Camarate: PS diz que não há nexo de causalidade entre tráfico de armas e queda do avião
O tráfico de armas e eventual ligação à queda do avião em Camarate, em 1980, é uma das linhas de investigação seguidas pela X comissão parlamentar de inquérito, que ouviu hoje o autor do livro "Camarate, Sá Carneiro e as armas para o Irão", Frederico Duarte Carvalho.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O tráfico de armas e eventual ligação à queda do avião em Camarate, em 1980, é uma das linhas de investigação seguidas pela X comissão parlamentar de inquérito, que ouviu hoje o autor do livro "Camarate, Sá Carneiro e as armas para o Irão", Frederico Duarte Carvalho.
Neste livro, o jornalista freelancer defende que o "alvo do atentado de Camarate era o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro" e não o ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, e sugere que na origem do atentado estará um negócio de armas para o Irão e motivações políticas envolvendo personalidades ligadas ao mundo da política e espionagem internacionais.
"Eu não ponho em causa a questão de ter sido atentado e a questão de ter havido tráfico de armas. Eu continuo à procura do nexo de causalidade", disse a deputada socialista Isabel Oneto.
A deputada socialista disse que pode admitir-se que o livro detecta "coincidências" ao nível de datas, figuras, relações, mas não permite estabelecer os factos.
Isabel Oneto advertiu que a comissão pode estar a focalizar a atenção num determinado ponto de vista e o "móbil ser completamente diferente".
"Quais são os factos que determinam? Houve coincidência de datas? Sim, mas daí a poder chegar à conclusão de que o atentado tinha por móbil o tráfico de armas é muito curto. Isso é uma qualificação" não é um facto, advertiu.Frederico Duarte Carvalho respondeu que "é preciso atender à época" e que existem indícios muito fortes desse nexo de causalidade.
Entre os indícios, Frederico Duarte Carvalho valorizou os elementos recolhidos pela jornalista Cândida Pinto, na sua biografia de Snu Abecassis [companheira de Sá Carneiro e que também viajava no Cessna que caiu em Camarate] que "indicam que Sá Carneiro estava também preocupado com o tráfico de armas para o Irão".
Defendendo que ainda "há muito para descobrir sobre Camarate", Frederico Duarte Carvalho sugeriu que "devem ser ouvidos" pela comissão parlamentar "o ex-embaixador Carlucci, que era à época o número dois da CIA, o ex-Presidente da República Mário Soares e Medeiros Ferreira, que era ministros dos Negócios Estrangeiros em 1977".
Questionado pelo deputado do PCP Jorge Machado, Frederico Duarte Carvalho defendeu que "agora, mais do que nunca", seria útil ouvir Farinha Simões e José Esteves, que afirmaram publicamente, depois de ter prescrito o crime, terem participado no atentado.
Farinha Simões terá afirmado, num depoimento publicado em 2012 na Internet e que lhe é atribuído, ter sido um quadro da CIA até 1989 e ter organizado o atentado de 4 de Dezembro de 1980.
A X comissão de inquérito ao caso Camarate visa averiguar as "causas e circunstâncias em que, no dia 4 de Dezembro de 1980, ocorreu a morte do primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, do ministro da Defesa Nacional, Adelino Amaro da Costa, e dos seus acompanhantes".