“Estado não pode lavar as mãos” da Mata Nacional do Buçaco
A mata do Buçaco está a enfrentar sérias dificuldades, que se agravaram com a proibição de receber apoio de entidades públicas. O presidente da Fundação Mata do Buçaco alerta que “o Estado, ao ver privados a ajudarem, não pode ficar de fora.”
Para além das árvores caídas, o temporal deixou também um profundo rasto de destruição nos edifícios ali existentes, como a réplica da Via Sacra de Jerusalém, que foi fortemente afectada.
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Para além das árvores caídas, o temporal deixou também um profundo rasto de destruição nos edifícios ali existentes, como a réplica da Via Sacra de Jerusalém, que foi fortemente afectada.
A solução encontrada pela administração da fundação passa por estabelecer parcerias com entidades privadas, como a que contratualizou esta quinta-feira, Dia Mundial da Floresta, com o grupo Portucel na mata do Buçaco. O objectivo é “apoiar a recuperação da mata”, disse a directora de comunicação do grupo Portucel, Ana Nery. Esta ajuda passa pelo fornecimento de cerca de 2000 árvores para repor o património destruído pelo temporal.
A mata vai receber várias espécies de carvalhos, pinheiros, cedros-do-buçaco – na verdade, ciprestes, como o que foi destruído pelo temporal, depois de ter ali vivido quase quatro séculos – e ainda plantas aromáticas. A Portucel vai também "dinamizar um programa de sensibilização para a adopção de boas práticas silvícolas dos proprietários limítrofes à mata", disse Ana Nery. Este programa é considerado por António Franco como uma "grande contribuição para a mata."
A Fundação Mata do Buçaco tem agora um orçamento anual de 600 mil euros, que obtém através da gestão da mata e dos equipamentos que ali explora, mas isso "não é suficiente" para a renaturalização em causa. O dinheiro não será conseguido com receitas próprias, assume o presidente da fundação.
"O Estado não pode lavar as mãos do património público que é de todos nós e da história de Portugal", diz António Franco. "A Mata Nacional do Buçaco tem um valor incalculável", completa. O presidente da fundação referiu ainda o papel importante de todos os voluntários que trabalham actualmente na mata do Buçaco, a maioria “jovens desempregados que vestiram a camisola e vieram trabalhar na mata”, completa. Entre os contributos para a recuperação da mata estão os donativos, que “rondam os cinco mil euros”, o empréstimo de equipamentos e material de construção.
Com o fim do financiamento público, a fundação perdeu os cerca de 35 mil euros anuais que recebia da Câmara da Mealhada. António Franco sublinha que a fundação não recebe verbas da administração central desde 2011. O Governo já mostrou "boa vontade para se sentar à mesa", para discutir a interpretação da lei das fundações, diz António Franco. "Eles dizem que eu estou a interpretar mal, mas o que lá está escrito é isso", acrescenta, referindo-se ao fim dos apoios públicos.
A apresentação desta parceria contou com a plantação simbólica de cinco árvores, apesar de já terem sido plantadas cerca de 300 das que o Grupo Portucel vai fornecer à fundação.
Uma fonte partidária do PS afirmou esta sexta-feira à Lusa que os deputados do partido eleitos por Aveiro solicitaram esclarecimentos sobre o futuro da mata do Buçaco à ministra da Agricultura, Assunção Cristas. “Sendo certo que, até à data, este Governo pouco ou nada fizera pela mata nacional [do Buçaco], a verdade é que, a partir de agora, ficarão todas as entidades públicas impossibilitadas de o poder fazer, conduzindo assim a fundação à asfixia e a Mata Nacional do Buçaco ao abandono”, salientam os deputados socialistas no requerimento, citado pela Lusa.
O PÚBLICO viajou a convite do Grupo Portucel Soporcel para assistir à formalização da parceria com a Fundação Mata do Buçaco.