PSP admite que disparou balas de borracha para intimidar jovem que morreu
Jovem despistou-se e morreu na sequência de uma perseguição policial. Caso gerou protestos e violência contra a polícia no bairro da Bela Vista, em Setúbal. PSP encaminhou caso para Ministério Público e Inspecção-Geral da Administração Interna.
Contactado pelo PÚBLICO já na manhã deste domingo, o subcomissário David Vieira remeteu explicações para um comunicado emitido pela PSP e disse que não há mais informações sobre ocorrências na madrugada, depois de na noite de sábado terem sido identificadas algumas pessoas - nenhuma foi detida.
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Contactado pelo PÚBLICO já na manhã deste domingo, o subcomissário David Vieira remeteu explicações para um comunicado emitido pela PSP e disse que não há mais informações sobre ocorrências na madrugada, depois de na noite de sábado terem sido identificadas algumas pessoas - nenhuma foi detida.
Segundo a nota do Comando Distrital de Setúbal da PSP, no sábado, às 16h25, “na freguesia de S. Sebastião, em Setúbal, no decurso de uma intervenção policial que envolveu uma perseguição a um cidadão que desrespeitou a sinalização semafórica e a subsequente ordem de paragem dos elementos policiais, há a lamentar o despiste do mesmo que veio a culminar com seu falecimento no local”.
A PSP adianta que a perseguição “em parte ocorreu em artérias com sentido proibido” e que “foram efectuados dois disparos de intimidação, com arma shot gun com munição não letal”. O subcomissário David Vieira esclareceu que nestes casos os disparos não são feitos contra a pessoa em fuga mas sim para o ar.
“Os meios de socorro à vítima foram de imediato accionados pelos elementos policiais no local, mas não evitaram o desfecho fatal. Ainda no local há a registar danos em duas viaturas policiais fruto do arremesso de pedras por parte de cidadãos não identificados”, lê-se ainda na mesma nota, que adianta que a PSP encaminhou o caso para o Ministério Público e para a Inspecção-Geral do Ministério da Administração Interna, que vão dar continuidade às averiguações.
Fonte da PSP de Setúbal já tinha garantido no sábado que os agentes tinham feito os disparos com balas de borracha que não chegaram a atingir o jovem e disseram que este morreu na sequência do embate numa caixa da EDP, na zona das Manteigadas. O adolescente seguia numa mota, sem capacete, e não parou numa operação STOP, de acordo com agentes da PSP citados pelas repórteres da SIC e da TVI. Seguiu-se uma perseguição policial com os agentes a dispararem “dois tiros para o ar”, segundo a SIC, e “vários tiros sobre o veículo”, segundo a TVI.
Moradores disseram à TVI que o jovem foi atingido por balas da polícia, algo que contraria a versão agora apresentada pela PSP.
Insultos, pedras e incêndios
Logo no local onde o jovem morreu, vários populares insurgiram-se contra a polícia, acusando os agentes de terem assassinado o motociclista.
O caso rapidamente ganhou expressão no bairro e, depois de terem tido conhecimento do incidente, vários grupos de jovens incendiaram caixotes do lixo na noite de sábado. A polícia fez vários disparos de aviso. Os jovens responderam com insultos, pedras e incêndios.
Os momentos de tensão e confronto na Bela Vista começaram por volta das 20h, quando jovens na casa dos 20 anos e alguns mais novos começaram a queimar caixotes do lixo, insultar agentes e vandalizar carros e um autocarro.
Perto das 22h a polícia começou a disparar. Um grupo de jovens dispersou-se quando ouviu um desses tiros. Mas reagrupou-se rapidamente e incendiou caixotes do lixo na Rua Sacramento, seguindo depois pela Rua Padre José Maria Nunes da Silva, um dos limites do bairro, a poucos metros da esquadra de polícia, derrubando e queimando mais caixotes, ecopontos e pontos de recolha de roupa, entre uivos, assobios e gritos contra a PSP. Muitos moradores correram para os seus carros, tentando estacioná-los longe do bairro e da confusão. Mas houve veículos atingidos nos vidros com pedras que tinham como alvo a PSP.
O Bairro da Bela Vista foi palco, há alguns anos, de incidentes do género. Em Maio de 2009, um jovem ali residente morreu em Alvor, no Algarve, na sequência de um disparo da polícia que o havia surpreendido a cometer um roubo. O resultado deste incidente foram três dias de confrontos, com caixotes incendiados, pedras e troca de tiros e um ambiente de tensão que demorou a dissipar-se.