Servir dois Papas pode ser o futuro de Georg Gänswein

O monsenhor alemão é uma das figuras mais carismáticas no Vaticano. O seu futuro com a saída de Bento XVI é agora uma das dúvidas por esclarecer.

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Gänswein acompanha Bento XVI há cerca de dez anos Max Rossi/Reuters

Nascido a 30 de Julho de 1956, em Waldshut, uma pequena cidade na Floresta Negra, na zona sudoeste da Alemanha, Georg Gänswein é o mais velho de cinco irmãos. Nas biografias disponíveis, o seu porte atlético é sempre referido. Além de ter jogado ténis, foi instrutor de ski na sua terra natal.

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Nascido a 30 de Julho de 1956, em Waldshut, uma pequena cidade na Floresta Negra, na zona sudoeste da Alemanha, Georg Gänswein é o mais velho de cinco irmãos. Nas biografias disponíveis, o seu porte atlético é sempre referido. Além de ter jogado ténis, foi instrutor de ski na sua terra natal.

Aos 18 anos decide seguir o sacerdócio e dá os primeiros passos enquanto padre na arquidiocese de Freiburg im Breisgau. Especializa-se em Direito Canónico na Universidade Ludwig-Maximilians em Munique, em 1993, e após dois anos a trabalhar como juiz num Tribunal Canónico diocesano, já em Roma, entra para a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. É depois transferido para a Congregação para a Doutrina da Fé, em 1996, ano em que começa a dar aulas de Direito Canónico na Pontifícia Universidade da Santa Cruz.

Quatro anos depois é nomeado capelão do Papa João Paulo II e recebe o título de Monsenhor. Em 2003 inicia aquele que será o seu trabalho até agora: torna-se secretário pessoal do cardeal Joseph Ratzinger, função que mantém quando o cardeal é eleito Papa em 2005, após a morte de João Paulo II. Em 2012, Georg Gänswein continua a receber demonstrações de confiança por parte de Bento XVI, quando em Dezembro é nomeado prefeito da Casa Pontifícia, no Vaticano, e já em Janeiro deste ano, aos 56 anos, chega a arcebispo de Urbisaglia, em Itália.

Ao monsenhor alemão foi também atribuído recentemente outro título, mas em nada relacionado com o mundo eclesiástico, o de “Gorgeous George” ou “George Deslumbrante”. A serenidade associada aos olhos azuis e cabelo grisalho levaram mesmo a edição italiana da revista Vanity Fair a publicar um artigo com fotografias de Gänswein sob o título: “Padre Georg – ser bonito não é pecado”.

Mais poderes como prefeito da Casa Pontifícia
A mais recente actualização na sua carreira eclesiástica confere a Gänswein novos poderes. Como prefeito da Casa Pontifícia é responsável pelo serviço de acolhimento e organização das “audiências solenes que Sua Santidade concede a chefes de Estado, chefes de Governo, ministros e outras personalidades”, explica o site do Vaticano. Todas as autorizações para audiências e visitas ao Papa passam também por Georg Gänswein, tal como os preparativos quando o “Santo Padre sai do Palácio Apostólico para visitar Roma ou Itália”.

As duas últimas promoções recebidas surgem cerca de um ano depois do escândalo Vatileaks, no qual o mordomo de Bento XVI, Paolo Gabriele, outro dos homens próximos do Papa, foi acusado e condenado pelo roubo de documentos confidenciais do Vaticano.

A presença de Paolo Gabriele junto do Papa durante anos implicou que o mordomo tivesse também uma relação de proximidade com Georg Gänswein. Se alguma dúvida existiu quanto ao possível envolvimento ou incompetência do monsenhor neste caso, essa terá deixado de existir com a sua nomeação para prefeito da Casa Pontifícia. O Vatican Insider recorda que quando recebeu a distinção e questionado sobre a responsabilidade no cargo que ocupa, Georg Gänswein respondeu com uma analogia sobre vidros de uma janela: “Pessoalmente encaro o meu papel e serviço ao Papa como os vidros de uma janela. Uma vidraça é uma vidraça quando está limpa. Quanto mais limpa estiver mais cumpre a sua função. Se se suja ou parte continua a ser uma vidraça mas não cumprirá o seu propósito”.

O poder que tem na hierarquia da Igreja é reforçado com as relações de proximidade que mantém com alguns dos mais importantes responsáveis dentro do Vaticano, como o subsecretário do Vaticano para as Relações com os Estados, Ettore Balestrero, ou o comandante da polícia do Vaticano, Domenico Giani. O Vatican Insider acrescenta a estes dois nomes o de um político, Federico Toniato, vice-secretário do primeiro-ministro italiano Mario Monti, uma relação que começou antes de Toniato assumir as suas actuais funções.

Que futuro depois de Bento XVI?
Com a nomeação de monsenhor Georg Gänswein como prefeito da Casa Pontifícia surgiram as primeira dúvidas sobre se se manteria no cargo de secretário pessoal de Bento XVI ou, a manter-se, de que forma iria conjugar as duas funções. O porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, confirmou, em conferência de imprensa, a 15 de Fevereiro, que Georg Gänswein iria manter-se como secretário pessoal de Bento XVI e que iria acompanhá-lo durante o período de reclusão na residência papal de Castel Gandolfo, iniciado a 28 de Fevereiro. O alemão manterá ainda o cargo de prefeito da Casa Pontifícia após a escolha do futuro Papa e continuará a viver perto de Bento XVI num pequeno convento dentro das paredes do Vaticano.

O papel que o arcebispo terá no próximo pontificado é certo enquanto prefeito da Casa Pontifícia, já que nessa função irá trabalhar de perto com o novo Papa. Mas se se mantiver como secretário pessoal de Bento XVI poderão surgir questões quanto à possível influência do Papa emérito junto do seu sucessor através de Georg Gänswein.

O porta-voz do Vaticano nega que possam ocorrer interferências ou conflitos de interesses por parte de Georg Gänswein junto do futuro Papa: “É uma função muito prática, lidar com a agenda do Papa. Não está ligada a questões de governo”. “Penso que o prefeito da Casa Pontifícia tem uma competência que não diz respeito ao governo, doutrina ou decisões ao nível governamental”, reforçou Lombardi.