Hélia Correia vence Correntes d’Escritas e presta homenagem à Grécia
Escritora apresentou o seu livro A Terceira Miséria como uma homenagem à Grécia e “um pedido de socorro” perante “a pressão impensável” que este país – como o nosso – está a sofrer. Festival literário da Póvoa de Varzim decorre até ao fim-de-semana.
O júri do prémio – constituído por Almeida Faria, Carlos Vaz Marques, Helena Vasconcelos, José Mário Silva e Patrícia Reis (que não esteve presente na reunião final do júri realizada na quarta-feira, mas enviou o seu voto) – considerou que o livro de Hélia Correia, “mais do que um conjunto de poemas, é um longo poema construído a partir da matriz clássica europeia para reflectir sobre questões fundamentais do Ocidente”.
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O júri do prémio – constituído por Almeida Faria, Carlos Vaz Marques, Helena Vasconcelos, José Mário Silva e Patrícia Reis (que não esteve presente na reunião final do júri realizada na quarta-feira, mas enviou o seu voto) – considerou que o livro de Hélia Correia, “mais do que um conjunto de poemas, é um longo poema construído a partir da matriz clássica europeia para reflectir sobre questões fundamentais do Ocidente”.
Ao receber o prémio, Hélia Correia assumiu que A Terceira Miséria é “uma homenagem à [sua] Grécia”, e admitiu que esse facto pode ter pesado na escolha do júri. A escritora destacou, de resto, que aquele país – como Portugal – “está a sofrer uma pressão impensável”, e que o seu livro é portador de “uma mensagem muito forte: quase um pedido de socorro, um grito”, a reivindicar e apontar alternativas para a situação dos países que mais estão a sofrer com a crise. “É preciso lançar um grito como o das canções portuguesas a que, por exemplo, José Mário Branco deu expressão: ‘Alevantai-vos!’”, disse Hélia Correia.
O Prémio Literário Correntes d’Escritas/Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros, era este ano destinado à poesia, em alternância com a ficção. E teve como nomeados, para além da vencedora, o brasileiro Ferreira Gullar e os portugueses Fernando Guimarães, José Agostinho Baptista, Manuel António Pina, Armando da Silva Carvalho, Luís Filipe Castro Mendes e Bernardo Pinto de Almeida. A escolha foi feita a partir de 75 obras concorrentes.
Nascida em Lisboa, Hélia Correia – que esta semana tinha já sido distinguida com o Prémio Vergílio Ferreira pela Universidade de Évora, pelo conjunto da sua obra – é formada em Filologia Românica e foi professora do ensino secundário. É escritora, poeta e dramaturga, com uma obra que começou a chamar a atenção no início da década de 80, com a edição de O Separar das Águas (1981). A Casa Eterna (Prémio Máxima de Literatura, 2000), Lillias Fraser (Prémio de Ficção do Pen Club, 2001, e Prémio D. Dinis, 2002), Bastardia (Prémio Máxima de Literatura, 2006) e Adoecer (Prémio da Fundação Inês de Castro, 2010) são alguns títulos da sua vasta bibliografia.
O festival Correntes d’Escritas anunciou também esta manhã outros prémios que actualmente integram o palmarés do evento. Dos 103 trabalhos enviados a concurso para o Prémio Papelaria Locus, destinado a jovens poetas, foi distinguido Inexistência Mental, de Ana Matilde da Silva Gomes. Com o Prémio de Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escrita/Porto Editora foram distinguidos, em primeiro, segundo e terceiro lugares, respectivamente, Na Escola Aprendi ‘Verés’, da escola EB1 O Leão de Arraiolos, em Lisboa; Peixes por um Dia, do Externato Champagnat, também na capital; e Do Azar se Fez Sorte, da EB 1, 2, 3 Augusto Moreno, de Bragança. O Prémio Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’Escrita, para obras sobre a Póvoa de Varzim, e ao qual concorreram 11 trabalhos, foi para Póvoa de Varzim ou o Paraíso Aqui, de Paulo Jorge Coelho Carreira, da Batalha.
Na sessão oficial de abertura, apresentada pelo vereador da Cultura da câmara local, Luís Diamantino, foi também apresentada a revista Correntes d’Escritas, este ano dedicada a Urbano Tavares Rodrigues, que não pôde estar presente, mas agradeceu através de uma curta mensagem lida pela sua neta Sofia Fraga.
Na sucessão de intervenções na sessão de abertura, o escritor Helder Macedo elogiou a “persistência” da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim em organizar esta iniciativa, pondo-a em contraponto com o desinvestimento a que hoje se assiste no país na área da cultura. “Somos um país que é perdulário como só os países pobres como nós o são, e onde há as maiores fortunas e simultaneamente as maiores desigualdades”, lamentou Helder Macedo, que criticou o progressivo desinvestimento governamental na cultura, mesmo se ela é sempre “a coisa mais barata”, e que maior relevo dá ao nosso país, também a nível internacional.
O neurocirurgião João Lobo Antunes profere na tarde desta quinta-feira (15h00, no auditório municipal) a conferência de abertura do festival literário da Póvoa de Varzim, sob o mote Não fazem mal as musas…. Até domingo, sucedem-se as mesas de debate a partir de versos e livros de alguns da meia centena de escritores convidados e presentes na Póvoa de Varzim. Debates, lançamentos de livros, cinema e exposições completam o programa do Correntes d’Escritas.
Notícia actualizada e corrigida às 12h49: corrigida ficção em vez de literatura e Correntes d'Escritas em vez de Correntes d'Escrita e acrescentada mais informação.