Crise demonstra que a experiência neoliberal fracassou, diz Silva Peneda
“Os consumidores não consomem, os produtores não produzem, as financeiras não financiam e os trabalhadores não têm trabalho”. É preciso tirar lições da crise, alerta o presidente do CES.
Silva Peneda, que falava na conferência “Global Compact Network Portugal” sobre a responsabilidade social das empresas, sublinhou a importância da dimensão ética, cujo afastamento no sector financeiro levou à crise.
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Silva Peneda, que falava na conferência “Global Compact Network Portugal” sobre a responsabilidade social das empresas, sublinhou a importância da dimensão ética, cujo afastamento no sector financeiro levou à crise.
Segundo o presidente do CES, a situação actual é exemplo de como, “com a ausência de princípios éticos, um sector pode arrastar milhares de empresas e cidadãos para um mundo de dificuldades”.
Para Silva Peneda, há lições a tirar “desta crise perfeita, em que os consumidores não consomem, os produtores não produzem, as financeiras não financiam e os trabalhadores não têm trabalho”.
O presidente do CES é peremptório a afirmar que “a época da experiência neoliberal fracassou e a suposta auto-regulação do mercado é apenas uma teoria sem qualquer correspondência com a realidade, porque o mercado não é capaz por si só de se auto-regular e daí que a intervenção dos poderes e das políticas públicas seja decisiva”.
Por outro lado, reconhece que “foi excessivo o papel desempenhado pelo sector financeiro nos últimos tempos, sendo o principal responsável pela situação gerada e por isso deve ser restruturado, tornando-o mais transparente e ao serviço da economia real”.
Considera mesmo que essa “é uma obrigação económica, política e, sobretudo, moral: há que penalizar a especulação e favorecer o investimento produtivo, ou, dito de forma simples, há que colocar o dinheiro ao serviço de quem cria riqueza e emprego”.
Revisitando as origens da crise, Silva Peneda referiu que a forma encontrada para resolver o problema gerado no sector financeiro foi “transformar os estados em gigantescas companhias de seguros, que tentaram cobrir os riscos”, o que levou a “uma clara interdependência entre a crise financeira e a intervenção do Estado que, de forma directa ou através de credores, foi transferindo para os cidadãos e para as empresas o custo de erros e imprudências cometidos pelo sistema financeiro”.
Os estados mais débeis, como Portugal, foram os primeiros a sentir as consequências, “também por causa de erros e desvarios cometidos internamente”.
O presidente do CES reconheceu que o actual quadro não favorece a preocupação das empresas com a sua responsabilidade social, mas salienta que é preciso pensar a médio prazo porque “no fim de qualquer crise nunca se regressa ao ponto de partida”.
“As empresas quando curam os aspectos que se relacionam com a sustentabilidade, integridade e relacionamento com a comunidade em que se encontram inseridas, podem acrescentar valor ao processo de inversão desta crise e ao mesmo tempo contribuir para um crescimento sustentável”, concluiu.