O facilitador da comunicação
É, talvez, um problema geracional este de considerar um profissional de comunicação como uma espécie de central telefónica, para quem o jornalista telefona se necessitar de uma determinada informação
Jornalismo, assessoria e publicidade nem sempre são a Santíssima Trindade dos conteúdos informativos que chegam ao consumidor final. Partindo de quem acaba por ter a palavra final quanto ao que vai ser publicado, há por vezes relutância em aceitar o segundo como parceiro de comunicação, como facilitador e aliado para a construção de uma mensagem sólida e credível, ficando relegada para o departamento dos comerciais o terceiro vértice deste triângulo.
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Jornalismo, assessoria e publicidade nem sempre são a Santíssima Trindade dos conteúdos informativos que chegam ao consumidor final. Partindo de quem acaba por ter a palavra final quanto ao que vai ser publicado, há por vezes relutância em aceitar o segundo como parceiro de comunicação, como facilitador e aliado para a construção de uma mensagem sólida e credível, ficando relegada para o departamento dos comerciais o terceiro vértice deste triângulo.
Debrucemo-nos concretamente sobre a relação entre jornalistas e assessores de comunicação – também apelidados de “assessores de imprensa” pela velha escola. É, talvez, um problema geracional este de considerar um profissional de comunicação como uma espécie de central telefónica, para quem o jornalista telefona se (e apenas se) necessitar de uma determinada informação para consolidar a notícia que está a construir.
Ora, é precisamente neste ponto que reside um dos grandes equívocos de parte dos media nacionais. Se não, vejamos: o jornalista “A” precisa de consultar um especialista em determinada área do saber para elaborar a notícia com precisão; acontece que o dito especialista trabalha numa instituição ou empresa e é por conta dos recursos disponibilizados por essa mesma entidade patronal que adquire o saber e a visibilidade pública suficientes para ser consultado em determinada área. Isto é, o jornalista não vai ouvir um cidadão qualquer; vai ouvir um especialista. A pergunta é, pois, muito simples: por que motivo há diferenciação entre a identificação de um professor universitário (surge com o nome e a faculdade onde lecciona), e um especialista de uma empresa (muitas vezes identificado apenas pelo nome e uma coisa vaga como “engenheiro electrotécnico”)?
O reverso da medalha
Este escrúpulo levado ao limite não só é contraproducente, como também acaba por ter um reverso da medalha. Quantas vezes não nos deparamos com notícias, reportagens ou entrevistas em que a fonte de informação é identificada como “engenheiro electrotécnico” (mas onde?, que competências e credibilidade tem?), para logo depois nos ser apresentado um trabalho sobre o produto “x” lançado pela empresa “y”? Que levante o dedo quem nunca tropeçou em casos como este… Em nome do serviço ao público, um jornalista procura um especialista para explicar determinado assunto. Deve, com a mesma honestidade, divulgar a sua fonte. Por respeito a quem dá a informação e sobretudo por aquele que é informado.
Nos fait-divers esse escrúpulo parece não existir. As chicletes Gorila, os pastéis de Belém, os bolos-rei, as pastelarias "low cost" são tão nacionais quanto os especialistas que se disponibilizam para ajudar o jornalista a perceber o corpo da lei ou os números da economia – porque o jornalista não é obrigado a saber tudo, mas antes deve procurar a melhor fonte de informação. E, nos primeiros, os entrevistados não têm a mera designação de empresários ou de pasteleiros. É aqui que entram dois elementos básicos das relações entre os profissionais do jornalismo e os da assessoria de comunicação: a compreensão e o respeito pela função destes, enquanto facilitadores da circulação de conhecimento.
Porque é disso que se trata quando estamos a falar de citar um especialista nesta ou naquela matéria. Trata-se de alguém que vai despender algum do seu tempo (que, como se sabe, é dinheiro) para poder ajudar a melhorar e a credibilizar os conteúdos produzidos pelos media e que, por isso, tem direito ao mais elementar dos direitos, o de ser identificado com a mesma precisão com que partilhou o seu saber. Este tema é, ainda, passível de ferir algumas susceptibilidades, mas a arte de fazer jornalismo não pode ser um território sagrado e que aquela só pode ser debatida e decidida pela classe. Acredito que, com a crescente especialização dos profissionais de assessoria de comunicação, o velho estereótipo do “assessor de imprensa” caia e, assim, as duas profissões sejam vistas como aliadas.