Daniel Oliveira abandona Bloco entre acusações de “sectarismo”
Direcção fala em “imaginação” do fundador.
Na sua carta à direcção do BE, Daniel Oliveira resume, logo no início, aquilo que o levou a ser crítico da anterior direcção e agora considera que os novos dirigentes não querem mudar: “O sectarismo interno, que enfraqueceu o partido e o seu debate democrático, e o sectarismo externo, que tem impedido o Bloco de ser, como sempre quis ser, um factor de convergência e reconfiguração da esquerda portuguesa”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Na sua carta à direcção do BE, Daniel Oliveira resume, logo no início, aquilo que o levou a ser crítico da anterior direcção e agora considera que os novos dirigentes não querem mudar: “O sectarismo interno, que enfraqueceu o partido e o seu debate democrático, e o sectarismo externo, que tem impedido o Bloco de ser, como sempre quis ser, um factor de convergência e reconfiguração da esquerda portuguesa”.
Depois, ao longo de cinco páginas, o histórico militante discorre sobre os motivos concretos da sua saída. O primeiro é a criação da corrente “Socialismo”, proposta por Francisco Louçã, João Semedo e José Manuel Pureza, considerando que será “um partido dentro do partido, que terá a capacidade de definir, sozinho, as principais opções políticas e a “distribuição de cargos” no Bloco (aquilo a que realmente as correntes se dedicam)”. Por outro lado, considera que a nova corrente revela que “o coordenador anterior [Francisco Louçã] não desistiu de continuar a coordenar, sem ocupar o cargo, o Bloco de Esquerda”.
A segunda ordem de razões expressa por Oliveira é a opção política para as eleições autárquicas. Em seu entender, o BE “deveria estar aberto a várias formas de participação executiva autárquica”, incluindo a participação “em executivos que podem ou não ser liderados por outros partidos.” Mas afirma que o partido não só recusa essa estratégia como “a escolha de alguns candidatos obedeceu a lógicas de mera luta interna entre correntes”. O que, diz, terá mesmo levado à recusa de pessoas que “seriam indiscutivelmente uma mais-valia” para se candidatarem pelo Bloco.
Para o fim, Oliveira guarda as críticas mais abrangentes, acentuando a sua já antiga divergência quanto à forma como o BE se deve relacionar com os outros partidos: “Sozinho, o Bloco não chega para a luta que temos pela frente”. “O Bloco só será útil, como instrumento político, se quiser participar em algo maior e se, no seu interior, aproveitar todos os seus melhores quadros”, frisa.
Para o dirigente Pedro Soares, a carta de Daniel Oliveira “não se refere certamente à realidade do Bloco, mas a alguma caricatura do partido que vive na imaginação” do co-fundador. E desconhece a que realidades Oliveira se refere na questão autárquica porque, garante Pedro Soares, “as candidaturas ainda estão em fase inicial de debate”.
Quanto à decisão de abandonar o partido, a direcção afirma ser uma “decisão livre de qualquer militante”. Mas Pedro Soares admite que possa haver algo mais, ao dizer que “a vontade de sair do BE é um acto de liberdade cujas motivações ou interesses o tempo irá clarificar”.
No final da sua carta, Oliveira afirma que não está “no mercado partidário”. Mas também deixa bem claro que não abdicará da sua intervenção cívica com uma formulação aberta: “Apenas quero dedicar todas as minhas energias aos espaços de cidadania fundamentais para a enorme luta que nos espera.”