Vasco Graça Moura quer ver os governos a valorizar novamente as humanidades
Em entrevista à Antena 1 no dia em que se celebra o 50.º aniversário da edição do seu primeiro livro de poemas, o presidente da Fundação CCB anuncia programas de sensibilização para o património da cultura universal
Em entrevista à Antena 1 no programa da jornalista Maria Flor Pedroso, para assinalar o cinquentenário da sua vida literária, Vasco Graça Moura descreveu a situação actual do país como “tempos de grande conflito, de grande risco político e social, de grande dificuldade, que criam aspectos de catástrofe em muitos aspectos da vida individual e colectiva”. E nesse contexto, falando sobre a Cultura, o poeta explicou que mantém a sua posição, muito discutida há uma década, contra a chamada “subsídio-dependência” : “Não tenho uma vírgula a alterar.” Mas está ciente de que a actual situação deve modular a perspectiva política sobre a intervenção pública no apoio à Cultura.
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Em entrevista à Antena 1 no programa da jornalista Maria Flor Pedroso, para assinalar o cinquentenário da sua vida literária, Vasco Graça Moura descreveu a situação actual do país como “tempos de grande conflito, de grande risco político e social, de grande dificuldade, que criam aspectos de catástrofe em muitos aspectos da vida individual e colectiva”. E nesse contexto, falando sobre a Cultura, o poeta explicou que mantém a sua posição, muito discutida há uma década, contra a chamada “subsídio-dependência” : “Não tenho uma vírgula a alterar.” Mas está ciente de que a actual situação deve modular a perspectiva política sobre a intervenção pública no apoio à Cultura.
“Estamos numa situação de tal maneira difícil que quando um chefe de família tenha de optar entre comprar um caderno para um filho para uso escolar ou comprar um bilhete para o cinema ou para o teatro, e compra o caderno porque não tem meios para fazer as duas coisas, alguma coisa está em perigo e talvez precise de uma atenção diferente por parte do poder público”, disse na rádio pública.
“Há coisas hoje no plano do espectáculo, da música, do teatro que se arriscam a desaparecer porque deixa de haver qualquer possibilidade da sociedade civil de acorrer a elas pagando e sei que os responsáveis políticos têm isso presente”, acrescenta citando a Lei do Cinema e de apoios à produção que, “embora com valores exíguos”, enquadra num esforço para tentar suprir algumas falhas na oferta cultural em consonância com o momento do país - e com menores orçamentos. “No CCB estamos a procurar conjugar cada vez mais o concurso de intérpretes portugueses na área musical, estamos a criar uma série de programas ligados às humanidades e a temas de cultura de acesso gratuito ou quase gratuito”, do fado à arquitectura, exemplificou.
Reiterando que “não quereria ser responsável político da Cultura” e questionado sobre a sua defesa da importância das humanidades nos currículos escolares, Vasco Graça Moura disse ter apresentado ideias sobre o tema ao Governo e às universidades com faculdades de Letras, que foram “bem recebidas”, estando agora “a tentar desenvolver um figurino, um modelo" para as operacionalizar.
No mesmo campo e no final de 2013, Graça Moura “gostaria de desencadear a partir do CCB um conjunto de programas” para realçar a importância do “contacto com as grandes obras do nosso património cultural” e que influenciassem os governantes “a estimular” a intensificação desse contacto. “Não se trata de desenvolver uma política, trata-se de criar condições para que as pessoas se apercebam da importância” desses conteúdos e legado, criticando os programas escolares portugueses que afastam “os grandes autores”, de Gil Vicente a Shakespeare, “um divórcio quase total” de Portugal com “as grandes obras do património universal”, querendo que elas cheguem aos alunos do secundário e do ensino superior, “mesmo por parte dos que seguirem uma formação académica mais especializada”.
Descrevendo-se como um político “intervalado”, o portuense fundador do PPD-PSD disse na manhã desta quinta-feira que, olhando para a década do seu percurso dedicada ao Parlamento Europeu e o trabalho sobre os programas-quadro cultura 2007-2013 e anteriores, considera que “talvez se tenha apoiado, ajudado mais o desenvolvimento de uma certa burocracia, de uma eurocracia no plano da acção cultural do que outra coisa”.
Apoiante de Paulo Rangel na corrida à liderança do PSD, Graça Moura diz ver no primeiro-ministro Pedro Passos Coelho uma “coragem muito grande para enfrentar os problemas”. Mantendo a admiração pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, lamenta a sua concordância com o acordo ortográfico, que “censura”.