Namoro numa cadeira de rodas também pode ser violento

Espectáculo de “Era uma vez ... teatro”, da Associação do Porto de Paralisia Cerebral, apresentado esta quinta-feira no auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto

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São mulheres e homens”, diz Mónica Cunha Paulo Pimenta

Violência no namoro entre pessoas com paralisia cerebral acentuada. Eis o mote da peça de teatro “Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura”, construída a partir de poemas de Fernando Pessoa. Sobe esta quinta-feira, dia 28 de Fevereiro, — às 14h30 e às 21h30 — ao palco do auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.

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Violência no namoro entre pessoas com paralisia cerebral acentuada. Eis o mote da peça de teatro “Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura”, construída a partir de poemas de Fernando Pessoa. Sobe esta quinta-feira, dia 28 de Fevereiro, — às 14h30 e às 21h30 — ao palco do auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.

Há 15 anos que o grupo “Era uma vez ... teatro” da Associação do Porto de Paralisia Cerebral mistura utentes e funcionários. Três manhãs e três tardes por semana, ensaios. Duas vezes por ano, uma estreia. Não para fazer terapia, mas para “sensibilizar a sociedade para as capacidades das pessoas com deficiência”.

“Olha-se para as pessoas com grande incapacidade motora como se não fossem mais nada. São mulheres e homens”, diz Mónica Cunha, animadora feita encenadora. “A pessoa, tendo ou não deficiência, tem valores, emoções, sentimentos”, resume Inês, uma das actrizes que se movem numa cadeira de rodas.

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“Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura” a partir de poemas de Pessoa Paulo Pimenta

A deficiência e as relações amorosas

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“Era uma vez ... teatro” mistura utentes e funcionários Paulo Pimenta

O preconceito pode ser profundo. Talvez comece logo na dificuldade de conceber a paixão ou o namoro entre pessoas com deficiência acentuada, como Inês, que precisa de ajuda para afazeres básicos como comer ou tomar banho. Até os familiares tendem a desincentivar ou proibir relações amorosas, observa Mónica Cunha.

Em Portugal, as organizações têm estado concentradas nas “questões mais básicas, como o direito a uma vida decente”, nota Fernando Fontes, professor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Ainda não chegaram à fase dos afectos, da intimidade. O mesmo se poderá dizer da investigação científica.

Será preciso ver o todo. Em 2011, as forças de segurança registaram 28.980 denúncias de violência doméstica. Segundo a Direcção-Geral da Administração Interna, em 42% havia crianças ou jovens a assistir. As crianças com deficiências, lembra, “não estão numa redoma”. Também assistem e também correm o risco de repetir.

O tema parece-lhes tão actual que recuperaram esta peça que estrearam em 2010. Foram muitos ensaios para que hoje esteja tudo a postos. Patrícia explica a motivação, através do sistema Bliss, uma tabela com um conjunto de signos gráficos que se podem combinar para formar palavras: gostar/amor; trabalho; dia/noite. “Quem gosta do que faz é capaz de trabalhar dia e noite”, traduz a terapeuta.