de se assumir enquanto político, já que nos últimos momentos funcionou apenas com base no comentário e sem consequências diretas para as políticas governativas do país. E mais, agora é o querido líder socrático que terá tempo de antena assegurado.

De certa forma o mais interessante não será discutir a presença de Sócrates na RTP, mas a utilidade que este novo entrevistador trará. Este poderá ser o fim do governo apontar continuamente o dedo a uma identidade (in)visível, sem possível defesa do inquirido, argumentando constantemente que a causa de toda a tragédia do país teria um dono, residente em Paris. Por isso há que temer que o governo, made in Berlim, continue na senda de destruir o futuro dos Portugueses diretamente de S. Bento e logo de seguida aponte o dedo a José Sócrates, o comentador de Paris.

Mas não deixará de receber resposta, e que resposta. Logo agora que Seguro começou a olhar para o momento de governação Socrática com certo respeito e aceitação, terá o próprio Sócrates a defender as suas políticas não precisando de intermediários. E agora para que servirá Seguro?

Mas as atenções falharam, os focos foram mal direcionados e de tudo isto há que retirar uma ilação. O pais continua aprisionado a políticas irreais projetadas em Berlim e por uma espécie de máfia financeira, fazendo crer que José Sócrates é responsável. Gostaria, ao invés de Sócrates, ter Cavaco Silva como comentador, isto sou eu a sonhar, já que o seu exercício ativo enquanto Presidente da República é muito baixo. Mas os tempos são conturbados e ao invés de se fazerem petições para exigirem que Cavaco Silva dialogue com os portugueses, fazem-se petições para se calarem os que ainda se mostram com coragem de falar.

Quanto ao resto, venha o comentador de Paris e que o Governo saiba ser governo de Portugal e dos Portugueses. Por isto este não será o momento mais certo para José Sócrates aparecer, nem o mais ideal. Afinal Sócrates é responsabilizado pelos atos governamentais, até pelo facto de a emigração ser uma ponderação séria para os portugueses.Com isto, José Sócrates com o ato de regresso à pátria, sem dizer uma única palavra, já contradisse uma medida política do governo, aguardando-se muitas mais -Isto promete! Esperemos para ver, inclusive, o que mudará dentro do próprio Partido Socialista.

Esta crónica é escrita ao abrigo do novo Acordo Ortográfico