Morreu o arquitecto Manuel Vicente
Há uma semana que o arquitecto estava internado. Morreu aos 78 anos.
Figura de destaque em Macau, onde viveu muito tempo e desenvolveu grande parte do seu trabalho, Manuel Vicente não resistiu à doença, como confirmou ao PÚBLICO o arquitecto Manuel Graça Dias.
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Figura de destaque em Macau, onde viveu muito tempo e desenvolveu grande parte do seu trabalho, Manuel Vicente não resistiu à doença, como confirmou ao PÚBLICO o arquitecto Manuel Graça Dias.
Responsável por obras como o conjunto habitacional Fai Chi Kei, que lhe valeu a Medalha de Ouro da ARCASIA, ou a Casa dos Bicos, onde recentemente voltou a trabalhar na reconstrução e adaptação para a Fundação José Saramago, Manuel Vicente nem sempre foi um homem consensual, lembra Graça Dias. “Ele não tinha medo de enfrentar as pessoas, acreditava até que o conflito podia resolver as coisas, e isso impedia que se gerasse uma grande simpatia à sua volta, as pessoas afastavam-se”, diz Graça Dias, para quem o amigo com esta postura pôs as pessoas a pensar. “E isso é uma qualidade.”
Ao longo da sua carreira trabalhou com nomes conhecidos da arquitectura portuguesa como Nuno Teotónio Pereira, Conceição Silva, Chorão Ramalho ou Fernando Távora, mas foi longe de Portugal que Manuel Vicente desenvolveu mais trabalho. “Deixa-nos uma obra notável, com destaque para o que fez em Macau, onde não se importou de trabalhar às vezes sem as condições ideias”, acrescenta Graça Dias, destacando o gosto de Manuel Vicente pelas coisas menos óbvias. “A forma como criava, o seu gosto pela relação da arquitectura com as cidades. Manuel Vicente deixa-nos, acima de tudo, perspectivas.”
Em 1987 recebeu o Prémio AICA/MC (Associação Internacional de Críticos de Arte/Ministério da Cultura), que todos os anos distingue um nome consagrado na área das Artes Visuais e outro na área da Arquitectura. No entanto, nem este reconhecimento gerou consenso no meio. “A sua obra foi sempre mal amada e mal conhecida”, diz Graça Dias, para quem o trabalho de Manuel Vicente não era para o “gosto corrente”.
Formado na Escola de Belas Artes de Lisboa, Manuel Vicente prosseguiu depois os estudos nos Estados Unidos, na Universidade da Pensilvânia, ao lado de Louis Khan. Professor de arquitectura desde 1970, Manuel Vicente foi ainda membro da Comissão Instaladora da Associação de Arquitectos Portugueses e, mais recentemente, foi vice-presidente da Ordem dos Arquitectos, entre 2002 e 2007.
Em 1994 recebeu o Prémio da Associação de Arquitectos de Macau e em 1998 foi agraciado pelo então Presidente da República Jorge Sampaio com o grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito.
“Neste momento lembro-me da sua personalidade, a sua alegria e a forma como se interessava por coisas aparentemente menores, influenciou muitos alunos e amigos”, conclui Graça Dias.
O corpo do arquitecto vai estar em câmara ardente na Capela do Rato, em Lisboa. No domingo é celebrada uma missa às 18h, estando marcada a cerimónia de cremação para segunda-feira no Cemitério do Alto de São João, às 10h.
Sobre a sua obra em Macau:
Notícia actualizada às 18h37:
acrescentada a informação sobre a cerimónia fúnebre