Mercados torcem o nariz à indecisão política em Itália

Uma clara derrota de Mario Monti, preferido pelos mercados, e o impasse governativo que resulta das eleições leva bolsas a cair e juros da dívida a subir, principalmente nos países do Sul.

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Das eleições legislativas italianas de domingo e segunda-feira não saiu qualquer vencedor claro. Pier Luigi Bersani, do Partido Democrata (de centro-esquerda), venceu as eleições na Câmara dos Deputados, mas não no Senado, o que força o seu partido a uma coligação sem parceiros óbvios e de expectável fragilidade.

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Das eleições legislativas italianas de domingo e segunda-feira não saiu qualquer vencedor claro. Pier Luigi Bersani, do Partido Democrata (de centro-esquerda), venceu as eleições na Câmara dos Deputados, mas não no Senado, o que força o seu partido a uma coligação sem parceiros óbvios e de expectável fragilidade.

O termo “ingovernável” é, aliás, o mais utilizado para retratar o impasse político que saiu das urnas italianas. Será a expectativa de novas eleições que está a afectar mais o desempenho dos mercados internacionais.

“Há uma possibilidade de os italianos se estarem a dirigir novamente para as urnas. No curto prazo, os investidores não gostam da incerteza”, afirmou à Reuters Bem Le Brun, analista de mercado na OptionsXpress, em Sidnei.

Do lado português, Paulo Portas assumiu nesta terça-feira uma postura defensiva. Em Madrid, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros afirmou que é preciso aguardar por novos desenvolvimentos políticos.

Até porque, argumentou Paulo Portas, face àquilo "que ainda nos parece impossível, ou situações impossíveis, os italianos sempre tiveram a criatividade e o talento de transformar em situações possíveis e viáveis".

Posição contrária à de Portas assumiu José António Seguro, que disse estar "muito preocupado" com as consequências dos resultados eleitorais em Itália. “Espero que haja condições para a formação de um Governo com estabilidade porque a Itália é um país muito importante na Europa e porque é necessária mais uma voz à esquerda na União Europeia", afirmou o Líder do PS ao final da manhã.

O primeiro-ministro português preferiu alertar para os riscos sistémicos que o problema italiano pode desencadear na zona Euro. "A estabilidade política, não sendo um valor em si mesmo, é um elemento muito importante nos tempos que estamos a viver - e todos devemos saber tirar boas conclusões disso", começou por afirmar Pedro Passos Coelho.

"Existem elementos de carácter sistémico que não dependem estritamente de cada país mas que têm impacto significativo nas várias economias de cada Estado da zona Euro, em particular naqueles que apresentam resultados mais difíceis, como são os que estão sob assistência financeira ou aqueles que estão sob maior pressão dos mercados", acrescentou o primeiro-ministro, aproveitando para alertar para os "riscos que ainda existem no horizonte", que devem fazer com que se tenha "uma posição de alguma humildade e de algum comedimento".

A Alemanha também reagiu aos resultados. Preocupado com a instabilidade política e a expressão do voto anti-austeridade, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, deixou um apelo: "É essencial e no melhor interesse de toda a Europa que a Itália tenha rapidamente um governo estáve e operacional".

O ministro alemão acrescentou ainda que os responsáveis políticos sabem que a "Itália precisa actualmente de uma política de reformas e de uma política de consolidação".

Queda nas bolsas
As bolsas são as mais prejudicadas nesta manhã. Por volta das 10h25, o índice italiano, o FTMIB, caía 4,57%. A segunda maior queda era do índice de Madrid, que perdia 2,76%, seguido do CAC40, de Paris, que caía 2,06%. O principal índice de Lisboa, o PSI20, perdia 1,7%. Os índices espanhol, francês e português têm vindo a atenuar a sua queda ao longo da manhã. Já em relação ao índice italiano verifica-se um agravamento.

No campo da dívida soberana, as obrigações do Tesouro italiano a dez anos subiram nesta terça-feira para um máximo de 4,877% de juros, face aos 4,839% com que iniciaram o dia. O mercado espanhol é tradicionalmente o que maior exposição tem em relação ao desempenho económico e político em Itália. Os juros da dívida a dez anos de Espanha atingiram nesta manhã os 5,5% no mercado secundário, vindos dos 5,275% com que iniciou o dia.

A dívida portuguesa também disparou com a incerteza política em Itália. A dívida a dez anos no mercado secundário passou para os 6,617% de juros, face aos 6,478% com que iniciou esta terça-feira.

O ministro espanhol da economia reagiu ao salto nos juros da dívida. Citado pelo El País, Luís da Guindos, disse esperar que o aumento seja passageiro, mas reconhece que “a estabilidade política em Itália é importante”.

O mercado asiático também sofreu com a indecisão política italiana. A bolsa de Tóquio encerrou a sessão desta terça-feira a cair 2,26%.

A derrota do preferido dos mercados
O tumulto dos mercados também se deve ao facto de Mario Monti, o conservador italiano e muito bem cotado nos mercados, ter arrancado apenas 10% dos votos de domingo. Monti substituiu Sílvio Berlusconi em Novembro de 2011 como primeiro-ministro italiano, num governo tecnocrático nomeado sem eleições, levando a cabo uma política de consolidação orçamental e austeridade que o tornou no favorito dos mercados. Porém, as suas opções tê-lo-ão prejudicado junto do eleitorado, que votou contra a austeridade.

A entrada em cena de Sílvio Berlusconi também ofuscou Monti. Berlusconi, que obteve 22% dos votos na Câmara dos Deputados, chegou a propôr uma coligação de centro-direita entre os dois. Em 2008, Berlusconi tinha obtido 37,6% dos votos.