Harlem Shake "imoral" pode levar à expulsão de alunos na Tunísia

Vídeo mostra jovens disfarçados com barbas falsas, túnicas e burqas a simularem actos sexuais.

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Milhares de pessoas vão dançar o Harlem Shake em frente ao Ministério da Educação, em protesto DR

Depois de terem divulgado a sua versão do mais recente fenómeno da Internet, os jovens da escola Menzah 6, em Tunes, arriscam-se a ser castigados por ordem do ministro da Educação.

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Depois de terem divulgado a sua versão do mais recente fenómeno da Internet, os jovens da escola Menzah 6, em Tunes, arriscam-se a ser castigados por ordem do ministro da Educação.

No anúncio que fez ao país, através da rádio Mosaique, Abdellatif Abid classificou o comportamento dos alunos como "imoral" – entre os jovens que começam a dançar freneticamente há alguns com barbas falsas e túnicas, numa referência aos grupos salafistas radicais. No centro da imagem vê-se um deles a simular um acto sexual com uma aluna (ou com um aluno) vestida (ou vestido) com uma burqa, o longo véu que cobre a maior parte do corpo das mulheres e cujo uso foi imposto pelo regime taliban no Afeganistão entre 1996 e 2001.

Em resposta, "o Ministério da Educação ordenou uma investigação e irá tomar as medidas adequadas", declarou o governante, que admitiu mesmo a expulsão de alunos e a demissão de professores. Segundo o site da revista Tunivisions, Abdellatif Abid disse que a directora do Liceu Menzah 6 deveria ter consultado a direcção regional de educação ou o ministério.

Se o vídeo chocou o Governo da Tunísia, a decisão de abrir um inquérito chocou os responsáveis da escola e está a gerar uma onda de protestos nas redes sociais. Hafedh Mosrati, professor no Liceu Menzah 6, pediu ao ministro que deixe a direcção da escola resolver o assunto: "Eles gravaram este vídeo sem a autorização da direcção, o que é contra as regras, mas estes assuntos devem ser resolvidos internamente, pelo conselho de disciplina", disse Mosrati, citado pela agência AFP. Na próxima sexta-feira, milhares de pessoas vão dançar o Harlem Shake em frente ao edifício do Ministério da Educação, num protesto convocado através do Facebook.

A decisão do Ministério da Educação chega num momento particularmente delicado na vida política do país. O primeiro-ministro, Hamadi Jebali, da ala mais moderada do partido islamista Ennahda, demitiu-se na semana passada, depois de não ter conseguido apoios para formar um novo governo com personalidade sem filiação partidária. A ideia de Jebali era travar os protestos que se seguiram ao assassínio do activista da oposição Chokri Belaid, no dia 6 de Fevereiro.

Como o seu plano não vingou, Hamadi Jebali viu-se sozinho, sem o apoio do seu próprio partido, e será substituído por Ali Larayedh, até agora ministro do Interior e conotado com a ala mais radical do Ennahda.

A nomeação de Larayedh – que deverá formar um novo Governo em duas semanas – foi duramente criticada pela oposição, a começar pela Frente Popular, partido de que Belaid era secretário-geral: "Esta decisão aprofunda a crise, porque Larayedh chefiava o ministério responsável pela morte de Belaid e pela violência que se alastrou pelo país", disse Zied Lakdar, líder do partido da oposição.

Os islamistas do Ennahda são os mais representados no Parlamento, com 89 dos 217 lugares, mas precisaram de se aliar aos partidos seculares do centro-esquerda Congresso para a República e Ettakatol para formar governo, após as eleições de Outubro de 2011.