Reacções nacionais: “Está aberta uma nova fase na vida da Igreja”

Mudança, início de uma nova fase na Igreja Católica. São as primeiras expectativas manifestadas por individualidades portuguesas após o anúncio de Jorge Mario Bergoglio como o novo Papa.

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ANDREAS SOLARO/AFP

Gabinete do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho
O Governo saúda “vivamente” a eleição do novo Papa, “líder espiritual de milhões de católicos espalhados por todo o mundo”. “Fazemos votos de que seja um pontificado de esperança e de paz, de diálogo entre os povos, de intervenção activa da Igreja nas grandes questões que desafiam a humanidade nos nossos dias, sendo o Papa um interlocutor destacado no grande espaço público da sociedade civil global.”

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Gabinete do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho
O Governo saúda “vivamente” a eleição do novo Papa, “líder espiritual de milhões de católicos espalhados por todo o mundo”. “Fazemos votos de que seja um pontificado de esperança e de paz, de diálogo entre os povos, de intervenção activa da Igreja nas grandes questões que desafiam a humanidade nos nossos dias, sendo o Papa um interlocutor destacado no grande espaço público da sociedade civil global.”

António Couto, bispo de Lamego
O Papa Francisco é “uma escolha que pode trazer mudança, na maneira de ser e das tradições da Igreja”, antevê ao PÚBLICO o bispo de Lamego, D. António Couto. Para além de ser o primeiro sul-americano, primeiro jesuíta e primeiro Francisco, o novo Papa surpreendeu, às primeiras palavras, ao pedir a bênção do povo e baixar a cabeça para a receber. D. António Couto, que antes da reunião magna dos cardeais, manifestara o desejo de que o novo líder da Igreja Católica viesse da América Latina, confessa-se “muito feliz” por isso e pela “ideia de missão, muito forte” que acredita que vai trazer. Ao mesmo tempo, mostra-se curioso por saber “qual Francisco” Jorge Bergoglio quis honrar, se o italiano de Assis, se o jesuita Xavier. Provavelmente os dois, por uma comum “forte ideia de missão”. Francisco de Assis, fundador da ordem dos Franciscanos, diz, “mudou o mundo, era próximo das pessoas e dirigia-se-lhes com carinho”. Francisco Xavier, jesuíta que partiu de Lisboa para a Índia, foi o “apóstolo dos tempos modernos, o seu maior missionário, viveu com simplicidade, no Oriente, onde morreu”, acrescenta. Por seguir o percurso de Jorge Bergoglio, especialmente desde que esteve no conclave que nomeou Bento XVI, o bispo de Lamego sublinha que o novo Papa é um homem “habituado a estar muito perto das pessoas e gosta de estar no meio delas”, está convicto de que “vai quebrar a distância, a barreira de segurança que o separa das pessoas”. Garante que “estar distante não é o seu estilo” e o que vai ser difícil à Igreja será fazê-lo “resistir” a não chegar às pessoas. “Veremos se a Igreja conseguirá manter todos os seus protocolos”, comenta. D. António Couto sublinha ainda que a América Latina é uma das zonas do globo onde a Igreja “está pujante e cheia de vida, onde ficam os dois maiores países católicos do mundo, o Brasil e o México”. Acresce a Argentina, sobretudo depois dos últimos 25 anos, período durante o qual o catolicismo “cresceu muito e foi buscar muita força à ideia de missão”. A mesma que acredita que vai agora fazer a diferença, a partir de Roma.

Padre Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa
"É uma eleição surpreendente, mas confiamos que seja uma boa surpresa. É uma abertura da igreja, uma igreja verdadeiramente católica, ou seja, global. Vem agora um Papa da América Latina e esperamos que traga, para a igreja universal, a experiência de uma igreja próxima dos pobres, jovem e viva, como é tradicionalmente a Igreja da América Latina. O Papa terá como missão reavivar a Igreja, começando naturalmente pela Cúria romana. Eu penso que evoca vários S. Francisco da Igreja Católica. São Francisco de Assis, grande reformador da Igreja e fundador da ordem dos Franciscanos. Também traz à memória S. Francisco Xavier, um dos fundadores da Companhia de Jesus, à qual o novo Papa pertence. Naturalmente por ser o primeiro jesuíta, é uma parte que fica na história. Já houve vários Papas, na história da Igreja, que pertenciam a ordens religiosas como beneditinos, franciscanos e dominicanos." 

Maria Carlos Ramos, uma das coordenadoras do movimento Graal
“Nesta altura, o que se esperava mesmo é que, qualquer que fosse o Papa, houvesse uma deslocação da Cúria para outro lado do mundo e, de lá, governasse a Igreja. Mas não, foi o mundo que se deslocou até à Cúria”, afirma Maria Carlos Ramos, uma das coordenadoras do movimento Graal, que reúne mulheres católicas. Para esta dirigente, a escolha de Bergoglio foi “desconcertante” por ser "do fim do mundo", a lembrar a cartografia traçada por Jesus”, por ter escolhido o nome de Francisco, “a evocar a pobreza e a evangelização inscritas nos nomes de Francisco de Assis e de Francisco Xavier”. Foi também “desconcertante” ao dizer “meus irmãos e minhas irmãs, boa noite”, “pela simplicidade com que se apresentou: pediu silêncio, o silêncio fez-se”, pela bênção que pediu ao povo, “pela unidade que criou no momento: rezou a oração central e essencial do Cristianismo”, o Pai Nosso. Deste desconcerto, Maria Carlos Ramos espera “a liberdade, a abertura à diversidade e à pluralidade, o cuidado e a inteligência na leitura dos ‘sinais dos tempos’. Ao Papa Francisco, o Graal propõe “que não perca de vista as Bem Aventuranças e que coloque na sua agenda a mobilização e a participação do povo de Deus na vida e estruturas da igreja; a voz e o contributo das mulheres; o diálogo ecuménico e inter-religioso; a formação e a ordenação sacerdotais; o mundo como lugar de desafio e de transformação; e a convocação de um Concilio Ecuménico, onde a alegria e a beleza da pluralidade congregue” os católicos.

José Manuel Pureza, investigador do Centro de Estudos Sociais, membro do BE
“Espero que este Papa seja um testemunho da mudança de vida de quem há dois mil anos mudou a história do mundo. Tem de ser uma Papa amante dos direitos das pessoas, da liberdade das pessoas e do risco que é as pessoas serem livres. Um risco dentro e fora da igreja.”

Anselmo Borges, Padre, teólogo e professor de Filosofia
“Era uma das figuras que tinha em mente. Já recebeu muitos votos em 2005 quando foi eleito o Papa Bento XVI. É um papa de fora da Europa mas tem uma formação e referências europeias. É um homem jesuíta, culto, simples, impoluto. Andava de transportes públicos em Buenos Aires. A escolha do nome Francisco pode ser uma referência a São Francisco Xavier, no sentido da abertura ao mundo, da continuação do diálogo inter-religioso, ou São Francisco de Assis no sentido da fraternidade e da alegria, de que temos que voltar ao evangelho sem glosa. Com ele, a constituição da igreja é o evangelho e não o código de direito canónico- Estou convencido de que vai ser um papa reformador da Cúria, vai ter um papel importante para combater a pedofilia entre o clero. Vai integrar os leigos. Ele vai tornar o celibato opcional e ordenar padres casados e não permitirá que as mulheres continuem a ser discriminadas, dando-lhes acesso ao sacerdócio.  A escolha foi muito rápida porque foi preciso encontrar uma terceira figura que fosse aceite pelas duas correntes do conclave.”

Manuel Clemente, Bispo do Porto
Manuel Clemente, considerou que a eleição do novo Papa, o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, “é um sinal bonito, importante e coincidente” da transferência da Igreja Católica para o hemisfério sul. Manuel Clemente considerou que “esta saída do papado da Europa para a América Latina (…) acerta o ritmo da Igreja com o ritmo do mundo”. O prelado destaca que o facto de o novo Papa ser oriundo da Argentina revela o que se tem vindo a acentuar “e que é óbvio, a deseuropeização da Igreja”, expressando a convicção de que “esta transferência para a América Latina” será também “em benefício da Europa”. Manuel Clemente salientou o trabalho de Jorge Mário Bergoglio “na província eclesiástica a que presidia até agora em Buenos Aires”, considerando-a “inovadora na pastoral, com a religiosidade popular e com este ambiente de novos movimentos religiosos”.

António Marto, bispo de Leiria-Fátima
António Marto considerou que, "naturalmente", a Igreja Católica Portuguesa quer a presença do novo Papa nas cerimónias do Centenário das Aparições de Fátima agendadas para 2017. O convite vai ser feito com "a devida antecedência", dada a agenda do papa, e tem que ser endereçado "não apenas a título de bispo da diocese, mas a nível da Conferência Episcopal Portuguesa", sublinhou António Marto. Para o prelado, o facto de o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, ter sido hoje eleito papa foi "uma boa escolha", vai dar "uma nova respiração, um novo ânimo à evangelização, porque traz um optimismo que se opõe a este cansaço espiritual e moral que se experimenta na Europa e que contagia a própria Igreja". O bispo de Leiria-Fátima acredita que Francisco I "traz a experiência dos problemas da pobreza e injustiça que se notam nos países da América Latina" e "um pensamento social para fazer face a este modelo económico, que está esgotado". António Marto conhece pessoalmente o novo papa, "desde o Sínodo dos Bispos em 2005", e destacou a sua "simplicidade encantadora", embora admita que não seja "muito efusivo". O bispo de Leiria-Fátima sublinhou que com esta escolha a Igreja Católica "deixou de ser eurocêntrica".

Associação Rumos Novos - Homossexuais Católicos
A associação que representa os homossexuais Católicos em Portugal manifestou o seu "profundo desalento" pela escolha do cardeal argentino Jorge Bergoglio como sucessor de Bento XVI, pelas suas posições contra a homossexualidade e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. "Neste momento de alegria para todos nós católicos, não podemos deixar de partilhar o nosso profundo desalento pela escolha do cardeal argentino Jorge Bergoglio para papa. Enquanto homossexuais católicos, não nos podemos esquecer das inúmeras posições públicas e no seio da igreja do cardeal Bergoglio", afirma a Associação Rumos Novos em comunicado. Os homossexuais católicos recordam que o novo papa, Francisco I, se referiu ao casamento entre pessoas do mesmo sexo como sendo "um plano de Satanás para enganar os filhos de Deus" e às pretensões dos fiéis homossexuais católicos como a "destruição do plano de Deus". A associação admite que estas palavras causaram "mágoa e dor a muitos homossexuais católicos em todo o mundo", deixando-os "naturalmente apreensivos" sobre a postura da igreja. "Um novo Papa deveria, obedecendo a Deus, estar ao serviço do Homem e saber ler os sinais dos tempos", defendem, recordando o Concílio Vaticano II.

Esther Mucznik, representante da comunidade judaica em Portugal
Esther Mucznik, felicitou o mundo católico pela escolha do novo papa, esperando que Jorge Mario Bergoglio mantenha o diálogo inter-religioso e o bom relacionamento com o Estado de Israel. Esther Mucznik começou por felicitar o mundo católico pela eleição do novo papa, uma vez que se trata de “um momento muito importante para os católicos”, admitindo que a comunidade judaica não é indiferente a este momento. “Como judia e como representante da comunidade judaica, espero que este papa mantenha o mesmo diálogo e o mesmo bom relacionamento, iniciado com o Vaticano II, com o mundo judaico e com as outras religiões”, adiantou, sublinhando que isso está relacionado com a paz mundial. Por outro lado, afirmou ter alguma expectativa que “se mantenha o bom relacionamento com o Estado de Israel”. Esther Mucznik apontou ainda a nacionalidade argentina do novo papa, como reflexo de a Europa ter deixado de ser o centro do mundo católico.

Mendes Amaro, presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas na Argentina
Mendes Amaro disse que o novo papa é visto em Buenos Aires como um homem lutador, defensor da igreja e com alguma discordância com as políticas do Governo argentino. “É visto como um homem lutador, defensor da igreja e com alguns problemas com o Governo. Aparentemente não está muito de acordo com a política deste Governo”, disse à agência Lusa Analido Mendes Amaro. O português que vive há mais de 50 anos na Argentina adiantou que os argentinos foram apanhados de surpresa com a eleição do cardeal-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mário Bergoglio, como novo papa. “Quando surgiu a notícia, foi algo inesperado para a Argentina”, afirmou, adiantando que, em Buenos Aires, há alguns carros nas ruas a buzinar.

Sheik Munir, líder da comunidade islâmica
"Desejamos muitas felicidades e que o diálogo inter-religioso seja mais permanente. Desejamos uma vida abençoada, um trabalho abençoado e uma vida abençoada para toda a humanidade. [em relação à escolha do nome Papa Francisco I] Não esperava que fosse Francisco."

Eliezer Shaidi Martino, Rabino da Sinagoga de Lisboa
"Eu não conheço este novo papa que é argentino. Nós esperamos que continue a relação positiva dos últimos papas com a comunidade judaica. Do ponto de vista humano, que resolva os problemas internos que afectaram a igreja nos últimos tempos. E que seja bom, não só para a comunidade católica, dada a influência da igreja e do Vaticano, mas para o mundo em geral."

Pedro Gil, porta-voz da Opus Dei em Portugal
Esta eleição é um motivo de alegria para toda a igreja. A simplicidade e a alegria do papa conquistaram os corações de crentes e não crentes. Este é o momento de todos nos colocarmos junto do novo papa, de nos dispormos a seguir muito de perto o caminho que quiser percorrer. Eu acho que devemos esperar para saber a que se queria referir. Mas todos podemos encontrar ressonâncias sobre a simplicidade e pureza de um Francisco de Assis e também o ardor evangélico apostólico de Francisco Xavier.

Dharmesh Pravinkanit, relações públicas da Comunidade Hindu
“Esperamos que este papa venha a transmitir uma mensagem que eleve a moral dos jovens. É uma altura de meditar, reflectir, olhar para o passado e encarar o futuro com esperança, coragem e confiança.”

António Vitalino Dantas, bispo de Beja
António Vitalino Dantas considerou que o novo papa, o cardeal-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, "deverá conhecer bem os problemas das novas Igrejas e pode ser um grande impulsionador" da Igreja Católica. "É muito importante que venha de um país emergente e da América Latina" e, com 76 anos, “terá com certeza muita energia para ser um sinal forte para o nosso tempo", sublinhou António Vitalino Dantas. O prelado lembrou que quando foi eleito Joseph Ratzinguer, o cardeal-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio "também esteve na rampa de lançamento", admitindo que era mais jovem, mas expressou a sua convicção de que "não será também um papado muito longo e que o mundo está a sofrer grandes mudanças".

António Carrilho, Bispo do Funchal
O bispo do Funchal manifestou-se convicto de que a eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio como sucessor do Papa Bento XVI pode dar um “impulso novo” à Igreja Católica. António Carrilho expressou “confiança e esperança num impulso novo que, certamente, será dado à Igreja com o novo papa”. Considerando que se trata de um momento histórico e de esperança, o prelado realçou, em declarações ao Jornal da Madeira, a forma como o Papa se apresentou à multidão que o aguardava na praça de São Pedro, no Vaticano: com “humildade e com os olhos postos em São Francisco, apelando à fraternidade”. António Carrilho acrescentou que a Diocese do Funchal associou-se à “alegria” dos católicos presentes em Roma e espalhados pelo mundo também "com o toque de sinos em várias igrejas".

Agostinho Borges, reitor da Igreja de Santo António dos Portugueses em Roma
Agostinho Borges, considerou que o cardeal-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, eleito hoje papa da Igreja Católica, "é um homem de santidade e determinação". "Os cardeais escolheram uma pessoa que mostra ser de uma extrema simplicidade, de uma igreja nova que é a América Latina", referiu à agência Lusa o padre Agostinho Borges, acrescentando que a eleição do argentino "é uma coisa inesperada". Agostinho Borges salientou que não esperava que do Conclave saísse um chefe da igreja sul-americano e afirmou que a simplicidade de Jorge Bergoglio, que adoptou o nome de Francisco I, foi evidente quando, "antes de dar a bênção à cidade e ao Mundo, pediu que rezassem por ele". Em referência ao nome escolhido pelo novo Papa [Francisco], o responsável da Igreja de Santo António dos Portugueses em Roma realçou que Jorge Bergoglio "quer encarnar, de certa maneira, o papel de Francisco de Assis", frade católico italiano que viveu nos finais do século XII e princípios do XIII e que se dedicou aos pobres. "[O papa] quer ter uma palavra de consolação em relação aos mais pobres e dizer que os mais pobres também têm uma presença activa na sociedade e que a paz se pode e deve fazer com a Igreja e, além disso, conseguiremos chegar à paz se conseguirmos converter o coração. Este Papa - de uma maneira simples, mas contundente - quer chegar com esta mensagem a todas as pessoas", notou o eclesiástico.

Alexandre Bonito, comunidade ortodoxa
Alexandre Bonito, padre da comunidade ortodoxa em Portugal, da disse ter ficado tranquilo com a escolha dos católicos e esperar que Francisco I estimule o diálogo ecuménico. “Fiquei feliz com a escolha e, apesar de não conhecer muito, pelo que eu percebo é importante ser um cardeal com um trabalho muito próximo das pessoas e no momento actual em que o mundo se encontra isso é uma esperança”, apontou o sacerdote. Disse acreditar, por outro lado, que o posicionamento do novo papa em relação ao diálogo com as outras religiões será uma prioridade. “Sinto-me em paz e com bastante esperança no caminho que os nossos irmãos católicos [vão fazer] a partir desta nova janela de luz que se abre para a Igreja [Católica]. Sinto essa esperança, principalmente no diálogo e na proximidade com o povo de Deus, com o povo cristão”, sublinhou Alexandre Bonito.

Moisés Espírito Santo, sociólogo das religiões
Moisés Espírito Santo considerou que o papa Francisco é visto como um “messias” que vem "melhorar as coisas", mas
"pode ser coagido a não mudar muito" pela estrutura da Igreja Católica. "Há muito [nesta mudança de Papa] de messianismo. O novo é sempre melhor do que aquele que passou. Há assim uma certa esperança de que este papa melhore as coisas. Mas também pode ser coagido a não mudar muito, porque a estrutura da igreja é tal que as mudanças não são muito fáceis", considerou Moisés Espírito Santo à agência Lusa. Para o professor da Universidade Nova de Lisboa, a pedofilia, a segregação sexual e a sexualidade são alguns dos temas "mais difíceis, mas mais urgentes", na agenda do papa Francisco. "São as mães e avós que transmitem as doutrinas católicas, mas não têm direito às chefias. Esse é dos problemas mais graves, a segregação sexual", apontou. "Depois, há outro problema que complica muito a influência da igreja no mundo: a sexualidade. A igreja tem uma visão muito restrita e medieval da sexualidade. É a única igreja no mundo que considera a sexualidade como um pecado e que valoriza a castidade como atributo de salvação. A igreja nisso tem de mudar forçosamente, porque senão é ultrapassada", defendeu Moisés Espírito Santo.

Fernando Ventura, teólogo e frade franciscano
O frei Fernando Ventura considerou que o novo Papa representa a passagem para o exterior de uma imagem da Igreja Católica “que quer abandonar o poder, para viver a lógica do serviço”. “Este sinal chega com o papa Francisco, com o homem que vem dos bairros de lata, das ‘villas-miséria’ de Buenos Aires, que toca a estrada e que tem a escola de uma Igreja feita no meio dos pobres, com os pobres e pelos pobres”, disse à Lusa o frade franciscano da Ordem dos Capuchinhos, a propósito da eleição do cardeal arcebispo argentino Jorge Bergoglio, como sucessor de Bento XVI. O frei Fernando Ventura entende também que a escolha do nome Francisco, apesar de inédita, “é perfeitamente explicável” pela referência a S. Francisco de Assis, que “supõe para a Igreja um momento de mudança”. “É profético e é um sinal que vem ao arrepio das lógicas do poder e das lutas do poder e pelo poder”, acrescentou o religioso português. Frei Fernando Ventura atribui ainda grande significado ao facto de o novo papa ser argentino, uma vez que entende que “a vitalidade da Igreja está na América Latina, e na América Latina de língua espanhola”, pela “atitude diferente” de um “continente inteiro sofrido”. A eleição de Francisco "traz consigo a força da solidariedade, que terá que ser o símbolo deste papa”, disse.

António Vaz Pinto, padre jesuíta
António Vaz Pinto congratulou-se com a escolha de Jorge Bergoglio para novo papa, considerando que a escolha de um argentino representa “um óptimo sinal de catolicidade”. Numa reacção à agência Lusa sobre a eleição do novo papa, o padre Vaz Pinto manifestou ainda “alegria” por se ter resolvido “este impasse, que não foi nada dramático e que foi perfeitamente expectável” e “simultaneamente de admiração pela pessoa escolhida”. “Porque foi uma pessoa de quem não se falou muito, mesmo nada até, dizem agora que terá sido muito votado no anterior conclave - não sei se é verdade - e também foi o anterior [Bento XVI]”, acrescentou. Congratulou-se ainda por a escolha do colégio cardinalício ter recaído sobre um jesuíta, a mesma ordem a que pertence. "E nós jesuítas não temos esse hábito, esse treino". Sobre a escolha do nome Francisco - e ainda que se desconheça se pretende evocar S. Francisco de Assis ou S. Francisco Xavier ou ambos -, o padre Vaz Pinto disse que, independentemente de quem pretenda invocar, a escolha do nome pode augurar “um desejo de pobreza”. “Os dois Franciscos viveram com uma grande austeridade, a reforma da Igreja - o S. Francisco de Assis, na sua simplicidade e humildade, conseguiu uma reforma muito grande da Igreja do seu tempo -, e também um espírito missionário típico do S. Francisco Xavier que partiu da Europa, passou por Portugal, e passou toda a vida empenhado nos outros e no serviço aos outros, na evangelização”.