Autarquia de Setúbal defende permanência da esquadra na Bela Vista
Edifício precisa de obras mas a presença de proximidade "inspira segurança" aos moradores, defende a líder do executivo municipal.
“O bairro da Bela Vista não precisa de ser tomado assim, à força, através da coacção, precisamos antes que estes polícias façam parte das soluções que já estão no terreno, que trabalhem junto das populações”, acrescenta a autarca, sublinhando que pediu mais policiamento “não apenas para a Bela Vista, com algumas pessoas terão interpretado, mas para toda a cidade”. O pedido de mais polícia na cidade tem sido reiterado pela câmara ao longo dos anos.
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“O bairro da Bela Vista não precisa de ser tomado assim, à força, através da coacção, precisamos antes que estes polícias façam parte das soluções que já estão no terreno, que trabalhem junto das populações”, acrescenta a autarca, sublinhando que pediu mais policiamento “não apenas para a Bela Vista, com algumas pessoas terão interpretado, mas para toda a cidade”. O pedido de mais polícia na cidade tem sido reiterado pela câmara ao longo dos anos.
Para a autarca, a polícia “deve agir de maneira menos fria, com tacto, sem decisões precipitadas, sabendo gerir as consequências dos seus procedimentos”. “É daí”, diz, “que vem a necessidade de mais polícia de proximidade”, solução defendida pela câmara junto do Ministério da Administração Interna, numa reunião realizada segunda-feira. A câmara lembra que há 220 interlocutores disponíveis nos bairros contíguos à Bela Vista para trabalhar com a PSP.
Sempre que um jovem é morto na Bela Vista e o caso envolve uma acção policial, a esquadra torna-se um alvo de protestos, alguns dos quais com violência contra o edifício e os agentes lá instalados, obrigando a PSP a chamar reforços do Corpo de Intervenção.
Foi o que aconteceu, no último sábado, quando Ruben Marques, de 18 anos, morador no bairro, morreu, no bairro das Manteigadas, à saída da cidade, depois de uma perseguição policial que envolveu disparos de aviso. A PSP alega que não terá respeitado um sinal vermelho. O jovem conduzia uma pequena mota e despistou-se no final de uma rua sem saída, embatendo numa caixa da EDP e numa parede.
Enquanto o pai e o irmão mais velho identificavam o corpo no local, populares associaram, de imediato, os tiros da PSP à morte do jovem, versão que a Procuradoria Geral da República desmentiu, com base na autópsia que revelou a inexistência de ferimentos de balas.
No sábado, a versão que corria entre a população era a de que o jovem teria sido “assassinado pela polícia”. Mesmo os mais moderados, como a Associação Cultural Africana, onde existe um gabinete de gestão de conflitos, estranharam a acção policial, tendo em conta que a PSP sabia a morada de Ruben Marques.
O facto é que os rumores fizeram exaltar os ânimos de alguns jovens que foram para a rua derrubar e incendiar caixotes do lixo e tentar cercar a esquadra local, repetindo um cenário idêntico ao de Maio de 2009, quando outro jovem do bairro morreu em Alvor, no Algarve, na sequência de um disparo da polícia que o havia surpreendido a cometer um roubo.
Apesar de o bairro sofrer estragos de cada vez que a esquadra é atacada, situação que desagrada a alguns moradores, a autarca de Setúbal, eleita pela CDU, defende de forma veemente que o equipamento “não é para sair dali”. “Retirar a esquadra? Nem nos passa pela cabeça”.
Confrontada com a questão, Maria das Dores Meira assinala ainda que a retirada da esquadra nunca foi sugerida a Miguel Macedo, ministro da Administração Interna e este também “não colocou esse tema em cima da mesa”. “A única questão levantada foi a de pedir ao ministro que tenha atenção às condições físicas do edifício, porque aquela esquadra precisa de obras e o senhor ministro diz que estão a preparar uma série de intervenções a nível nacional nas esquadras que não têm condições de trabalho”, revela.
Alguns dos jovens que participaram no apedrejamento de sábado contra a PSP, participaram em iniciativas apoiadas pela câmara. Na Bela Vista vivem cerca de 1300 jovens e crianças com menos de 18 anos. A autarquia acredita que nos actos violentos terão participado cerca de três dezenas. “Alguns desses jovens apresentaram, há tempos, uma proposta para organizar um torneio de futebol, uma actividade positiva que a câmara fez questão de apoiar como faz e fará sempre”, revela Maria das Dores Meira.
A mesma fonte pede “moderação e responsabilidade” aos meios de comunicação audiovisual. “Alguns jovens vêem as luzes das câmaras de televisão e exibem-se, sentem que é o seu momento de glória, de protagonismo como se estivessem num filme. Alguns chegam a vir de outros bairros só para poderem aparecer nas imagens e nos directos. Os jornalistas devem informar, mas ter em conta que as imagens em directo também podem potenciar e dar mais força àqueles actos”, avalia.
Depois há todo o trabalho de prevenção deitado à rua. “É injusto, não é a imagem do bairro, das três mil pessoas que trabalham para o melhorar. As imagens criam mais estigma, algo que programas como 'Nosso Bairro, Nossa Cidade' tentam prevenir e combater há muito tempo”, lamenta a mesma fonte.
O caso ainda poderá ter novos desenvolvimentos pois a Inspecção Geral da Administração Interna está a realizar um inquérito à acção policial.
O funeral realiza-se na manhã desta terça-feira. A autarquia apela à “calma e serenidade” de todos os participantes e moradores, para evitar novas cenas de violência. Junto à esquadra, estão, desde a meia-noite um reforço de quatro carrinhas azuis do Corpo de Intervenção da PSP.