José Eduardo Agualusa diz que Portugal tem mais a ganhar com acordo ortográfico do que o Brasil
Em Macau para participar no Festival Literário – Rota das Letras, o escritor angolano lembra que são as editoras portuguesas que querem entrar no mercado brasileiro.
“As editoras brasileiras têm ainda imenso espaço para ocupar no Brasil, não estão preocupadas nem com Portugal nem com África, e quem está a entrar no Brasil são as editoras portuguesas. Portanto, o acordo ortográfico, desse ponto de vista, é sobretudo benéfico para as editoras portuguesas, não para as brasileiras, e se alguém fosse beneficiar seria Portugal”, disse o escritor.
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“As editoras brasileiras têm ainda imenso espaço para ocupar no Brasil, não estão preocupadas nem com Portugal nem com África, e quem está a entrar no Brasil são as editoras portuguesas. Portanto, o acordo ortográfico, desse ponto de vista, é sobretudo benéfico para as editoras portuguesas, não para as brasileiras, e se alguém fosse beneficiar seria Portugal”, disse o escritor.
Durante um encontro com alunos da Escola Portuguesa de Macau, no âmbito do Festival Literário – Rota das Letras, Agualusa, questionado sobre a sua posição em relação ao acordo ortográfico, disse “não ter já paciência para falar” sobre o assunto, porque ele “não é interessante”. “Defendo uma ortografia comum”, reiterou, considerando “não haver nenhuma vantagem em existir mais do que uma ortografia no mesmo espaço linguístico”.
Se houvesse, continuou, “porque não ter mais do que uma ortografia em Portugal, por exemplo? Os alentejanos têm o seu português, os lisboetas têm o seu português, os algarvios também, mas todos escrevem com a mesma ortografia”. O acordo ortográfico é importante, na perspectiva de José Eduardo Agualusa, “para países como Angola e Moçambique, que produzem poucos livros e importam mais, de Portugal e do Brasil e, de repente, há duas ortografias no mesmo território, o que confunde as pessoas, especialmente as que estão a chegar agora ao livro”.
“Nunca entendi por que houve tanta celeuma em relação ao acordo, porque é uma coisa que não interfere com a vida das pessoas”, disse, salientando que “Vasco Graça Moura errou no dramatismo, porque o que ele dizia era que o mundo ia acabar com a aplicação do acordo, era como um desastre global”. “Mas a verdade é que não conheço um único caso de diarreia, ninguém passou mal porque o acordo começou a ser aplicado”, disse.
O acordo ortográfico “tem uma relevância muito pequena”, mas “tem importância sobretudo para os países que importam livros”, rematou.