Igreja encerrada há 30 anos nos Açores reabre como Museu do Franciscanismo

Nova estrutura museológica servirá simultaneamente de centro interpretativo e de estudo da presença franciscana no arquipélago.

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A reabilitação do templo do século XVII, propriedade da Santa Casa da Misericórdia, resulta de um protocolo estabelecido com a Câmara Municipal da Ribeira Grande, que passou a ser responsável pela sua utilização para o transformar em museu. “A igreja estava muito degradada e esteve encerrada ao culto durante 29 anos”, conta Ricardo Silva, o presidente da autarquia que levou a cabo o projecto de recuperação desta “pequena jóia”.

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A reabilitação do templo do século XVII, propriedade da Santa Casa da Misericórdia, resulta de um protocolo estabelecido com a Câmara Municipal da Ribeira Grande, que passou a ser responsável pela sua utilização para o transformar em museu. “A igreja estava muito degradada e esteve encerrada ao culto durante 29 anos”, conta Ricardo Silva, o presidente da autarquia que levou a cabo o projecto de recuperação desta “pequena jóia”.

A recuperação do edificio, orçada em cerca de meio milhão de euros, contemplou o exterior e "o importante património interior", como retábulos datados da fundação da igreja e imagens que relatam a história de São Francisco, acrescenta o autarca. Assim foi possível recuperar "um valioso património", como uma pintura que, segundo os especialistas, "vem a ser o quarto exemplar do país dedicado à devoção a Santa Úrsula" e ainda a chamada imagem de “Cristo atado à coluna”, que retrata o denominado momento da Paixão.

O museu, sublinha Ricardo Silva, pretende ser um local onde as pessoas possam interpretar a filosofia, a mística e os princípios da vivência franciscana, bem como a importância do franciscanismo, quer no povoamento, quer no desenvolvimento dos Açores”. É também seu objectivo, acrescenta, continuar a salvaguardar o património imaterial referente às actividades da Ordem dos Terceiros, designadamente responsabilizando-se pela recolha de testemunhos e de registos visuais da procissão e dos seus preparativos, de forma a assegurar a continuidade da sua divulgação no contexto expositivo.

A presença de franciscanos nos Açores data dos primórdios da ocupação insular, quando estes se instalaram na ilha de S. Maria, em 1446, tornando-se pastores da primeira igreja mariense, invocada a Nossa Senhora da Conceição, recorda Susana Goulart Costa, da Universidade dos Açores. Entre finais do século XV e meados do XVII, a comunidade franciscana edificou 18 mosteiros em todas as ilhas, excepto no Corvo: seis em São Miguel, três na Terceira, dois em S. Jorge, dois no Pico e no Faial, e um em Santa Maria, na Graciosa e nas Flores. Segundo a investigadora, na Ribeira Grande, a fundação do Convento dos franciscanos está ligada ao desenvolvimento populacional e urbano da costa norte de S. Miguel. Em 1592, Gonçalo Alvares Batateiro e sua mulher, Inês Pires, conseguem licença do bispo de Angra, D. Manuel De Gouveia, para construírem uma ermida sob a invocação de Nossa Senhora de Guadalupe.

A partir de1612, a ermida seria ampliada e anexada a um convento, inaugurado na década de 1620. A partir de então, o espaço foi sendo ampliado, “fruto de várias doações, pois o seu crescimento era necessário para garantir a subsistência dos 30 religiosos que já lá residiam na primeira metade do século XVIII, os quais se ocupavam em actividades pastorais, evangélicas e pedagógicas. Com a implantação do liberalismo, as ordens religiosas foram extintas em1834 e, em consequência, os frades viram-se obrigados a abandonar o edifício”, descreve Susana Costa.

Neste período, a Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, tendo em atenção que o ex-convento se encontrava desocupado, solicitou à Rainha D. Maria II a concessão do mesmo, para instalação do seu hospital. O pedido foi satisfeito em 1839, ficando a Santa Casa como sua proprietária. Todavia, ao longo dos séculos, a estrutura do templo foi ficando muito debilitada.

A transferência da sede da Misericórdia da Igreja dos Frades para novas instalações na Rua da Conceição, em 1986, agravou ainda mais o estado do edifício, cada vez mais esvaziado de funcionalidades religiosas. A sua reabertura, como museu, será também assinalada pela câmara, em parceria com a Santa Casa da Misericórdia e a Paróquia da Conceição, com a realização, no próximo domingo, da procissão do Senhor Santo Cristo dos Terceiros, que passará a sair anualmente da igreja original, sendo composta por dez andores que relatam a história de São Francisco e dos santos franciscanos.