Um romance dentro de um blogue
Marcos Bessa, autor de “Memórias d’um Espelho Quebrado”, reeditou a obra, em blogue, seis anos depois da publicação em livro
“Em Portugal tinha-se vivido o 25 de Abril, a Revolução dos Cravos, havia quase dois anos, e todo o país estava ainda em fase de adaptação a um novo regime.”
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“Em Portugal tinha-se vivido o 25 de Abril, a Revolução dos Cravos, havia quase dois anos, e todo o país estava ainda em fase de adaptação a um novo regime.”
Assim começa o romance “Memórias d’um Espelho Quebrado”, de Marcos Bessa, actualmente a trabalhar na Dinamarca como designer da Lego. A obra tem vinte e sete capítulos e, na versão reescrita, zero páginas. Está tudo em blogue, seis anos depois da edição em livro.
“’Memórias d'Um Espelho Quebrado’ conta a história do primeiro amor de Madalena. Os primeiros capítulos da narrativa apresentam o início da pior fase da vida desta mulher. Perde tudo e passa por grandes dificuldades, grávida e com um filho pequeno”, explica ao P3 o autor deste romance.
Madalena irá “enfrentar as consequências dos seus próprios actos, mas também as dos actos daqueles que pensaram estar a fazer o melhor por quem mais amavam, num Portugal distante do nosso tempo, onde a liberdade era apenas um eco de uma canção de Zeca Afonso”.
Segunda edição
Esta não é a primeira versão desta obra. No final de 2006, Marcos Bessa, então com 17 anos, publicou o romance. Seis anos mais tarde, resolveu reescrevê-lo. As principais diferenças estão na escrita e, embora a narrativa tenha sido aperfeiçoada, a história é a mesma.
“Estendi alguns diálogos, de forma a melhor relatar factos, aperfeiçoei e demarquei melhor o carácter de alguns personagens centrais, e tomei a liberdade de corrigir pequenas incoerências da narrativa”, afirma Marcos Bessa.
Procura de uma editora
Publicar um livro não é fácil e quando se tem 17 anos ainda menos. O autor de “Memórias d’um Espelho Quebrado” reconhece que teve alguma sorte no processo, mas salienta a importância da persistência. Desenvolveu contactos com várias editoras e, em todas as respostas, a sobrecarga do calendário editorial era apontada como motivo de rejeição da obra.
Foi pela Papiro Editora que a publicação se tornou realidade. Marcos contactou a editora por intermédio de um professor e conseguiu a publicação de 500 exemplares. Desses, tinha que assegurar a venda de 250, objectivo que ficou próximo de atingir.
Contou com o apoio da Câmara Municipal de Paredes (o seu concelho) e, para a apresentação da obra, convidou o jornalista Carlos Daniel, da RTP. O autor apresentou também o seu livro em várias escolas, sempre por iniciativa própria. “A editora, infelizmente, pouco ou nada fez pela divulgação do livro”, lamenta. As críticas não ficam por aqui: “Ao fim de alguns anos, o único ‘pagamento’ que recebi da editora foram os restantes livros que ainda tinham em armazém.”
Crescimento literário
Aos 17 anos, Marcos Bessa não tinha muitas referências, mas confessa que “na ingenuidade de adolescente, acreditava poder escrever um livro sobre o amor entre dois irmãos que pudesse ser mais actual, mais interessante e mais leve” do que “Os Maias”, de Eça de Queirós. Apesar disso, a obra seguiu outro caminho e o autor não encontra “sequer resquícios” dessa ideia inicial.
Alguns escritores passam por uma certa "rejeição" dos seus primeiros textos, alguns anos após a sua produção. Não é o caso deste autor que, embora acredite que a sua escrita já não seja a mesma, não rejeita o texto inicial. Pelo contrário, afirma ter “orgulho e satisfação” pelo seu trabalho. Como prova disso mesmo, tatuou, no seu braço direito, um ambigrama da palavra “verdade”, retirada do título da obra da qual este romance é a primeira parte: “O Outro Lado da Verdade”.
A ideia de publicar um livro surpreendeu a família, uma vez que Marcos Bessa não é um leitor assíduo. Apesar disso, a recepção do seu romance foi boa e, garante o autor, os leitores “querem mais”. E há mais: um romance que está há seis anos “na gaveta” e que não será publicado antes de uma revisão do autor.