Poluição aumenta com consumo de lenha para poupar na energia
Vendas de lenha não param de crescer para compensar aumento dos custos domésticos com a energia.
De acordo com estimativas da Universidade de Aveiro, em 2010 os portugueses queimaram dois milhões de toneladas de lenha em lareiras e recuperadores de calor e o consumo tem vindo a aumentar.
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De acordo com estimativas da Universidade de Aveiro, em 2010 os portugueses queimaram dois milhões de toneladas de lenha em lareiras e recuperadores de calor e o consumo tem vindo a aumentar.
"Dos contactos que temos tido com fornecedores desses equipamentos e vendedores de lenha, no centro e norte do país e em particular nos distritos de Aveiro e Viana do Castelo, as vendas não têm parado de aumentar", disse à Lusa a investigadora Célia Alves.
Célia Alves, do grupo de Qualidade de Atmosfera do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), atribui o fenómeno ao aumento dos preços do gás e electricidade e à redução do rendimento das famílias, tanto mais que a tendência se está a verificar também noutros países do sul da Europa, em particular na Grécia, segundo informações que tem trocado com investigadores de outros países.
De acordo com o estudo daquele centro de investigação da Universidade de Aveiro, a queima de madeira em equipamentos caseiros representa uma fonte considerável de emissão de poluentes para a atmosfera com consequente agravamento da qualidade do ar.
As conclusões da investigação do CESAM da UA alertam para o perigo que a percentagem tendencialmente crescente constitui para a saúde pública.
"A queima doméstica é uma fonte de poluição que tem vindo a aumentar e que até recentemente, nos inventários de emissões, tinha sido quase desprezada", afirma Célia Alves.
As partículas presentes no fumo caseiro "são inaláveis e têm capacidade de se depositarem nos alvéolos, podendo ainda provocar danos no aparelho respiratório", acrescenta a investigadora.
O trabalho da equipa do CESAM centrou-se na quantificação e análise das partículas emitidas pela queima em lareiras tradicionais, num recuperador de calor não certificado, e num equipamento semelhante, mas com certificação em vários países europeus.
O nível da emissão das partículas não varia particularmente conforme as espécies lenhosas utilizadas mas sobretudo com os equipamentos usados e com as práticas de queima.
Num país onde a certificação de equipamentos de queima "ainda está a ser discutida", Célia Alves aponta que "há imensas diferenças quando se comparam os três tipos de equipamento" no que diz respeito às partículas poluentes que cada um deles lança para a atmosfera.
O recuperador de calor certificado, usado apenas em 7% das casas com equipamentos de queima, permite um aproveitamento de calor mais eficiente e uma combustão mais eficaz do que recuperador tradicional (presente em 44% das casas) e que a lareira tradicional, em que o nível de partículas poluentes produzidos é oito vezes superior.