Fundo de Defesa Militar do Ultramar tinha contas oficiais e outras sigilosas
A ligação do Fundo à venda de armas é uma das pistas para o atentado que vitimou Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa.
“A análise feita não atingiu a informação que gostaríamos de ter atingido, algumas das contas que detectámos não existiam em termos legais”, disse aos deputados António Lino Gonçalves Coelho, inspector chefe de Finanças. A ligação do Fundo à venda ou tráfico de armas é apontada como um dos motivos do atentado que, em 4 de Dezembro de 1980, vitimou Francisco Sá Carneiro e o seu ministro da Defesa, Adelino Amaro da costa.
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“A análise feita não atingiu a informação que gostaríamos de ter atingido, algumas das contas que detectámos não existiam em termos legais”, disse aos deputados António Lino Gonçalves Coelho, inspector chefe de Finanças. A ligação do Fundo à venda ou tráfico de armas é apontada como um dos motivos do atentado que, em 4 de Dezembro de 1980, vitimou Francisco Sá Carneiro e o seu ministro da Defesa, Adelino Amaro da costa.
A reconstituição do trabalho realizado há nove anos pela IGF revelou as dificuldades sentidas pelos inspectores na detecção de contas do FDMU. Este fundo, criado na ditadura como “saco azul” para a compra e venda de armamento para a guerra colonial, terá sido extinto em 1980. Ou seja: seis anos depois do fim da guerra e seis anos após a descolonização. Se a sua existência, para além do objecto da sua criação, é um absurdo, o que os inspectores revelaram no Parlamento não é menos estranho.
Assim, da análise feita pela IGF foi apurado que as contas, de 1978 a 80, não foram apresentadas. As últimas a serem reportadas foram as de 1977. E, à data da extinção do FDMU, 551 mil contos foram transferidos para o gabinete Chefe de Estado Maior das Forças Armadas. No entanto, deste facto não se pode depreender transparência.
“Havia fluxos financeiros entre o Fundo e o CEMGF, alguns dos quais destinados exclusivamente a financiar as empresas de armamento”, destacou Gonçalves Coelho. “Outros [dinheiros] saíram das contas bancárias do FDMU e regressaram, mas não sabemos por onde andaram, não sabemos onde o dinheiro foi aplicado”, explicou a inspectora de finanças superior Maria Ferreira Rodrigues. “O falecido é que sabia”, foi a resposta mais comum que os inspectores receberam nas averiguações de 2004.
“Naquele enorme mar de papéis foi-se conseguindo juntar algumas pontas”, destacou o inspector chefe. Quase nunca foram apurados os responsáveis das contas nem foi possível fazer um histórico consistente dos movimentos de dinheiro, porque já tinham sido destruídos.