Nuno Azevedo diz que Casa da Música está em risco e critica "obediência cega aos ditames europeus"
A instituição corre o risco de "cair num abismo", alerta o administrador demissionário na semana em que o Conselho de Fundadores terá reunião decisiva.
“Tal como a conhecemos, a CM terá muitíssimas dificuldades em manter-se, caso o Estado não altere a sua posição”, afirmou, em declarações àquele semanário, um dia antes de uma acção dos trabalhadores da CM denominada “É uma Casa portuguesa com certeza”.
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“Tal como a conhecemos, a CM terá muitíssimas dificuldades em manter-se, caso o Estado não altere a sua posição”, afirmou, em declarações àquele semanário, um dia antes de uma acção dos trabalhadores da CM denominada “É uma Casa portuguesa com certeza”.
Os trabalhadores vão actuar este domingo em vários locais do Porto, com o objectivo de “divulgar e defender a missão da Fundação Casa da Música através de um conjunto de eventos de natureza artística, com acesso público e gratuito”. A acção, e as declarações de Nuno Azevedo, surgem no início de uma semana decisiva para o futuro da instituição – para sexta-feira, dia 22, está marcado o Conselho de Fundadores, no qual se espera que privados e Estado definam a estratégia para a CM.
Daí que Nuno Azevedo alerte para os riscos de a instituição cair “num abismo do qual será depois muito difícil sair”. Em causa está a decisão do Governo de aplicar um corte de 30% ao orçamento da CM, que foi confirmada em Outubro passado pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier. Tratou-se de um corte superior aos 20% que eram esperados e que tinham sido prometidos pelo anterior secretário de Estado, Francisco José Viegas, o que levou à demissão de todo o Conselho de Administração presidido por Nuno Azevedo.
Ao Expresso, Azevedo reiterou que “se quisermos continuar com este projecto precisamos de dez milhões”, sendo que a actual participação do Estado é de sete milhões (em 2006 era de 15 milhões). O assunto estará no centro da reunião de sexta-feira, da qual deverá sair o novo Conselho de Administração. O administrador demissionário disse esperar que seja encontrada uma saída para o actual impasse, mas confessou não ver sinais de que o Estado esteja disposto a alterar a sua posição. “Muitas das decisões tomadas em Portugal não são verdadeiramente pensadas, e resultam de uma obediência cega aos ditames europeus”, lamentou Nuno Azevedo.
A acção de domingo ocorre em vários espaços do Porto, e a partir das 16h a praça em frente à Casa da Música receberá “todos quantos queiram associar-se a esta acção e assistir à actuação de músicos do universo dos agrupamentos da CM e de outras formações amigas, em apresentações de vários géneros musicais, como música orquestral, jazz, rock, coral e experimental.”