A democracia contra a indolência: o caso de Coimbra
O país do bloco central é o país do pântano político, em que a divergência entre os protagonistas políticos é apenas sobre os ritmos e as intensidades e o consenso entre eles é de substância sobre a conservação do marasmo.
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O país do bloco central é o país do pântano político, em que a divergência entre os protagonistas políticos é apenas sobre os ritmos e as intensidades e o consenso entre eles é de substância sobre a conservação do marasmo.
Coimbra é há muitos anos – há anos demais – a expressão triste disso mesmo. A Coimbra do bloco central é Coimbra B e os Jardins do Mondego, a Coimbra do atraso que envergonha e do chico-espertismo que indigna. Refém política do bloco central, Coimbra tem sido profundamente maltratada pela governação municipal e tem desperdiçado, uma atrás da outra, todas as escolhas estratégicas que poderiam resgatar o seu direito a ser o que tem que ser: uma cidade europeia com uma rede de transportes de qualidade europeia, com habitação social de qualidade europeia, com políticas de urbanismo de qualidade europeia, com investimento e estima pela cultura com qualidade europeia, com políticas sociais de qualidade europeia.
As escolhas já feitas para as próximas eleições autárquicas pelos partidos que têm governado Coimbra mostram com clareza o que são as suas ambições. E o que é realmente claro é que, quando mais urgia a coragem de romper com a arrastada lassidão da governação municipal, os seus protagonistas entenderam oferecer à cidade e ao concelho tão só as mesmas políticas e os mesmos rostos. Que os partidos da situação em Coimbra se sintam dispensados de ensaiar uma revisão das suas propostas essenciais para a cidade e que tragam de volta os rostos mais emblemáticos da desqualificação de Coimbra é algo que encaro como pertencendo ao domínio da afronta.
O que mais ofende os e as conimbricenses não é a falta de ambição política, é a política da falta de ambição como política oficial da governação municipal. Algo que as escolhas já anunciadas pelos partidos que têm dominado o município mostram à sociedade querer perpetuar. Há uma rutura por fazer e que Coimbra exige contra esta lassidão: dar à cidade e à sua governação uma cultura de ambição que lhes foi subtraída nas últimas décadas por uma alternância sem alma nem projeto. Uma tal rutura só se fará com uma grande mobilização do melhor que Coimbra tem: o espírito crítico dos cidadãos e cidadãs e a sua dignidade cívica como pilares imprescindíveis do resgate do orgulho local que sucessivas governações municipais desbarataram irresponsavelmente.
Estou plenamente convencido de que muitos e muitas conimbricenses sentem a mesma revolta que eu sinto diante desta indolência auto-satisfeita de quem tem desgovernado Coimbra. E que sentem, como eu sinto, que este é o momento de juntar forças contra todos os sectarismos e de mobilizar toda a inteligência, toda a força social, toda a criatividade em prol de uma cidade culta e inteligente, justa e amiga, séria e transparente, equilibrada, com memória e com ousadia. Uma Coimbra dos cidadãos e das cidadãs, não só de que gostemos mas em que nos dê orgulho viver. Essa alternativa de unidade e de exigência está aí. Chama-se Cidadãos por Coimbra e vem mostrar que a resposta à resignação é sempre mais arrojo e mais democracia.