“O Mentor”: três actores e alguns momentos

“Magnolia” oferecia aquilo que muitas vezes é necessário para as pessoas se sentirem satisfeitas com um filme: um final definido

Foto
DR

“Magnolia”, o filme escrito e realizado por Paul Thomas Anderson em 1999 cruza as vidas de várias personagens numa história com um clímax de redenção, felicidade, perdão e uma chuva de sapos. Ainda que não apreciado por muita gente, “Magnolia” oferecia aquilo que muitas vezes é necessário para as pessoas se sentirem satisfeitas com um filme: um final definido. Não havia dúvidas: quem estava mal ou morria ou não, quem procurava o amor encontrava ou não, quem estava no carro naquela noite levou com sapos em cima. Preto no branco.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Magnolia”, o filme escrito e realizado por Paul Thomas Anderson em 1999 cruza as vidas de várias personagens numa história com um clímax de redenção, felicidade, perdão e uma chuva de sapos. Ainda que não apreciado por muita gente, “Magnolia” oferecia aquilo que muitas vezes é necessário para as pessoas se sentirem satisfeitas com um filme: um final definido. Não havia dúvidas: quem estava mal ou morria ou não, quem procurava o amor encontrava ou não, quem estava no carro naquela noite levou com sapos em cima. Preto no branco.

Já em “O Mentor”, isso não acontece. O filme termina como que a meio, deixando em aberto infinitas possibilidades sobre como acabaram as histórias do Mestre do culto “A Causa” e do seu pupilo bêbado e errático. Mas, afinal de contas, nem sempre se sabe como as histórias terminam ou, pior ainda, nem sempre têm um final específico. O fim pode ser arrastado, pode ser só um deixar de existir qualquer coisa, pode ser apenas a vida a continuar.

A relação entre Freddie Quell (Joaquim Phoenix) e Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman) é o melhor aspecto deste filme. É assustadora e, ao mesmo tempo, profundamente enternecedora. As duas personagens trocam de posições várias vezes ao longo do processo, num jogo de pura intimidade que mostra a forma incondicional com que o Mestre se rendeu a Freddie. E é também esta relação que desilude o espectador quando vemos que não culmina num final mirabolante. Pensamos que alguém vai morrer. Depois que alguém vai matar. Mas não. E acabamos por perceber que a jóia do filme acontece ao longo do tempo que Freddie e Dodd passam juntos e não quando se separam.

Foto

Em termos de performance, ambos os actores estão nomeados para Óscares e ambas as interpretações são bombásticas e meticulosas. Mas, mais uma vez – e até neste aspecto técnico – a natureza da relação entre Freddie e Dodd sobrepõe-se. Hoffman e Phoenix não lutam por atenção: é o interlaçar das suas performances que ajuda a alicerçar este filme em termos de representação. Aliás, sem este alicerce, talvez não tivesse nada.

O momento da despedida em que Phillip Seymour Hoffman entoa “On a Slow Boat to Chine” para o seu discípulo é capaz de ser dos momentos mais poderosos do filme. A sua cena com Amy Adams no quarto de banho também é absolutamente esmagadora. O momento em que Dodd e Freddie estão na prisão é muito genuíno e, finalmente, quando Freddie Quell vai à procura do seu amor e encontra apenas um memória desvanecida. Todos estes momentos são atirados para a excelência graças à mestria com que são interpretados.

Paul Thomas Anderson trouxe-nos um filme sobre uma América pós Segunda Guerra Mundial, uma América sob o efeito de esteróides, que procura desesperadamente por significados, motivos, caminhos. Exactamente como Freddie Quell que procura, apenas, alguém que o ame e o aceite. Apesar de uma história pungente, um cenário histórico interessante e personagens estimulantes, "O Mentor” deixa algo a desejar. Já os actores, nada.