“O Apartamento” (“The Apartment”), de Billy Wilder (1960)

Vejamos, desta vez, como é possível falar de solidão com muito espírito e alguma esperança, como acho que nos convém

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Deixem-me apresentar-lhes o Sr. C. C. Baxter, perdido em Nova Iorque. Durante o dia, à sua secretária, como contabilista de uma companhia de seguros, carregando nos botões da sua máquina de calcular electromecânica como se jogasse numa máquina de casino, entre um mar de secretárias onde outros aparentes seres humanos se despersonalizam, tal como ele, a serem elos uniformes de uma cadeia de “um bem maior”. Durante a noite, nas ruas ou nos bares, fazendo horas para voltar ao seu pequeno apartamento onde a solidão se sente mais ainda, mas de cuja comercialização espera que lhe saia o tão ansiado “jackpot” que a máquina de calcular não lhe dará.

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Deixem-me apresentar-lhes o Sr. C. C. Baxter, perdido em Nova Iorque. Durante o dia, à sua secretária, como contabilista de uma companhia de seguros, carregando nos botões da sua máquina de calcular electromecânica como se jogasse numa máquina de casino, entre um mar de secretárias onde outros aparentes seres humanos se despersonalizam, tal como ele, a serem elos uniformes de uma cadeia de “um bem maior”. Durante a noite, nas ruas ou nos bares, fazendo horas para voltar ao seu pequeno apartamento onde a solidão se sente mais ainda, mas de cuja comercialização espera que lhe saia o tão ansiado “jackpot” que a máquina de calcular não lhe dará.

O Sr. Baxter (Jack Lemmon), provando que é verdadeiramente um homem da sua terra, solitário mas empreendedor, descobriu uma forma de se destacar das centenas de outras formigas laboriosas da sua empresa e angariar apoio, entre quem interessa, ao seu dinamismo empresarial, ao seu espírito de iniciativa, para eventualmente o chamarem a ocupar o seu lugar à mesa dos deuses, que, naquela empresa, se situa no 27.º andar: ceder o seu apartamento, durante a noite, para os encontros amorosos ilegítimos dos chefes de departamento da empresa, numa rotatividade bem oleada, de modo a não melindrar nenhum deles. Em troca, Baxter recebe promessas de palavras abonatórias nos seus relatórios para o presidente da companhia, Sr. Sheldrake (Fred MacMurray), quando se aproxima o preenchimento de uma vaga importante. No entanto, uma simples ascensorista, Menina Fran Kubelik (Shirley MacLaine), desregula, sem querer, este maquinismo, suscitando interessantes desenvolvimentos na intriga.

Tal como é regra nos filmes de Billy Wilder, as suas capacidades como argumentista e como escritor de diálogos (aqui com o concurso de I. A. L. Diamond) são complementadas pelas de direcção de actores e de condução geral do projecto. Depois, trata-se de um filme assente na dupla Jack Lemmon-Shirley MacLaine, tal como “Irma La Douce”, embora em tom mais realista, mais contido, mas sempre com uma fantástica exibição do que um e outro eram capazes de dar na arte da representação. É claro que na receita do sucesso contam todos os pormenores, entre os quais o de não sacrificar a harmonia do todo à negligência na escolha dos intérpretes das ditas “figuras menores” ou “secundárias”, tais como os vizinhos de Baxter, os seus citados superiores hierárquicos, a mulher solitária no bar, com especial incidência no caso de Fred MacMurray, actor multifacetado aqui mantendo um registo semelhante ao desse outro grande filme de Wilder, “Pagos a Dobrar”, que já apresentámos.

Vejamos, desta vez, como é possível falar de solidão com muito espírito e alguma esperança, como acho que nos convém.