Filósofo José Gil alerta para a possibilidade de os protestos darem origem a violência

No programa "Gente que Conta", deste domingo, José Gil prevê uma mudança profunda da mentalidade dos portugueses.

Foto
José Gil na última aula que deu na Universidade Nova de Lisboa em Março de 2010 Enric Vives-Rubio

“Pela primeira vez, os portugueses estão a entrar numa mudança da sua mentalidade profunda”, afirmou José Gil. “Eles já não se vão contentar com (…) o viver em círculo sempre, fugir sempre à realidade, numa irresponsabilidade. Não. Pela primeira vez o português encontrou a realidade. Como? Quando lhe tiraram tudo, todas as possibilidades. Ele agora já não tem que sonhar porque não pode sonhar.”

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Pela primeira vez, os portugueses estão a entrar numa mudança da sua mentalidade profunda”, afirmou José Gil. “Eles já não se vão contentar com (…) o viver em círculo sempre, fugir sempre à realidade, numa irresponsabilidade. Não. Pela primeira vez o português encontrou a realidade. Como? Quando lhe tiraram tudo, todas as possibilidades. Ele agora já não tem que sonhar porque não pode sonhar.”

Sobre a manifestação do passado dia 2, que juntou pelo menos um milhão de pessoas nas ruas de várias cidades de Portugal, ela resultou de “um desejo de afirmação” e de “um protesto porque o que se está fazendo é a abolição da existência possível das pessoas”.

“Isto, para mim, é uma fase de um processo que pode ser gravíssimo, que pode dar violência.” E por isso também assustará o Governo. “O que mete medo ao Governo não são as manifestações dos sindicatos, dos partidos. Tudo isso está ordenado, está codificado, já se sabe para onde vai. Agora aquilo que é solto, que é imprevisível , (…) que não tem ideologia, pode ser impossível de captar e de domar e é disso que o poder tem medo.”

O poder actual “navega à vista”. “Quem governa?” O filósofo pergunta e responde: “A troika e Vítor Gaspar. Qual é a teoria económica? (…) Não há uma teoria global.”

Quando o tema é o Presidente da República, “a sua acção é insuficiente”, considera o filósofo que diz que tanto Cavaco Silva como os membros do Governo “estão a milhares de léguas da população e da realidade”.